INF1 Quando é um… Assim quando mancam duma perna, que é mais curta que a outra, como é que se chama?
INF2 Manca uma, uma. Porquê? Porque teve qualquer coisa, sabe?
INF1 Teve uma paralisia, ou…
INQ Não diz que é manco?
INF2 Sim.
INF1 Ou assim.
INF2 A da minha Ernestina…
INF1 É uma paralisia.
INF2 A da minha Ernestina [pausa] foi um ar.
INF1 Pois. Foi um ar?
INF2 E elas não queriam saber de atalhar o ar. [pausa] Mas a a perna já estava…
INF1 Mais curta.
INF2 Muito mais curta!
INF1 Mais curta! Um ar é muito perigoso!
INF2 Quando lhe deu o ar, foi para o, para o para o ribeiro.
INF1 Um ar é muito perigoso!
INF2 Lavou as pernas. [pausa] A pequena ia quente. [pausa] Recebeu aquele
INF1 Aquele frio!
INF2 aquele ar daquela daquela frialdade das pernas, da da água.
INF1 Pois.
INF2 É, foi. Em oito dias ou… Era num grito, num grito, num grito!
INF1 Era o ar. Era o ar. Mas bem… Mas veja, os médicos não querem saber dessas coisas.
INF2 Foram ao doutor, era injecções.
INF1 Isso não. Não querem saber disso para nada.
INF2 Era bisnagas para esfregar. Quanto mais esfregava, mais doía.
INF1 A gente é que atalha o ar. Atalha o ar. E a gente tem um lenço da cabeça. E tira-se o lenço da cabeça e e estende-se assim numa mesa. E a gente vai puxando a assim. Mede. Mede os palmos que tem o lenço até ao cabo. E se for ar, o lenço cre- mingua. Mingua. Não tem a, a o que tinha. Supomos que o o lenço chegava daqui aqui, não é? Mas se for um ar, e que a gente atalhe o ar e que meça, falta sempre um… Já não chega aqui, já vem assim, já mingua. Mingua um bocado. Mingua bastante. É. Então a gente atalha-lhe o ar. E depois torna a perna ao seu lugar. E há pessoas que até ficam aleijadas porque não sabem o que aquilo é. É. E E os médicos não dão com isso.
INF2 Ai!
INF1 É. Os médicos não querem…
INQ Olhe…
INF2 Aquela foi assim…
INQ Olhe, mas espere lá, mas o ar atalha-se como?
INF1 É É com umas palavras que se dizem.
INF2 E depois… [pausa] "Se és ar, ou quebranto, ou olhado, saia deste corpo como o sal sai do mar sagrado".
INF1 É.
INF2 "Em louvor do Santíssimo Sacramento"…
INF1 "Sacramento, esta alminha sare no momento".
INF2 "Todo este mal seja atalhado".
INF1 É.
INF2 Diz-se assim umas palavrinhas. E depois defuma-se.
INQ Com quê?
INF1 Com alecrim, ou loureiro ou.
INF2 Ou uns canelos.
INF1 Ou Ou uns canelos [pausa] dos dos animais.
INF2 Em brasa.
INQ Canelos? O que são canelos?
INF1 Os canelos dos animais é aquelas ferraduras que trazem nos…
INF2 Ou os guilhos… Ou os guilhos do moinho.
INF1 Ou uns guilhos [pausa] do moinho.
INQ São aquelas pedras debaixo?
INF2 De aço.
INF1 Sim, minha senhora. Os guilhos dos moinhos é, é são umas pedrinhas lisas.
INQ Que eles põem por baixo do rodízio?
INF1 Sim, minha senhora. Sim, minha senhora. E isso, se for ar, a gente mete-o no vinagre, em vinagre quente.
INF2 Em brasa.
INF1 Em brasa. E estoira. Estoira. E se não for ar, não estoira. E também se atalha com três com três carvõezinhos. Também se ata-. Com os carvões também se atalha bem.
