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COV11

Covo, excerto 11

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Arquibaldo

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INF Mas sabe o que foi? Eles depois escolheram as terrinhas que estavam melhores, mais bem feitas, mais preparadas nas folhas, melhores, eles ficaram com elas. E eu fiquei com aquilo que eles não queriam. Mas eu, que é que eu fiz? Fi- [vocalização] Cultivei-as, preparei-as

INQ1 Ficaram como as outras?

INF Olhe, eu, eu ficaram melhores!

INQ1 Ficaram?

INF Eles, eles podem-me dar duas folhas das deles, que eu não dou uma das minhas. "Ah, mas o meu irmão"! Olhe que eu alevantava-me de noite para à quê? , para às quatro horas, quando se visse, e ia p- e ia para o, para o a gente é surribar! fazer leiras, fazer bocados.

INQ1 Surribar é fazer aquilo que está ali?

INF Pois.

INQ1 Preparar aqueles terrenos é surribar?

INF É surribar.

INQ1 É o primeiro trabalho que se faz?

INF É. É surribar. Suponhamos isto aqui: começa-se a surribar, faz-se um bocado, pronto, é surribar.

INQ1 É surribar, portanto, é limpar das

INQ2 É tirar as plantas, as

INF Isso, isso, isso. E eu agarrei-me àquilo, comecei a trabalhar, a trabalhar Andei na floresta olhe que botei a Padruça, vim ali à Feixa adonde a casa da água , andei por . Mas quê? Olhe, eu ganhava naquele tempo quinze escudos. Eu e todos.

INQ1 Pois.

INF Era o meu ordenado era quinze escudos. Ora ganhava quinze escudos, ia comprar o milhito, ia comprar o milho para para moer, para co- para cozer para comer, ao fim de [vocalização] quatro, cinco dias, um alqueirito de milho [vocalização], começava a minha mulher: "Ó Arquibaldo! Ai Jesus! temos três broas"! " temos quatro broas"! e eu, pronto. "E agora onde é que vamos buscar o dinheiro"? E juros em cima de mim! Chegava-se a um ano passava-se num instante , os juros a sete por cento

INQ1 Pois.

INF Eu ia arranjando, poupo daqui um bocadito, chegava , não Nunca deixei juntar os juros. Ia pagando, pagando, pagando, fui. Depois aborrecemo-nos com um guarda que havia aqui, [pausa] aborreci-me , e fui e disse: "Pronto! Vou deixar de de andar na floresta". Agarrei-me então à agricultura, fiz [vocalização] uma quinta, olhe, dacolá daquesses, em direcção daquele posto de [vocalização] telefone, naquele naquele corte que tem aquela Chamam aquilo

INQ1 Não estou a ver. Aonde?

INF [vocalização] Aqui à nossa frente.

INQ1 Aqui mesmo?

INF À frente daquele meu bocado grande, em cima, em cima. Não tem na frente [vocalização] daquele bocado grande, não tem ali uma u-, u-?

INQ1 Umas couves?

INF Não, não. Ele não é as couves. As couves é ainda mais para cima. É fo- fora da parede, não tem ali

INQ1 Sim.

INF um um? Chamam a gente aquilo uns carrasqueiros.

INQ2 Sim.

INQ1 Sim.

INF Dali você uma quinta que eu fiz em baixo,

INQ1 Rhã-rhã.

INF que dá-me noventa alqueires de milho e dá-me duas pipas de vinho.

INQ2 Mas

INF Surribei aquilo tudo de noite!

INQ2 Ah!

INF Tudo de noite!

INQ2 Mas a terra era sua?

INQ1 E o senhor sozinho?

INF A terra é minha.

INQ1 E o senhor sozinho?

INF Sozinho.

INQ1 A sua senhora não o ajuda? Portanto

INF Coitada! Ela, ela Ela cuidava cuidava das vaquitas

INQ1 Pois.

INF e do m- e do meu filho, que hoje é um homem . Era pequenito!

INQ1 Pois.

INF E ela, coitada, fazia as voltitas, fazia-me o comer e ia-mo levar

INQ1 Claro. Mas aqui as mulheres também trabalham na terra, ou não?

