INF1 Aqui na nossa zona nunca houve bichos nenhuns desses, que picassem aqui. [vocalização] Pois, não não faziam bem uma picadela dum bicho desses. Agora ao chegar a uma altura de coiso, isso é esses bichos mais coisos é lá das Áfricas, de países desses. Agora cá em países como o nosso, agora cá haver bichas cá agora aí que picam alguém?! É que muita gente tem muito medo duma cobra, isso é tudo asneiras! A cobra faz mal a alguém?! A cobra é um bicho, se você se chegar aqui assim uma cobra e estiver aí uma cobra, ou encontrar uma cobra aí em qualquer banda, pois se você se aproximar dela, ela começa lá com aquilo, fff-fff-fff, a assoprar, principalmente no Verão.
INF2 Ah!
INF1 Se for agora no Inverno, enrola-se aí, e coisa e tal, se você lhe der uma pancada mata-a. Se for no Verão, [pausa] o bicho com o calor, e tal, tal, tal, começa a assoprar, mas ela tenta logo é em fugir de si!
INQ Pois.
INF1 Não se Não se quer aproximar de si.
INQ Claro.
INF1 Tenta é em fugir. Há muita gente é que tem essa mania que uma cobra e que isto e que aquilo. E se for ver uma cobra que esteja muito farta, e essa coisa toda, se lhe puserem um pé em cima e tentarem em coisa e tal, não tem por dúvida de deitar aí cinco ou seis ratos. Que aquilo sustenta-se é de ratos.
INQ Pois.
INF1 E então não tem por dúvida de deitar além pela boca, ou por o fundo, aí [vocalização] cinco, seis, oito, dez ratos. Uma cobra. Uma chufa, ali um bicho desses a um ponto e come aí uma remessa deles. Mas não é aí bicho nenhum coiso, e se for aí para dentro duma horta, essa coisa só faz lá é bem.
INQ Pois.
INF1 As cobras, os lagartos, os sapos, essa coisa toda. A gente é que tem essa mania [vocalização] de, de. Um sapo prega um salto e deita às vezes um esguicho de coisa. "Ah, aquilo faz mal, e faz assim, faz assado"! Os sapos não fazem mal nenhum nas hortas. É como os ouriços. Os ouriços só prejudicam, por exemplo, numa horta, é chegarem lá e levarem uma pera que está no chão, uma coisa dessas e tal. Mas quanto ao resto, o [vocalização] coiso, aquilo come muito rato, homem!
INQ Pois.
INF1 Come muito rato, come muito bicho que prejudica às vezes as hortas. Tanto que até há países… Ele no nosso país é que se come essa coisa toda. Mas se for à Alemanha e mate lá um ouriço que seja coisa de eles verem [vocalização], tem uma multa que é um disparate! Não deixam matar ouriços! Porque sabem que os bichos, que aquilo são bichos que não prejudicam nada.
INQ Pois.
INF1 Aquilo não prejudica nada. E há muita gente aqui no nossas coisas é que é: "Ah, os ouriços assim, os ouriços"!… Aquilo é proibido até! Ele mesmo agora cá no nosso sítio é proibido! Que eles há aí gentinha que têm cães e vão à busca de ouriços para comerem. Mas aquilo coiso… Olhe, faz mais mal comê-los! Eu já comi uma vez um bocado dum dum ouriço, estive aí uns dois dias sem urinar.
INQ Ah!
INF1 Aquilo tem um pêlo! Aquilo tem um pêlo por baixo daqueles picos, naqueles biquinhos, tem um pêlo tão fino, tão fino, tão fino, tão fino, que é preciso muito bem musgado e muito bem arranjado para se comer. Eu como um filha da puta daqueles, comi um bocadinho dum dum fio daqueles, meteu-se-me cá na urina, estive uns dois dias sem urinar. Nunca mais quis tal coisa! Nunca mais! E houve aqui um [vocalização] além na Aldeia Nova que encharcou-se para além num, foi para o hospital, morreu lá. E há aí gentinha que come aquela coisa toda. Aquilo é preciso ser muito bem arranjado. Até há quem diga… Uns dizem que é aquilo, os ouri-, que as ouriças [pausa] que faz mal os pêlos. E há quem diga que a ouriça também quando anda às vezes… Que a ouriça é menstruada como a mulher, a ouriça.
INQ Ah!
INF1 E dizem que quando a ouriça anda com a menstruação, coisa, que prejudica, que faz mal. E agora a pessoa que vai comer aquilo sabe lá quando o bicho anda com isso ou não anda!
INQ Claro.
INF1 Não se sabe. Eu cá fez-me mal e [vocalização] ponho culpas com o ser daquilo que eu comi, de daqueles fiozinhos do coiso. [vocalização] Às vezes até podia a ouriça estar assim e coisa.
INQ Claro.
INF1 Então dizem que a ouriça quando está nessas condições que faz mal, que prejudica. Eu nunca mais comi! Mas há aí gente que dizem que têm comido toda a vida e que não lhe faz mal. Eu nunca mais comi tal coisa! E é um bicho que não faz mal a nada, eu não lhe estou dizendo? Esses bichos só só fazem bem, esses bichos aí no campo fazem bem. Comem ratos, comem [vocalização] porqueiras, outros bichos que prejudicam uma cultura de couve, que prejudicam uma cultura de batata, e essa coisa. Aqueles bichos comem essas coisas todas. Ah! É costume comerem-se, papam-nos. [pausa] Comem-nos.