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STJ06

Santa Justa, excerto 6

LocationSanta Justa (Coruche, Santarém)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Dalila
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Ernestina Carrilho Maria Lobo
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF Eu andava a fazer a minha casa, [pausa] aparecem umas meninas assim como como vocês [vocalização] isto é um modo de falar. É preciso a gente compreender. Elas não são como vocês, vocês não são como elas. Deus lhe vos guarde a vocês de serem como elas. Elas são ali do de Elas, eu até tinha ali a direcção delas. São ali do do Hospital de Santa Maria, dizem elas. Não sei se são, se não. Elas dizem que são bem sei eu! [pausa] Eu andava a fazer a minha casa, aparecem ali aquelas duas raparigas. [pausa] Uma era assim uma saia muito grande, parecia uma cigana! Tal e qual uma cigana, tal e qual, tal e qual, tal e qual, tal e qual! De preto! Vinha toda carregada de preto. Mas eu, carregada de preto, não estranho porque porque hoje a multidão a novidão usam muito o luto, não é? Quando a gente morre, eles não põem luto, mas depois usam o luto por luxo.

INQ1 Pois.

INQ2 Pois. É.

INF E eu estava ali, andava ali a fazer umas coisas. Tinha acabado O pedreiro tinha acabado de abalar e eu fiquei ali, [pausa] à espera dum filho meu que andava na fábrica do tabaco para vir [pausa] almoçar. [vocalização] E e-, e- E elas tinham dito: "Compre [vocalização] algum livro. Compre aqui um livro. Compre um"

INQ1 É

INF "Compre à gente um livro". Depois eu disse: "Ó mulher! Eu não tenho dinheiro para livros! Eu não tenho dinheiro para livros! Eu não sou mulher de livros. Não tenho dinheiro para livros". "Ande, compre para dar a alguém" Mas eu até me defendi muito bem. [pausa] "Eu não sei ler" como não sei.

INQ1 Pois.

INF "Não sei ler e não tenho" "Então vossemecê não tem filhos? Não tem filhos"? "Não tenho filhos nenhuns. O meu filho Eu tinha um, está casado". Mentira, tenho três! "Tenho um e está casado" e mais aquilo. Porque Tinha dito que tinha um porque porque tinha tinha a gaiata ao de mim, que era minha neta, tinha de ter um filho, não era? Ou uma filha.

INQ1 Pois.

INF A menina era minha neta, elas me tinham procurado, eu tinha dito que era minha neta não era? , não podia estar a dizer que não tinha filho nenhum

INQ1 Que não tinha filhos.

INF Então era minha neta tinha que te-

INQ1 Tinha uma neta como?

INF Pois. Exactamente. "Tenho um filho e tal. Ele está casado". "Então onde é que ele vive? Então onde é que ele vive? Onde é que ele vive"? Oh! Nisto, eu acabo de dizer isto, o meu filho a volta [pausa] aqui à rua grande que vai para a minha azinhaga. Diz [vocalização] Diz ela assim: "Oh, o tio"! [pausa] A menina, a pequenina. "O tio. O tio. O tio. O tio". Eu disse: "É o tio, é. Vem almoçar". "Olhe, , olhe" Ó mulheres, assim que o elas viram [pausa] o rapaz parar a bici- a mota Ele parou a mota assim encostada assim à parede. [pausa] Ele traz traz ainda ho- ainda hoje traz, casou mas ainda os traz dois fios assim de prata grossos, muito grossalhões ao pescoço. Um é delgadinho, o outro é assim muito grosso. Elas Ele vinha assim todo desabotoado . Estava calor, andava no na fábrica [pausa] Elas agarram-se ali assim a ele, ali assim a ele assim: "Eh, ó amigo! Ó amigo! Ó amigo! Ó amigo"! Eu Aos beijos a ele, aos beijos a ele. "Compre um livro! Compre um livro! Compre um livro! , compre agora [vocalização] "! E aos beijos a ele, e aos beijos a ele, aos beijos a ele, e eu vou e disse assim Eu disse isto, duas vezes: "Ó menino"! Que a gente o trata é por menino. É por ser o mais novo, calhando, ou sei .

INQ1 Pois.

