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STA19

Santo André, excerto 19

LocationSanto André (Montalegre, Vila Real)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Gotardo Hortense
SurveyALEPG
Survey year1984
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Mas também volto a lhe dizer outra Indo Mas se lhe não conto estas que lhe conto, se não foi assim, tal e qual, a conversa como agora aqui nós todos

INQ1 Claro.

INQ2 Claro.

INF1 Igualzinho! Indo eu e um [vocalização] agora não sei se é general, se que é um espanhol. Ele é major e médico quando entra no [pausa] em Vigo.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Depois passou para [pausa] Em andando com eles à caça [pausa] E saímos daqui, eles ainda mataram o bicho melhor do que eu! Que eles eram espanhóis, não tinham Mas andámos. Fomos por acima por donde vossemecês

INF2 Eles não estão a ver o que é matar o bicho; é almoçar.

INF1 É almoçar. Al-

INF2 Almoçar.

INQ2 Matar o bicho é a primeira coisa

INF1 É a primeira coisa ao ao levantar a gente.

INF2 O almoço é [pausa] é logo de manhã cedo.

INQ2 Pois.

INF2 É o café, faça de conta.

INF1 E eles a botarem e eu com a pressa era eu e a mãe que Deus tenha , Deus Nosso Senhor me perdoe. Eu com tanta [vocalização] lide, [pausa] toca a chamar e mesmo agora, está aqui assim, assim o dentista, o tal, e um doutor assim, assim. Ai Jesus, o que me custou! "Mas vamos embora"! "Tu sabes" Eles a meterem-se comigo porque foi um desafio que tivemos. Eu não sei se quando foram à Espanha, vocês não foram aqui, foram a Verín não foi? com o padre de Vilar.

INQ2 Foi.

INF1 Foi a Verín, eu logo disse que era a Verín. Agora E ele estava para ali e depois começou a falar das perdizes, assim e assado, e [vocalização] toca a desafiarmo-nos. [pausa] O padre, eu tratava-o depois por "tu", que ele é muito mais velho, mas os galegos como tratam o pai por "tu" , [pausa] eu também e ele a mim. Digo: "Bem, ou pagas mil pesetas por cada uma, eu pago duas mil. O que matar mais é o que ganha". Digo: E Depois tanto, tanto me aborreceu, disse: "Não te deixo pôr os olhos na primeira"! E te digo Olhe, Nosso Senhor que quisesse, que viesse para , se não lhe dizia na mesma! "E não lhe deixo pôr os olhos" Às vezes dizia-lhe "não te deixo", outras vezes "não lhe deixo". É mui grande, não as as perdizes. Mas conto-lhe que, que que tive mais de quantas testemunhas. E vamos, saímos, e o padre daqui; depois éramos cinco ou seis. [pausa] E aqui batem eles então sabendo de mim. Como me escrevia, depois me parec- A mim, chamavam-me a Garça [pausa] por andar muito!

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Tinha umas pernas graças a Deus que subia de alto a alto, de deste alto para aquele, daquela baixa para aquela, era como um foguete! Ainda não estava deste lado, estava daquele! [vocalização] E diz ele: "E a Garça do Gotardo"? [pausa] Diz: " lhe mando esta caixa de cartuchos, mas eu quero tornar"! Ainda não veio. "Quero tornar onde a ele"! Andámos, tumba, tumba, tumba, um pedaço, íamos a passar Que vocês passaram na estrada de Gralhas para aqui e atrav,

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 mas nós viemos ali de Solveira para cima de ao de Solveira. E diz-me: "Eh Gotardo"! "Diga . Ou mande, doutor". "Tenho uma fome [pausa] que não dou passada"! "Se não passada, comera"!

INF2

INF1 "Então como quer"? "Comera". "Não posso. Deu-me isto, não posso". E eu disse-lhe: "Doutor, eu tenho aqui um cachinho, ou uma miga de pão como lhe chamam ustedes, carago! , pão negro e um cibo de carne, de toucinho de reco, ". Nós é reco, chamamos-lhe, ao toucinho, ao ao porco.

INQ1 Pois.

INQ2 Pois, sim.

INF1 Diz: "Nada, nada, nada. Dás-me um cachinho de pão, uma bocada ou duas, e dá-me uma regadela com a bota para a" A bota é a borracha. Também não tenho que a levaram. E o homem bota duas [pausa] bocadas ou [vocalização] três agarra no Ele não quis mais nada. E era do toucinho, era até era febra e gordo, mas E bota e ao fim anda um pedaço, um pedaço: "Gotardo, que seja a última vez que te ouça dizer e que não volvas mais a dizer isso, que o pão que é negro! Gotardo, nunca mais volvas dizer que o pão que é negro! [pausa] Deves dizer: negra é a fome! [pausa] Negra é a fome"!

INF2 Ele tinha vontade

INF1 E eu olho para mim assim: "Um doutor assim" Quantas vezes aqui tenho contado?!

INF2 Homem! Tinha vontade o homenzito.

INF1 O homem disse mesmo assim e olhe que me lembrou sempre, sempre, sempre, sempre. Diz: "Negra é a fome". Diz: "Não é o pão". "Dizer que o pão que é negro?! Não é negro. Negra é a fome"!

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Pronto.

INQ2 Pois é.

INF1 Continuamos.

INF2 E é verdade. A gente quando tem fome

INF1 Agora, as senhoras, se nos querem botar duas também que fiquem dos seus lados, botem-nos duas também que Deus nos guarde. Porque ainda é muito

INF2 É de Cabeceiras.

INF1 Ai é aqui?

INF2 A senhora.

INQ1 Eu, eu não

INF2 A mãe.

INQ1 A minha mãe é de Cabeceiras.

INF1 Ai, então é aqui de pertinho de nós!


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