R&D Unit funded by

ALC21

Alcochete, excerto 21

LocationAlcochete (Alcochete, Setúbal)
SubjectA criação de gado
Informant(s) Anselmo
SurveyALEPG
Survey year1990
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.


INF E, essas vacas, nunca se tirava leite, que é vacas bravas! [pausa] E os bois era bois de trabalho! Agora do que se tira o leite é das vacas mansas e é das ovelhas e é das cabras. E essas ovelhas, às vezes, tem um moiral e tem um ajuda.

INQ1 Portanto, ainda esse nome de ajuda?

INF Pois. Ainda esse nome de ajuda. E, e tem [vocalização] Das, da Das cabras, às vezes, também tem um um rapazito atrás para ajudar ao homem que é o que chamavam Esse nome é o ajuda. Mas é: às vezes não [pausa] tem, outras vezes não tem.

INQ2 E o que é que fazia o descontra-moiral?

INF O descontra-moiral é abaixo do moiral. É o que mandava também da manada do gado.

INQ2 Mas eram as manadas muito grandes? São três pessoas

INF Ah, era então! Ele ali ali Aqui desta herdade aqui da barroca, era aos duzentos bois!

INQ2 Ah!

INF [pausa] Vacas, era era às duzentas! Aquilo era uma casa muito rica!

INQ1 Portanto, este, o moiral, o descontra-moiral e o roupeiro era sobretudo para gado assim desse? Vacas e bois?

INF É para gado Esse é para gado É para gado desse. Era para gado desse. [pausa] Agora, disto das ovelhas, têm, às vezes, um [vocalização] rapazito para andar a aj- a ajudar a eles.

INQ2 E esse é o ajuda?

INF É o ajuda.

INQ2 Nunca lhe chama roupeiro?

INF Não. Esse é ajuda. Anda a ajudar. Onde é que se empregava o nome de roupeiro era do do gado bravo. Para gado bravo e vacas. Isso é que se empregava esse nome. [vocalização] E os bois de trabalho que eram bravos também Saíam dali.

INQ2 Sim senhor. Olhe, os moirais, no Inverno, o que é que eles usavam como roupa?

INF Usavam na roupa? Usavam uns seifões.

INQ2 Como é que eram?

INF Os seifões é, é é uma espécie de calças, aqui por cima dessas, abotoadas aqui por uns botões e e de de carneiro. Aquilo eram feitas por de carneiro. E depois abotoava aqui, com uns botões, até abaixo, e depois aqui tinham [pausa] umas polainas, para a bota não entrar a água e aquilo passava por cima. Andavam sempre com as pernas quentes. Chamava-se aquilo uns seifões.

INQ2 Uns seifões. E no corpo?

INF E E do corpo, para o Alentejo, os que usavam os seifões, usavam um casaco também de pele de carneiro. Agora, aqui não. Aqui é [vocalização]: por exemplo, como às vezes punham às vezes um fato de oleado um casaco de oleado [pausa] vestido e [vocalização] .

INQ1 Mas aqui também usavam os seifões?

INF Usavam. Seifões, usavam. [pausa] Mas essa coisa dos seifões partiu da parte do Alentejo para .

INQ1 Pois.

INF Agora do Alentejo é que usavam muito. É os seifões e era um casaco também de pele de carneiro com uma até aqui, com umas coisas E, e houvia E vinha até aqui. Mas andavam sempre quentes. E até chuva e tudo, que eles nunca pa-, aquela mu- nunca a água a água entrava dentro daquele corpo.

INQ2 Olhe, e o que é que eles tinham na mão?

INF É um cajado.

INQ2 E com que é Como é que se chamava aquele pauzinho com que eles muitas vezes prendiam uma perna duma ovelha e as

INF Ah! Isso é uma bengala. É, é

INQ2 Bengala?

INF É uma bengala. Tinham um Tinham uma espécie de Puxavam e engatavam o dentro. Chamava-se aquilo uma bengala.

INQ2 E aquele E não tinham além do, do cajado, não tinham um pau que atiravam para

INF Não. [vocalização] Além do do pau, o que atiravam era uma funda. [pausa] Punham uma, uma, uma assim como a uma borracha, com um pau, e punham aqui, puxavam e mandavam uma pedra [pausa] daqui. Isso para o, para o para a Espanha é que usavam muito disso. Da Espanha é que usavam muito disso.

INQ2 Para atirar para

INF Para atirar para o gado.

INQ2 Pois.

INF Batia ali dos paus deles e da do corpo que eles até iam a nove. Aquilo mandava muita força.

INQ2 E onde é que eles levavam a comida?

INQ1 Os pastores.

INF Os pastores?

INQ1 Sim.

INF É dentro duma bojarda.

INQ2 E o, e onde é que guardavam as azeitonas?

INF As azeitonas? É num c- num cabaço. Um cabaço. [pausa]Tapado com uma rolha de cortiça, e aquele cabaço era feito do cu duma cabaça.

INQ1 Ah!

INF A cabaça [pausa] tem aqui o amojo debaixo. E depois tem é aqui o estreito para cima. É cortado ali por aquele amojo Esta parte de baixo fazia o cabaço e metia-se as azeitonas e metia-se uma rolha.

INQ2 Olhe, e não usavam também, não aproveitavam os, os paus dos animais para?

INF Para fazer azeiteiros, para levar azeite. Era feito Era tirado o sabugo de dentro. Aquilo era raspado por dentro e lavado com água quente. Depois levava assim, à ponta, uma rolha de cortiça, muito bem feitinha, um buraco e metia-se uma espécie dum, dum dum diabo dum dum funilzinho. E depois era dentro daquele funil era uma rolhazinha Vinha cheio de azeite. Levava um litro; levava meio litro; levava dois decilitros e meio; conforme os paus dos bois que cortavam. Aquilo era cortado dos paus dos bois.

INQ2 Olhe e quando eles precisavam de dormir no campo, que iam, eu sei , com um rebanho de ovelhas para mais para longe, acontecia isso, ou não?

INF Levar as coisas?

INQ2 Levar as ovelhas para longe, terem que dormir .

INF Tem que dormir , fazia uma cama debaixo do chaparro com um bocado de mato.

INQ2 Uma cama, chamava-se isso?

INF Pois. Sim, isso faziam ali a cama debaixo [vocalização] com uma mão-cheia de mato, estendiam a manta e dormiam.

INQ2 Mas, por cima, não punham nada?

INF Não, por cima nada. Era a manta deles, a cobertura. [pausa] Quando era assim de Inverno que o que fazem? vão para um lado qualquer com o gado, se não têm casa, encostado a uma chaparra, vão buscar um bocado de mato e fazem uma cabana. [pausa] Chama-se aquilo uma cabana.


Download XMLDownload textWaveform viewSentence view