INF "Ó menino, deixa-te de conversas. Vai ali para casa que a mãe não quer livros". [pausa] Disse assim: "Vai ali para casa que a mãe não quer livros". E elas traziam um cacho de uvas que outra senhora lhe tinha dado em cima, mais adiante. Ah! "Vai para casa que a mãe não quer livros. A mãe lhe disse a elas que não quer livros. A mãe até disse que não tinha mais filho nenhum. Mas visto que tu chegastes Mas eu não quero livros". "Ah, minha senhora está a enganar gente". E "porque aqui" E agarrada a ele, e a beijarem, a beijarem e depois era com dois rapazes que vieram também atrás delas , e a beijá-lo, e a beijarem, e a beijarem, e eu a ver E a empurrá-lo assim para o quin-. A empurrarem-no para o quintal as duas, a empurrarem para dentro do quintal que o meu quintal é fechado à chave. É assim um quintal como este, mas é parede. É todo alto. [pausa] Está fechado. Pronto. Ninguém a casa à gente. quem tem o portão aberto. E empurravam, e empurravam. Digo assim: "Ó menino" No fim, peguei assim nele, disse: "Ó menino, larga-as , olha a sida". É verdade eu dizer. "Larga-as , olha a sida. Não venham elas para aqui com ideias de te de te enganar". Ó rapariga, eu não sei o que elas passaram pela cara do rapazinho não sei o que foi que passaram que ele que deu logo um conto e quinhentos.

INQ2 Como é que ?

INQ1 Ah! Que coisa tão esquisita!

INF Deu logo. Elas disseram assim: ", assina aqui. Assina aqui, Cristiano. Assenta ". Botou-lhe logo o nome dele, ele ele tinha dito, não era? "Assina aqui, Cristiano. Assina ". O meu Cristiano assinou logo. [pausa] ", o conto e quinhentos".

INQ1 Ah!

INF O meu Cristiano deu-lhe o conto e quinhentos. [pausa] E eu vou, disse assim: "Ouçam , mas porque é que vocês" Apanharem-me elas com a morte na cabeça! Mas depois ainda veio um homem, daquela emp-, por causa de a gente não o perdoar.

INQ1 Pois.

INF Então Escutem. Depois o meu Cristiano deu-lhe um conto e quinhentos e elas. E eu disse assim: "Mas vocês estão a pedir o conto e quinhentos ao moço, vocês hin-, hin-, hin- himpotinizaram" eu nem sei dizer a razão disso, eu não sei dizer a razão "que vocês me estão que me himpotinizaram o rapaz E olha , ó Cristiano, tu vieste da tropa. Um homem como tu és e como tu queres ser, e deixares-te iludir com estas raparigas?! ? Então tu não iludes com outras que a mãe tem-te voltado, e agora iludiste-te destas du-, du- duas raparigas que me vieram para aqui moer o juízo"? "Ah, minha senhora, aparece uma prenda para o seu filho. Aparece uma uma" não sei quê "para o seu filho, com esse conto e quinhentos". Eu digo assim: "Vejam o que é que vocês estão a dizer. Ponham aqui isso, a direcção do coiso, [pausa] donde vocês trabalham".

INQ2 Pois.

INF Elas deram logo uma folha. Tiraram uma folha do livro e deram à gente. [pausa] "E isto E isto vem pelo correio, e tu vais levantar ali ao correio e" Bem que elas o disseram. Dispuseram ali mais de quantas coisas, digo assim depois eu: "Ele estava iludido, ele raparigas!" [pausa] Gaiatões novos! Ele tinha vindo da tropa pouco tempo. Gaiatões novos! E eu fiquei com coiso com a coisa de as raparigas uma arrelia às raparigas, vocês nem queiram saber! [pausa] Ao fim de poucachinho tempo, veio um postalinho que estava uma uma encomenda para o Cristiano no no correio. [pausa] Ele mandou o carteiro levar o postal. E eu disse assim: "Olhe , eu não posso ir ao correio agora. Eu não sou não estou capaz de andar ali ao correio". Porque eu não andava mesmo quase nada. E ele disse-me assim: "Não, Dalila. Você não pode ir. Quem tem de levantar isso é o Cristiano. É o seu filho. Isso é um Isto é qualquer coisa que vem de alguma coisa que ele comprou de livros, ou qualquer coisa". Digo eu assim: "Então é uma coisa grande"? [pausa] "Ah, e tem a pagar mais um conto e quinhentos".

INQ1 Ah, mais ainda?

INF [vocalização] Mais um conto e quinhentos. Olhe, eu digo eu assim: "Ah, ainda mais dinheiro?! Então elas disseram que não pagava nada! Disseram". Fui buscar o papel, dei ao carteiro. O carteiro esteve a ler, disse: "Exactamente. Vocês não pagam isto. Ele tem uma coisinha assim pequenichinha, do tamanho duma caixa de fósforos das pequenas".

