INF1 Era só aquelas duas caixas ali…
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 E esta aqui era do azeite.
INQ1 Sim senhor.
INF1 E ele a água vinha no cimo do azeite e ia para aquela [vocalização] no cimo da água e ia para aquela poça. E quando aquilo estava cheio, tinha lá um coadoirozinho, até era: chamavam-lhe aquilo abetouros.
INQ2 Chamavam-lhe como?
INF1 Abetouros.
INQ2 Abetouros?
INQ1 Abetouro.
INF1 Abetouro. A gente punha lá assim e aquilo ia passando aqui já meio coado – o azeite, meio coado. E estava então a correr por uma calezinha, para aqui para outro pio. E o lag-, e o E o chefe do lagar, o autor, estava ali a ver correr aquela mercadoria toda. Com o calo e com a prática via quando já estava a água.
INQ2 Pois, pois.
INF1 E quando era a água, abria a torneira aqui por baixo, [pausa] e saía a água.
INQ1 Rhum-rhum.
INQ2 E saía água.
INF1 E lá vendo que estava já uma certa fundura, tapava outra vez, tornava a encher.
INQ2 Pois, pois.
INF1 Tornava a encher. E depois em vendo que precisava lá de outra coisa, [vocalização] consoante a porção que tinha, além do lag- do azeite que havia de sair…
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Porque o que vale é o calo e a prática.
INQ2 Claro.
INQ1 Pois.
INF1 E depois ele tornava a sangrar, tornava a bater. Quando acabava aquela mercadoria toda, [pausa] iam indo chamar os fregueses. Mas quando iam chamar os fregueses, o lagareiro já sabia o que lá estava. Já sabia os l- os litros que lá estavam ou os alqueires.
INQ2 Pois.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Nós cá era alqueires.
INQ2 Era alqueires que chamavam?
INF1 Era.
INF2 Sim, sim.
INF1 É um cantarito [pausa] que lá têm de medida, chamavam aquilo o alqueire.
INQ1 Rhum-rhum. Sangrar era tirar o azinagre para fora? O azinagre para fora?
INF1 Pois.
INF2 Sim, sim, sim.
INF1 E ele depois, o lagareiro, com a prática, com o calo, que já tinha… Porque um andava uma porretada de anos.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 E E depois ele, então, via com: "Olha, vê lá, tenho de chamar fulano". Têm uma relação. "Chamar fulano, chamar aquele, chamar aquele" –, que era os donos do, do do lagar. E eles ele não media, não mexia no azeite, sem ali estarem todos.
INQ2 Pois.
INF1 E depois então, cada um trazia a sua vasilha, e ele via na relação os quilos da azeitona que tinha para lá dado.
INQ2 Rhum.
INF1 Tiravam a percentagem deles: [pausa] da lenha [pausa] do… E para o patrão, por exemplo, eram três, [pausa] a metade era do patrão, e a outra metade era a dividir por por os outros.
INQ1 Rhum-rhum.
INF2 Por os lagareiros.
INF1 Por os lagareiros que lá estavam. Tosse E ali no Tortosendo, [pausa] para onde nós dávamos agora estes últimos anos, nunca ia lá ninguém ao azeite. Pagava com o dinheiro ao fim do tempo.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Que era ele para não andarem lá a roubar.
INQ2 Pois.
INF1 Porque o senhor, na idade em que está, deve saber bem: nunca tenha dó daquele que faz folhas.
INQ2 Faz folhas?
INF1 Pois.
INQ1 Faz a contabilidade.
INQ2 Ah!
INF1 Nunca tenha dó daquele que faz folhas. Aquele que faz férias, para ele sempre lá há.
INQ1 Sim senhor.
INF1 E ele, aquele também não quer cá ninguém ao azeite.
INQ1 Pois.
INF1 Ele paga tanto por mês, ou por dia, ou por semana.