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FIG24

Figueiró da Serra, excerto 24

LocalidadeFigueiró da Serra (Celorico da Beira, Guarda)
AssuntoO moinho, a farinha e a panificação
Informante(s) Ascensão Aparício

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INQ Em cima, o moinho tem duas, tem dois pisos, tem dois andares. Onde sai

INF1 Pois é. É a e o .

INQ Exacto.

INF1 E E depois [vocalização] para se, para para andar a , tem que estar a a segurelha [pausa] de cima do .

INQ Exacto. Sim senhor.

INF1 E depois onde segura a segurelha é, chamam aquilo o veio.

INQ Rhum-rhum.

INF1 É um veio.

INQ Sim senhora.

INF1 E [vocalização] E depois o veio tem que segurar no no lobete, [pausa] naquele naquele caixito que [vocalização] que tens que me ajeitar.

INQ Está bem. E aquela caixa onde a senhora põe o grão?

INF1 A moega.

INQ E da moega

INF1 E depois da moega para baixo tem a a caneleira. E depois

INQ A caneleira que deixa cair o grão aonde?

INF1 [vocalização] Depois é que tem o chamadouro para para puxar [vocalização] o grão da caneleira para cima da .

INQ O chamadouro é um pauzinho que fica a bater, é isso?

INF1 É. viu? Eu trago-a a andar. Eu vou para baixo, se quiser ver.

INQ E, e na , a senho- A senhora chama ou pedra? Aqui qual é o nome que se mais?

INF1 Nós, é a .

INQ É a .

INF1 É a .

INQ E a de cima, a que anda?

INF1 A de cima é a e por baixo é o .

INQ É o . E à volta do e da não havia uma, uma armação que era para o, para a farinha não, não sair para os lados?

INF1 Ah, pois, é isso. Mas [vocalização] eu agora, [pausa] senhor, não tenho ninguém. É este filho meu.

INQ Sim.

INF1 E agora todo o Verão a parou. E eu agora até fui buscar além um bocadito de cimento para lhe para lhe tapar os buracos, para não ir a farinha para o para o ba- cabouco.

INQ E Para o cabouco? Então, o que era o cabouco?

INF1 Olhe, me lembra uma vez Lembra [vocalização]? este senhor. Trazia a a andar e ch- quando cheguei, três alqueires de pão, quarenta quilos, estavam tudo todos na levada. , [pausa] Não tinha nada.

INF2 Estava tudo na levada, foi. Na levada. Na levada.

INQ Pois.

INF1 Foi-me tudo para a para o cabouco. [vocalização] Eu acabo com aquilo.

INQ O que era o cabouco? Diga, diga-me o que é o cabouco.

INF1 O cabouco é onde sai a água. Chamam nós aquilo o cabouco.

INF2

INQ Sim senhor.

INF1 Sabe o que é? É o que é, o cabouco.

INQ É isso. E aquele buraquinho da onde cai o f-, a farinha? Dá-lhe algum nome?

INF2 Tremonhado.

INF1 Não. Aquilo é, é o é o buraco [pausa] da .

INQ o buraco.

INF1 Pois.

INQ E depois aquele sítio onde cai a farinha em baixo?

INF1 Não é Não é o tremonhado?

INQ E à frente não costumava pôr um pano ou uma coisa assim?

INF1 Está . [pausa] O panal.

INQ Como é que cha- É o panal. Sim senhora.

INF1 que sabe tudo?!

INQ Não. Eu quero saber é os nomes. Não, não, não, não.

INF1 O senhor também viu alguma Ou algum.

INQ Mas eu queria-lhe perguntar

INF1 Ele sabe tudo!

INQ Da levada A levada é aquilo que traz a água directamente da ribeira ou a senhora não fazia uma parede na, n-, na ribeira para

INF1 Tem que estar. O ano passado quando veio este nevão grande , para aqui, caiu caiu muita neve em cima dos [vocalização] salgueiros que estavam, aquilo [vocalização] baixou. E a levada depois [vocalização] E depois ainda disseram que criasse quisesse aquilo encanado, mas não ninguém quem faça nada e acaba com o produ-. Vão acabar com tudo.

INQ Havia alguma coisa que chamasse aqui a açuda?

INF1 É, pois. É o açude.

INQ É o açude?

INF1 É a nossa açude, mas é ao cimo.

INQ É ao cimo da levada?

INF1 É ao cimo da levada. Ao cimo é que é o açude, onde se tapa a água da ribeira. Em primeira primeiro havia guarda-rios; agora, se temos governo, [pausa] não .

INQ Sim senhor.

INF1 Eu queria que o governador viesse ao de mim.

INQ Que era para lhe dizer umas coisas, não era?

INF1 Era, era. queria. Ó senhor, eu não sei nadinha! Sou uma parvita que estou aqui nesta área. Mas tenho [pausa]

INQ Não é nada parvita

INF1 sessenta e sete anos mas olhe que digo-lhe eu: se temos governo, não é para todos.

INQ Diga-me o seu nome e a sua idade, que que disse

INF1 Eu tenho sessenta e sete anos.

INQ E o seu nome?

INF1 E o meu nome é Ascensão.

INQ E é sempre de E é de ? Sempre trabalhou por ? E sempre no moinho?

INF1 Olhe, eu t tenho pena em aqui estar.

INQ Rhum-rhum.

