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CPT21

Carrapatelo, excerto 21

LocalidadeCarrapatelo (Reguengos de Monsaraz, Évora)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Hermes

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INQ1 Ah, mas tem muito valor as coisas que o tio Hermes faz. Eu acho que tem.

INF Eu não lhe sei dar o valor. Não sei. Porque eu Tanta vez que eu falo e depois está um ou outro a dizerem assim: "Isso, ele são parvoeiras"! Tantas vezes que me dizem isso! Daqueles que não são capaz de abrir a boca sequer ao de menos.

INQ1 Pois. São sempre esses que dizem as coisas, porque as pessoas que sabem o valor que as coisas que o tio Hermes faz, não, não dizem isso, não é?

INF Pois. Pois. Pois.

INQ1 Portanto

INF Conforme pessoas que me dão valor! Pois. mesmo pessoas conhecidas que dão valor ao que eu digo. Mas é o menos. no sítio é o menos. Na sua terra ninguém é perfeito.

INQ1 Pois. Sempre foi assim.

INF Pois. É claro.

INQ1 Portanto, não

INF E eu agora isto me custa muito.

INQ1 Rhum-rhum.

INF E dantes nem que ele fossem três dias com três noites, tudo pegado, não não me fazia diferença.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Não me fazia diferença. Não senhora. Não me fazia diferença. Eu cantava noites inteiras e dias e [vocalização] e sempre para a frente. Quanto mais cantava, mais a fala aclarava. Eu [pausa] se estava três ou quatro dias sem cantar, quando começava a cantar, a fala estava assim tosca qualquer coisinha. Mas depois, quando era ao fim de meia hora de cantar, [pausa] não havia quem quem tivesse uma fala que igualasse a minha. Não senhora. Eu passava para diante a tudo.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Eu tenho mágoa até de estar assim. Sim senhora. Eu hoje vivo magoado, saber o que eu era e o que eu estou! Eu vivo magoado! Muitas das vezes, peço a morte. O meu irmão morreu questão de um mês ou dois, eu é que devia ter ido. Porque eu sou um homem sozinho e ele tinha mulher e tinha filhas que o acareavam. E eu sou um homem sozinho. Tenho aquela irmã que olha qualquer coisa por mim. Mais nada. Ela é boa pessoa, pois, é boa pessoa. Isso então tem ela. É boa pessoa. Aquilo também chegou ali e parou. Mas nunca teve esta habilidade que eu que eu tenho tido.

INQ1 Pois, pois.

INF Nem o meu irmão. O meu irmão cantava bem, cantava bem. Mas para fazer coisas, para fazer versos, ou isto, não. Não tinha Não tinha condições para isso.

INQ2 Pois, pois.

INF Pois. Isto foi uma coisa que nasceu comigo, não sei de que maneira. Se [pausa] eu sou nascido de duas gerações quais delas piores para cantarem e fazer versos Do lado da minha mãe tinha as minhas tias: não havia quem as vencesse; e do lado do meu pai tinha uns primos primos direitos dele , que também não havia quem os vencesse.

INQ1 Pois.

INF Pois. Agora [pausa] , a bem dizer, nenhum sabe nada.

INQ1 Pois, às vezes vai da

INF Os que s- Os que eram assim morreram. O meu pai também cantava mas não era especialidade.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Mas também cantava.

INQ1 Pois.

INF Tinha uma fala muito forte! Ele [vocalização] Ele entoava , entoava léguas [pausa] nesses campos. Às vezes andava [vocalização] com uma parelha a lavrar o campo, começava a cantar, entoava léguas.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Mas não era cante muito bem feito, muito bem feito. E nunca teve [pausa] a [vocalização] assim a ideia que eu tenho, porque eu, eu mesmo fazia os cantes. Pois.

INQ1 Pois, pois. A música e tudo.

INF Eu fazia os cântigos. Vinham um grupo de pessoas tanta vez! , vinham grupos de pessoas aqui à minha casa ainda a minha mãe era viva , vinham aqui, pediam-me um cante e uns versos e eu fazia-os, para eles cantarem, para eles depois irem cantar por essas aldeias.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Pois. Sim senhora.


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