INQ1 Ah!

INF Disse o carteiro. Ele não viu, estava embrulhado. Disse-me logo: "Não podemos ver. Mas tem-o , um bocadinho pequenininho, do tamanho duma caixa de fósforos das pequenas. E o Cristiano tem aqui esta este papel, o Cristiano vai mandar voltar aquilo para trás , , , ". O gaiato veio, [pausa] e eu fui, disse-lhe: "Ó menino, passa isto assim, assim" Estive-lhe a contar, ele disse: "Cale-se! Cale-se que eu vou ao correio". Foi ao correio. Chegou , os homens no correio disseram: "Olha, volta isso para trás. [pausa] E tu deste com umas velhacas que te enganaram, chuparam-te, ó Cristiano. O que é que elas te fizeram"? "Eu sei ! Então se a minha mãe não está, as putas dum cabrão até me capavam, calhando que era o que elas me faziam"! Disse o gaiato. Bom, aquilo voltou para trás. Aquilo voltou para trás, ao fim duns poucos de dias estava eu até na matança dum porco dali , chega ali um carro branco. Com um homem, um senhor muito bem edu- muito bem coiso. Chegou um carro branco. pela aldeia acima procurando onde é que morava o Cristiano Cruz Damásio. [pausa] E elas, as pessoas, disseram-lhe onde é que era. "Olha, numa rua assim, assim, assim, assim . Até estão de matança. Ele por acaso, não sei se ele está, se não, agora os pais estão de matança hoje. [pausa] Mas ele deve de estar, com certeza. Para os pais estarem de matança, o rapaz está . Ele não é tropa. O rapaz está ". sei dizer Mas não estava. Ele estava ali no centro social. [pausa] Tinha abalado. Tinha comido, tinha abalado e a gente tínhamos ficado a ajeitar as coisas. Estava ali ainda aos dois homens e as mulheres, mas a rapaziada nova tinham abalado. Chegou ali um o homem e procurou: "Onde é que mora aqui o Cristiano Cruz Damásio? Quem é que é os pais do Cristiano Cruz Damásio"? Mas o homem conheceu logo o meu Cristino pela pinta. Tirou logo o meu Cristino. [pausa] Disse logo: "Este Este senhor [pausa] de certeza que é o pai do Cristiano". E eu disse: "Então é porque o senhor foi a algum lado que viu o Cristiano, [pausa] para saber que este que é o pai do Cristiano". O homem tinha ta- tinha estado no centro.

INQ1 Ah!