INF1 Tenho dois filhos na França e eu, se estivesse [vocalização] boa, é que ele aquele hoje estava ao deles, não estava aqui.

INQ Pois.

INF1 Se não fosse este filho meu [pausa]

INF2 Está melhor a gente aqui.

INQ Também.

INF1 eu tinha até desertado, nem estaria neste lugar, aqui onde estou, senhor.

INQ Sim senhor. E depois a senhora estava a falar na levada e depois falou-me na cal-, cala?

INF1 Pois. [vocalização] É. Em cima é a açude, que vem pela ribeira abaixo e tapa-se a açude.

INQ Sim.

INF1 E depois vem a levada toda. Uma comparação: aqui é a açude.

INQ Sim, sim, sim.

INF1 E vai a levada até além àquela mata.

INQ É.

INF1 E depois além é que vem a levada e a água encaixa na cale.

INQ Na cale. E aquela parte mais apertada da cale onde, por onde sai a água mais apertada?

INF1 É o fecho.

INQ O?

INF1 O fecho.

INQ Fecho. E depois quando a senhora quer

INF1 Está, está É a uma chave que tem.

INQ É uma chave? Que é para, para parar de moer?

INF1 Tem [pausa] Uma chave que a gente alarga-a, vai sei o quê por aq- por aquela coisa.

INQ Sim.

INF2

INF1 E a gente quer aquela média para não vir muita água na levada.

INQ Isso chama-se a chave?

INF1 É.

INQ Fica na ponta da cale?

INF1 É.

INQ É?

INF1 É a que fica na ponta da cale que está tudo!

INQ Sim senhor. E depois

INF1 E é a única que está aqui. E eu Olhe, de tanto moinho, tanto moinho que aqui houve por a ribeira acima e e o único é o meu. E eu digo aos meus filhos: não queria que deixassem [pausa] Olhe, senhor, eu vim aqui para esta quinta [vocalização], paguei juros de dinheiro para a comprar. E depois eu tinha eu tive um vício no moinho que eu disse ao meu homem: fiquei com aquilo, e agora, os meus filhos, nenhum liga àquilo, e eu tenho pena.

INQ Pois. Era bom. Mas o que

INF1 Tenho pena, tenho.

INQ Mas eu queria-lhe perguntar era se a senho-

INF1 Digo-lhe eu: aquilo aquilo n- não vale nada, mas mas nem que me dêem o que me der- hou- Tenho um genro meu que disse-me: "Olha, se quiseres vender o moinho, a quem cem contos".

INQ Rhum-rhum.

INF1 Eu vendia-o.

INQ Pois.

INF1 Mas eu, por causa deste filho meu, é que não o vendo. Digo-lhe na cara dele. Senão eu vendia tudo o que aqui tenho.

INQ Mas a senhora quando

INF1 E ia E ia servir [pausa] para o Porto ou para onde calhar.

INF2 Oh, ! [verbo] daqui para fora.

INQ Pois. Como é que a senhora desvia a água quando não quer moer?

INF1 Quando não quero moer, tiro a água fora da cale.

INQ E como é que tira?

INF1 Está ao lado, logo.

INQ Mas como é? O que é que põe para, para, para a água?

INF1 Ponho a [vocalização] em cima uma uma lata

INF2

INQ Uma lata?

INF1 [vocalização] à boca da cale e boto-a fora da da levada para não me dar cabo do rodízio. Senão, sempre a água a bater no rodízio, dá-me cabo daquilo.

INQ E dava algum nome àquela , que era para moer a farinha de trigo?

INF1 É a alveira.

INQ Rhum-rhum. Era Sim senhor.

INF1 É a que tenho estragada hoje. Se Se este ma não compuser, eu acabo também com ele, com o moinho.

INF2 E E hoje E a outra é a borneira.

INQ É a?

INF1 A borneira.

INQ Qual é para o cent-?

INF1 A borneira Eu, eu Até, Aristófanes, podes-lhe mostrar. Na borneira, senhor, eu tenho uma [pausa] senhora em Linhares que é prima minha que é a cabeleireira de Linhares , que coze o pão para aquela gente mais coisa de Celorico.

INQ Rhum-rhum.

INF1 Querem tudo negro. Diz ela: para comerem n branco, comem do padeiro.

INF2 É mais sadio. O pão é mais sadio.

INQ Pois. Mas a borneira é para o centeio, não é para o trigo?

INF1 É. Pã- Pão centeio, , puro.

INQ Pão de centeio. É isso Isso é a , é a borneira.

INF2

INF1 Pão centeio puro.

INQ E a alveira é para o trigo?

INF1 É para o de trigo e papas e pão alveiro.

INQ Rhã-rhã.

INF1 Quem quer branco.

INQ Sim senhor. E à, às duas mós aqui chamava-se um casal ou não?

INF1 Era, sim senhor.

INQ Como é que chamava?

INF1 O casal. Era, é Bem, mesmo assim, é um casal. É [vocalização] a borneira e a alveira. É o casal que a gente tem. É o que eu tenho .

INQ É o casal. Portanto, a senhora quantos casais tem ali no moinho?

INF1 um.

INQ um.

INF1 É o alveiro e a borneira.

INQ O alveiro e a borneira. Sim senhor.

INF1 Mais nada.

INQ Está bem. Então arranje-se e a gente vai falando pelo caminho abaixo.


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