INF Então não trabalham?! Ai, minha senhora, trabalham mas trabalham! Mas é a trabalhar, não é a dizer que [vocalização] Trabalham. Trabalham até bem muito! Depois eu agarrei-me àquilo, comecei a surribar, comecei a meter gadito [vocalização] Tinha vacas, uma bezerrita; depois comecei a ter duas vacas, depois passei a três, passei a quatro, foi indo, foi indo, foi indo, aquilo começou a aumentar, o meu filho criou-se! Foi a [vocalização] Foi para a tropa assentou praça em Aveiro, foi para Viseu Olhe, quando arrebentou aquilo na Angola,

INQ1 Sim.

INQ2 Sim. Em se-

INQ1 Em sessenta.

INF estava ele mobilizado para . Estava ele mobilizado para . E eu arranjei com uma senhora em Viseu, [pausa] a senhora Berenice, [pausa] e ele mandou-me uma carta Naquele tempo nem havia telefone, nem havia nada, e ele que me mandou uma carta: "Pai, venha-se [vocalização] venha-se despedir de mim, que eu vou [pausa] segunda-feira" Isto foi numa sexta-feira. "Que eu segunda-feira vou para a vou para fora, vou para a Angola". Ai, meu Deus! aquele filho! Agora é que ela está Bem, e aqui n- no povo quan- Eu tenho dois dias de água durante a semana. Dois dias de água. Mas naqueles dias de água, ninguém rega um talhadoiro de água senão eu. Naqueles dois dias, a água é minha! Ninguém Ninguém vai regar. A água [pausa] é toda minha. Olhe, quer ver, e eu fui: [pausa] "Ai, isso agora como é que vai ser"? Mas o pedido dele, do meu filho, era um padre que havia em Manhouce, que é o padre Artur, era primo do Governo Civil de Viseu.

INQ1 Rhum-rhum.

INF E eu fui, mandei a minha mulher, disse: "Vai , , , , vai vai ao [vocalização] a Manhouce e vai ter com o padre e diz ao padre que para Viseu, que o moço que vai embora" isto foi numa sexta-feira , "que segunda-feira que ele que vai embora. Que eu, [pausa] acabo de regar esta água" E fui por aqui abaixo, fui a Padruça, passei à ponte de Teixeira Ah, eu a chegar à ponte de Teixeira e a camioneta a chegar; se eu demorava um bocadito, até urinar, não não apanhava a camioneta.

INQ1 Pois, pois, pois.

INF Todo molhadinho! Cheguei , entrei para dentro da carreira, fui para Viseu. Cheguei a Viseu, [pausa] fui ao quartel. Eu a chegar ao quartel e o padre e o Governo Civil a sair do quartel para fora. Saíram do quartel para fora, digo eu assim: "Ó senhor abade, então"? Diz ele: "Ó Arquibaldo, [pausa] ninguém acode ao teu filho"! O Governo saiu, esse não me ligou nada; caminhou o caminho dele e o padre ficou, a conversar mais eu: "Olha que ninguém acode ao teu filho. Vai e vai mesmo! Mas que há-des tu fazer?! Tem que se confortar" e tal, tal. Aquelas conversas a mim não, não não gostava delas. Pois claro.

INQ1 Pois. Claro.

INQ2 Pois claro.

