INF E para acender o lume era outros trabalhos! Era preciso às vezes ir pedir lume por as casas alheias que não havia que não havia palhitos – fósforos.
INQ Palhitos, o que é?
INF É os fósforos, mas a gente…
INQ Cá diz-se palhitos, é?
INF Ia-se Íamos por as casas alheias, era então: "Brasinha de lume para acender o lume"! Acendiam ao lume porque não havia fósforos. E outras vezes, os homens usavam um isqueiro e um fuzil – não sabe? –, precisamente. Com aquele nada de isca faziam assim lume , a gente botava dentro dumas vassourinhas de urze e íamos para a porta da rua, assim, para cá e para lá, para cá e para lá, para acender a vassoura, o lume.
INQ Claro, claro.
INF Íamos de carreira pelo corredor adiante Risos para o lume se não apagar. Ai, isto era isto era triste!
INQ Já lá vai muitos anos, disso?
INF Ele há anos, há. Eu era bem novinha então. Mas agora Mas agora é assim: em troca das achinhas e dos pauzinhos, há petróleo. Aquilo é um tal a dar! Não Vida como se está bem levando agora, nunca nunca passou por Santa Maria.
INQ Sim senhora.
INF É, não. Não sei. Tudo vai correndo bem, tudo, tudo! Tudo a pão de trigo! Os velhinhos a ganhar um dinheirinho também que não ganhavam nada.
INQ Da reforma?
INF De reforma. [vocalização] O meu marido se era vivo não – quando eu criei onze filhos –, não precisava de trabalhar tanto como ele trabalhava, de noite e de dia. A trabalhar ainda de jornal, ainda vinha para casa fazer serviço de carpinteiro para se poder comer, ora, ou comprar o pãezinho. Agora, em estando grandes, os pais os filhos vêm pelos pais. O meu Jónatas, que tem muitos filhos, eles vêm pelos pais. E os pais, [vocalização] os velhos – os velhinhos também –, vão-lhe dando para si. Pois dão-lhe aquele abonozinho que seja por amor de Deus. A gente também as duas estamos ganhando.