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MLD13

Melides, excerto 13

LocalidadeMelides (Grândola, Setúbal)
AssuntoA agricultura
Informante(s) Galiano Graziela Galeno

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INF1 O trabalho do rechego é é completamente o contrário do da moreia.

INF2 Pois.

INF1 A moreia tinha que ser feita mesmo mesmo de alto a baixo para não ficar torto nem para um lado, nem para o outro mesmo de alto a baixo mesmo. Que era para [pausa] o, o a terra segurar dum lado e doutro. Se ficasse um bocadinho à meia chapada, o de de baixo não segurava de maneira nenhuma. E o rechego era para para se lavrar com o gado. para Para se enregar, para se lavrar com o gado, calhava era à meia chapada. Depois era de atravessado.

INQ Pois, pois, pois.

INF1 Pois. E então tudo tem tudo tem maneiras, não é?

INQ Pois claro. Sim senhor.

INF3 Ainda Ainda me lembro de uma senhora que me deu doze tostões. Mil e duzentos, não é? Eu andava cuidando nuns porcos, e depois ela tinha muito mato na propriedade. [pausa] E eu [pausa] aborrecia-me estar assim sozinho não é? , os porcos andavam entretidos a foçar, não é? Como diz um alentejano, eu acabei de dizer às senhoras: andavam a foçar, não é? Eu para ali entretido, vejo aqueles rosmaninhos, tudo por afora, por afora, digo eu assim: "Ah, fazer aqui uns recheguinhos"! Começo a apanhar mato e a fazer uns recheguinhos [vocalização] assim à minha maneira não é? , a ver se aprendia como via os homens fazer, os homens mais antigos, não é? A mulher passa por , uns recheguinhos que eu tinha feito

INF1 Deu-lhe graça?

INF3 [vocalização] Achou aquilo bem feitinho. E depois para ali com um bocado de pau ou não sei quê, ainda lhe fiz assim uma espécie como quem tinha lavrado aquilo tudo. A terra era era uma terra boa de mover, era de era de ombria, estava quase sempre fresca. A mulher passa por , seis ou sete recheguinhos que eu tinha feito, diz ela assim a um vizinho: "Olha, aqui o meu parente fez um trabalhinho [pausa] que eu tenho que lhe dar qualquer milhadura". Mas eu nem tão pouco me vinha à ideia que tinha sido aquele trabalho que eu tinha feito. Alguma vez eu pensei de a de a senhora ir deparar com aquilo? que era a dona da propriedade. Digo eu: [pausa] "Ora essa! Então o que é que foi? Alguma coisa mal feita, não"? "Não senhor. Fez uns recheguinhos tão bem feitinhos, tão bem feitinhos que visto"!

INF1 Era para quem não sabia trabalhar.

INF3 Um dia chegou ao de mim: "Olha , pe pega uma milhadura que que a prima te "! "Então do quê"? "Eh! Pensei em dar-te isto" "Então mas do quê"? Eu a pensar [pausa] Até que ela me disse: "Olha, daquela desmoitazinha que tu fizeste, daqueles recheguinhos". viu? coisas assim. Eu vi os homens fazer aquilo,

INQ2 Pois.

INF3 e depois tinha cegueira naquele trabalho.

INQ1 Pois.

INF3 Porque a gente quando nascendo para trabalhar em qualquer coisa, a gente tem cegueira no que os outros fazerem. Não é preciso ser ensinado. Começa a ver, vamos a ver se aquilo E eu fiz aquilo e a mulher caiu-lhe aquilo em graça.

INQ1 Pois, pois.

INF3 Pois. E deu-me então mil e duzentos. Ora, [pausa] dez tostanitos mais dois tostanitos como dizia o outro naquele tempo, eh, nem queira saber!

INQ1 Era uma festa!

INF3 Hi! Sei o tempo que eu poupei aquele dinheirinho! Se me viessem agora dar [vocalização] mil e duzentos, o que é que eu dizia? [pausa] Isto é para quê, mil e duzentos? Não é verdade?

INF1 Nem sequer Nem sequer se a uma criança.

INF3 No resto de um conto de réis não, não é conto de réis sem ser sem ter os mil e duzentos, não é?

INQ1 Pois. Então não é?Risos

INF3 Sim senhor. Pois é assim. A gente, a maior parte das coisas, pois [vocalização] não é às vezes porque a gente não saiba [vocalização] o nome das coisas, ou não saiba como é que elas começam, às vezes não espera [pausa] é de aparecer, por exemplos, como as senhoras apareceram agora.

INQ1 Claro. Pois.

INF3 E a gente, que a pessoa para ser entrevistada vamos assim , [pausa] tem que ter e andar instruída e pensar e amanhã perguntam-me isto ou perguntam-me aquilo. Que a pessoa quando é apanhada de surpresa, não é por não saber, não é?

INQ1 Pois claro. Mas a gente também não se lembra.

INF3 Não é por não saber

INF1 É porque não se lembra.

INQ1 Não se lembra, pois claro.

INF3 É que às vezes não se lembra, não é?

INQ1 Claro.

INF3 E depois diz: "Ora, a senhora perguntou-me isto e eu sabia isto e não disse".

INQ2 Mas não tenha Não fique preocupado com isso.

INF3 Não, está certo.

INQ1 Não, a gente ainda vem muitos mais dias. Não problema.

INF3 Está certo. Mas é assim mesmo.

INQ1 O que se for lembrando, vai-se

INF3 Pois [vocalização]. E aquela pessoa que pensa assim: "Não, eu faço parte disto. Amanhã ou noutro dia, espera . Ou com este ou aquele, eu não sei o que é que fulano traz na algibeira, ou fulana traz na algibeira. E eu trago isto a eito".

INQ2 Não, mas não se preocupe.

INQ1 Não, mas

INF3 Esse traz as coisas de cor. É como a cantiga, não é?

INQ1 É.

INF3 Trazer a a cantiga de cor para não se, para não quando disser não se enganar nos pontos, não é?

INQ1 Não se enganar.


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