INF Depois eu vou assim: "Ai, agora como é que me aca- acabam de vez com ele"! Digo eu assim Olhe que eram quatro horas e eu em jejum. Quatro horas da tarde, [pausa] ali em Agosto, e eu em jejum! Ai Jesus! Digo assim: "Ó senhor abade, eu quero comer". Diz ele: "Olha que eu também estou com o café". "Então vamos , vamos comer". Por sorte, entramos assim, atravessava-se uma rua, e estava ali um restaurantezito, um uma coisa mais [pausa] pobre. Estava ali. Estava Veio ali uma rapariga muito linda servir-nos. E eu disse para ela assim: "Olha , tu não sabes aqui quem é que em Viseu pode dar um jeito a um rapaz [vocalização] que está para ir para fora e esse homem é é o único filho e e se ele vai embora, que há-de ser de mim e da minha mulher"? Diz ela assim: "Olhe", chegou-se, agachou-se assim [vocalização] o padre estava dacolá [pausa] da mesa e eu estava aqui , ela [vocalização] chegou-se a mim: "Olhe, tem aqui uma senhora, que é a senhora Berenice, se essa não lhe valer, não vejo quem é que lhe vaila". Digo eu assim: "E onde é que ela mora"? "Olhe, você aquela porta enviscou-se assim um bocadinho , olhe, aquela porta, você p- àquela porta e assuba. No segundo andar, à direita, ela mora ". Digo eu assim para o padre: "Ó senhor abade, . Vamos ". E o padre: "Não, não. Eu não vou . você"! Eu não comi. Che- Estava a comida no não comi! Estava ali, atravessei a rua, subi por ali fora, pela escada fora, tumba, tumba, tumba, cheguei , à direita, estava a porta. Eu [pausa] carreguei no botãozito: trrr, a campainha Ela veio à porta uma senhora muito linda! Ai que senhora linda! [vocalização] À porta, abriu assim um bocadinho da porta: "O senhor o que é que quer"? Nunca me tinha visto de mais lado nenhum e eu a ela também não. Disse: "Olhe, aqui não é que mora a senhora Berenice"? Diz ela: "É, sim se-. É. O senhor o que é que lhe quer"? "Olhe , está um um filho meu está para ir para fora, e tem tudo [pausa] coisa, e eu [pausa] queria ver se a senhora lhe dava algum jeito para ele não ir". Diz ela assim: "Ai, [pausa] quem é que o mandou para aqui? Eu não me meto nisso"! Digo eu: "Ó senhora Berenice, você, a senhora, não me a- não me faz isso porque não quer. [pausa] Porque a senhora podia-me valer [pausa] ou [vocalização] valer ao meu filho". Diz ela assim: "Pois é, mas eu, não, não, não nisso"! Mas começou a abrir a porta e ficou à vontade como a senhora está mais eu.

INQ1 Pois, pois.

INF Começou a conversar, diz ela assim: "Olhe" Estive eu a contar-lhe, que era aquele filho e que tinha aquele filho e [vocalização] que e que é que havia de ser de mim a mais a minha mulher que era uma mulher doente e é. E aonde diz ela assim: "Mas não, então eu que faço"?! Mas ela ouviu, ouviu , ouviu e eu tanto lhe pedi, e ela, diz ela assim: "Olhe, você vai hoje embora"? E eu disse: "Não, senhora Berenice". "Você onde é que vai ficar"? Disse: "Olhe, eu fico aqui nessa pensão da senhora Bernardete". Diz ela assim: "Olhe, você logo quando for dez e um quarto ou dez menos um quarto apareça aqui, que eu, eu digo-lhe qualquer coisa". Eu fiquei todo contente! a minha o meu coração parece que ficou mais à vontade.

INQ2 Pois.

INF Depois [pausa] eu fui para dentro e e o meu a minha comida estava e o padre ainda estava a comer. Diz a [vocalização] cachopa: "Então"? Disse: "Olha, foi assim, assim". " não vai fora. [pausa] Você vai ver que o seu filho não vai fora". Digo assim: "Se ele não for fora, se ele for que não fora, dou-te dois contos". Diz ela: "Estão ganhos". Digo eu assim: "Pois e-, e eu e eu que tos dou "! Diz ela: "Não, não. Você, logo, então, ela mandou-o ir, você logo vai ". A cachopa me preparou uma cama e disse: "Olha eu vou venho ficar aqui". "Está bem! Olhe, o seu quarto vai ficar ali". E eu e a cachopa Muito boa rapariga! E eu fui, quando foi dez e um quarto, dez menos um quarto, chegou uma miudinha que estava mais ela, quando eu que estava a falar com ela, uma miudinha pequenina, assim para com uns cinco anos, quatro, cinco anos , e a cachopi-, a menina, atravessava a rua, atravessou assim a rua e chegou : "A madrinha disse que o senhor viesse ". [pausa] Fui logo atrás da miudita. Cheguei , estava o tenente-coronel, [pausa] o tenente-coronel.

INQ2 Oi!

INF Estava assentado. Era amigo dela. Assentado! Ela era Ela era solteira.


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