INF O senhor esteve no centro e viu o meu Cristiano. Mas não sabia se era o meu Cristiano não tinha visto não é, nunca procurou nada, o homem veio-se embora. Ele disse: "Por acaso, estive no centro social, onde vocês lhe chamam o centro social, porque me ensinaram para ir. Tivemo- Estive . [vocalização] É o senhor é que é o pai do Cristiano"? "Pois sou". "Então, olhe, eu preciso de falar com o Cristiano". E eu disse assim para o homem: "Pois olhe, a mim vossemecê não me engana. Tem de me dizer aqui a mim lhe digo onde é que está o meu filho [pausa] o que é que o senhor quiser ao, do, ao ao meu filho. [pausa] O senhor diga o que é que quer ao meu filho". "Eu venho por umas coisas que ele para comprou a umas meninas que trabalham naquele" disse onde era. "E nós Venho para falar com ele para ele me mostrar o papel que tem. [pausa] Porque o, o o projecto dele voltou para trás". [pausa] E eu disse assim: "Ah, então é isso. Deixe Esteja aqui, que vai uma pessoa chamá-lo". "Então" E o, e ele E o meu C- meu Cristino disse: "Onde é que está o nosso Cristiano"? Eu disse: "Está no centro social". [pausa] "Então olhe, eu vi esse moço e é parecido consigo. Você é que é o pai dele. Está esse rapaz a jogar ao mi- ao dominó. Eu é que não sabia se era esse moço. [pausa] Mas está . De certeza que é esse moço, que eu estou olhar quase para a para a sua cara". Nisto, o meu Cristiano chegou. [pausa] O meu Cristiano chegou, o meu Cristiano disse ao homem disse-lhe adeus e disse: "Então porque é que o senhor não disse no centro social quem é que era o Cristiano? Toda a gente lhe dizia quem era, que sou eu. Que eu é que sou Cristiano ou- eu e outro rapaz". " [vocalização] Olhe, venho aqui para o senhor me mostrar E trago aqui o, o o coisinho que elas lhe [vocalização] despacharam". Era uma coi- era aquilo nem era nada, com certeza. [pausa] O homem nunca disse o que era. [pausa] Mandei o Cristiano buscar o papel [pausa] e deu-lho para o homem ver. E o homem disse: "O senhor [pausa] quer fazer uma acção que a gente fica orgulhosos no trabalho? Apareça [pausa] com este papel. Ele a [vocalização] A gente não lho tira. Apareça com esse papel [pausa] para a gente saber quem é que é que anda a trabalhar para a gente. Apareça com esse papel". O meu Cristiano não foi. Teve vergonha, não foi. "Apareça com esse papel. Peço-lhe mesmo por favor que o senhor apareça com esse papel, [pausa] para a gente saber quem é que anda a trabalhar para a gente". [pausa] E disse Depois ele disse ali tanta coisa delas, tanta coisa delas, tanta! Eu disse o trajo que elas traziam; ele disse logo que sabia quem era [pausa] pelo traje que elas traziam e porque é que ele se deixou agarrar por elas. Que ele nunca se devia de deixar agarrar por elas, [pausa] porque ele tinha ido a outro sítio, que lhe tinham se queixado também do mesmo, que não foi o meu. Não sei onde é que foi que ele nunca disse. Depois, ao fim de três ou quatro dias, ou menos, apareceu dois rapazes [pausa] rapazões novos! Muito engraçadinhos, pareciam bons rapazes, também a vender isso, livros! Depois disseram assim: "A gente quer vir aqui à a esta terra, que esta terra é muito bonita"! E tal, e tal. [vocalização] Estava eu aqui mais esta rapariga. Digo assim: "Olhe, eu não lhe quero comprar nada. Não lhe compro nada. E vocês são rapazes" [pausa] " [vocalização] Tal e tal e tal". Depois estivemos aqui a contar isso do meu Cristiano e um rapaz disse: "Nós Isso espalhou-se. Nós também sabemos esse caso. Isso não são mulheres. Não são Não são mulheres que andem . Elas são Elas têm feito muitas muitas. Elas Elas nem trabalham"! Elas daque- Pelo jeito do homem depois aqueles aqui é que disseram aqui à gente , com certeza foi elas que apanharam alg- aquilo, [pausa] alguns papéis [pausa]

INQ1 Alguns papéis.

INF E [vocalização] tanto que ele fartou-se de pedir, o homem. Agarrou-se ao meu Cristiano, fartou-se de pedir: "Ó, ó sujeito ! Ó moço, ! Ó moço, ao nosso coiso. Ó moço, . Então a sua mãe vai a Lisboa todos todos os meses, você vai mais a sua mãe. Aquilo é tão pertinho do Hospital de Santa Maria, você , moço, "! O meu Cristiano disse: "Então, se eu algum dia passar, vou "! Agora o meu Cristiano está . Ainda agora ontem esteve e eu estive-lhe a dizer. A meio com Com umas boas conversas, ele diz: "Ai mãe! Agora, se fosse agora que aquelas moças me fizessem aquilo, agora é que eu ia a Lisboa! Trabalho " Anda na na Câmara, nas ruas. "Trabalho . Agora é que de certeza que passei até onde elas estavam. corri estive na garagem, na Setubalense". Gente que corre tudo, não é?

INQ1 Rhum-rhum.

INF "Agora é que eu é que elas me haveram de dizer, que agora eu procurava-as ali como quem não quer". [pausa] Não que elas fizeram isso? Olhe, vem, vem uma rapa- anda umas raparigas [pausa] não sei daonde a venderem louças, a venderem assim a escolher a gente a escolher assim pelo catálogo

INQ1 Pois.

INF Umas gajas. Umas mulheres Corte na gravação, não é?

INQ1 Rhum-rhum.

INF Vê-se que as pessoas são sérias. E aquelas velhacas isto Não se metem com os rapazes, não não fazem coisas nenhumas, e aquelas r- duas raparigas não eram boas, ó mulheres!

INQ1 Isto de tudo.

INF Não eram boas! Não eram! [pausa] Não eram boas! E elas, se eu se eu sei o que sei hoje, elas tinham levado ali duas bofetadas no focinho, [pausa] dele! Eu é que não tive tempo! Não tive tempo e eu e eu não sei o que é que elas lhe fizeram. Não sei o que é que elas lhe fizeram. Não sei o que é que elas ali fizeram. Não sei, não sei.


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