INF2 Também. Eu disse à minha à minha Escolástica: "Vamos à à Quinta dos Bacorinhos". [pausa] A mulherzinha chegou lá, coitadinha! Porque invocam o Espírito Santo [pausa] para saberem as coisas. A pessoa que tem força, que é média, puxa o espírito. E o espírito vem…
INF1 E diz o que é.
INF2 E diz [pausa] a doença.
INF1 É. Já morreu.
INF2 Pois já.
INF1 Já morreu. Ainda fez falta.
INF2 Tem feito muita falta!
INF1 Pois ainda. Eu nunca lá fui.
INF2 Não. Eu fui lá umas três ou quatro vezes.
INF1 Eu não. Nunca lá fui.
INF2 E depois… Mas eu, Deus me livre que eu contasse ao padre, isso até me excomungava-me.
INF1 Oi, Deus nos livre! A minha mãe ainda lá foi por causa dum boi, duns bois que teve, que foi lá com eles a suar muito e amarrados. Tinham [vocalização] uns vencelhos amarrados às patas e das patas ao pescoço e e o focinho, assim tudo tudo tapado. Ouviu? A suarem, a suarem, a suarem.
INF2 A mulher disse-lhe assim: "Coitadinha! Vai para a faca! [pausa] Vai fazer a operação. Não lhe encontram nada porque está metido no osso"…
INF1 É no osso que está?
INF2 Está. Olhe, viemos, era por . Eram duas horas quando aqui chegámos. E a minha Ernestina não queria crer. Deus nos livre! "Olha que isto é é para bem da gente"!
INF1 Pois é.
INF2 "Anda cá"! Disse para a irmã.
INF1 Eu sei atalhar assim muitas coisas. Essas que a senhora me procurou, de íngua, essas ínguas eu sei atalhá-las.
INF2 "Trá-la ao colo. Tragam a pequena ao colo"… Nem se tinha, da perna. [pausa] Já tínhamos os, já tínhamos os, os os canelos.
INF1 Pois.
INF2 Os guilhos [pausa] em brasa. A peq-, assentámo-la numa cadeira,
INF1 Aquilo foi um ar.
INF2 pusemos-lhe um cobertor, [pausa] apanhou aquele…
INF1 Por mor de receber aquele fumo.
INF2 E depois metemos-lhe os guilhos, um de cada vez, por causa de a pequena não se abafar com aquele fumo.
INF1 Pois, para ela apanhar o fumo.
INF2 Pois. Abafa ela. [vocalização] Metíamos-lhe aquele canelo e depois, tirávamos aquele e metíamos-lhe outro, e depois pus três. Logo nessa noite: umh!, já não gritou.
INF1 Pois. [pausa] É. Há muitas coisas que [vocalização], que caseiras que são melhores que as dos médicos.
INF2 Eu disse-lhe assim: "Olha, e então a pequena"? "Olha, esta noite já já dormiu descansada". Na primeira noite.
INF1 Muitas coisas.
INF2 Telefonou para o doutor: "Olha, a pequena parece que está melhor". Que depois, ao fim de três dias, havia de ir para para o hospital, para ser operada. Abriam a perna, não lhe encontravam nada porque aquilo está por aquilo estar no osso. [pausa] Ao outro dia: "É aqui"? [pausa] "É aqui que se fazem os fumadoiros. [pausa] Fechas a porta para ninguém ver". Fechámos a porta, [vocalização] fizemos os fumadoiros, ao fim dos três fumadoiros, passou! Não passou de todo que esteve… O tempo que está há-de estar para sarar.
INF1 É. É, que demora a sair, é.
INF2 Nisto, já dormia melhor, passaram mais as dores e olha que ainda ficou…
INF1 Ainda um bocadinho.
INF2 A p- A puxar a perna.
INF1 Ainda um bocadinho.
INF2 E a perna já estava muito, muito mais minguada!
INF1 Pois está.
INF2 Magra e curta. Vejam lá.