GRJ54

Granjal, excerto 54

LocalidadeGranjal (Sernancelhe, Viseu)
AssuntoO linho, a lã e o tear
Informante(s) Ercília Emanuel Fausta Élia

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INQ1 E depois onde é que se fazem as meadas?

INF1 E depois vai para o sarilho, para o [vocalização] uma coisa que anda assim a dobar, a dobar.

INF2 Uma dobadoira.

INF1 E depois vai para, vai para os para as meadas. Do sarilho arranca-o fora como estas meadas que a gente doba do algodão , tira-as fora, e depois enrodilha em cima, depois vão ser cozidas numa panela com cinza e mentrastes, e [vocalização] e assim, e água, fervidas, fervidas, e sabão. Mas primeiro são batidas no lavadoiro. E depois é que são metidas no [vocalização] na panela.

INF3 Com cinza.

INF1 Com sabão. E depois é que lhe põem cinza e água a ferver. Fervem ali quase, [vocalização] às vezes, um dia inteiro, não era Fausta?

INF2 Ou um dia ou, às vezes, mais.

INF1 Às vezes um dia inteiro e mais.

INF3 Mais!

INF1 Depois de cozidas, depois tiram-nas deixam-nas arrefecer, tiram-nas , vão para o tanque, batem-nas muito batidas, muito batidas, muito batidas, muito batidas, e sai aquela sujeira toda. Ficam branquinhas. Depois ensaboam-nas muito ensaboadinhas, muito ensaboadas, estendem-nas a corar dias e dias ali. Coram e regam com um regador, borrifam com um borrifador, regam [vocalização] aquilo até que cora.

INF3 Fazem aquilo umas sete pessoas.

INF1 Fica Depois, depois de estar assim coradinha, tornam-nas a apanhar, tornam-nas a cozer em água limpa, sem a cinza em em água limpa.

INF3 Com sa- Com sabão.

INF1 ?

INF3 Com sabão.

INF1 Pois, com o sabão. Bem ensaboadinhas e depois são cozidas assim com água limpa. Depois de estarem assim branquinhas, batem-nas muito batidinhas numa lanteira muito batidinhas, muito batidinhas e [vocalização], e e estendem-nas a secar. Secam. Depois dali dobam numa dobadoira que anda assim de roda, com os paus.

INF2 Fazem os novelos.

INF1 Fazem os novelos e dali depois dos novelos vai para a tecedeira. Vai ser tecido. Depois de ser tecido é que vem para os donos. Os donos depois fazem lençóis, toalhas e, e e travesseiros.

INF4 Antigamente é que era é que era para camisas de homem de linho.

INF1 Camisinhas branquinhas lindas!

INF2 E ceroulas para os homens, de estopa.

INF1 E ceroulas e tudo.

INF2 Eu ainda usei algumas.

INF1 Pois.

INF2 Ainda as vesti.

INF1 Agora acabou tudo. Aquilo era

INF2 De estopa.

INF1 Dava muito trabalho!

INQ1 E tear, também não havia?

INF1 E despesa. Tear para tecerem? Teciam!

INF4 Agora não por ninguém Ninguém sabe tecer como a gente de antanho.

INF1 Aqui havia tecedeiras.

INQ1 Havia?

INF1 Teciam o linho, o linho. E teciam a estopa, a estopa.

INF2 Urdiam. Urdiam aquilo.

INF1 E outras vezes, misturavam a a estopa com o linho, para ficarem assim as toalhas mais fortes. Faziam toalhas e lençóis e [vocalização], e o que ca- e o que queriam. e [vocalização]

INF2 E camisas para mulheres!

INF1 E colchões, e colchões. Da estopa faziam colchões.

INF2 Eu ainda me lembro de minha avó e as minhas tias terem camisas camisas de linho.

INF4 E a minha mãe.

INF2 E usavam-nas com umas mangas até aqui em baixo.

INF4 A minha mãe [pausa] teceu quatro mantas de la- de farrapos.

INF1 Pois. De farrapos.

INF4 Tecidas na estopa.

INF1 Lindas, tecidas.

INF4 Foi quando me quiseram roubar as fitinhas. Ainda tenho uma ali.

INF1 Pois, com fitinhas de, de de pano, e [vocalização] o linho a estopa, ficava ficavam umas mantas que era um amor!

INF4 Foi junto tudo numa teia, [pausa] de linho.

INQ2 Pois.

INF4 Minha mãe é que tecia os sacos e as sacas.

INF1 Pois.

INF2 Eu ainda me lembro de semearem muito linho. A minha avozinha semeava.

INF4 Afinal das contas, [pausa] agora ninguém

INF3 Agora não sabem.

INF1 Vinham aqueles rolos daquela, daquela daquilo que era uma beleza! Até cheirava bem aquilo. Aquelas meadinhas cheiravam que consolavam!


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