INQ1 A senhora disse que usava dois fogueiros para fazer quatro bombas. Isso é que eu não percebi.
INF Dois fogueiros…
INQ1 A se-… Quando estava a montar a teia.
INF Ora bem [vocalização], [pausa] porque [vocalização] tinha o [vocalização]…
INQ1 Fazia…
INF O órgão onde se enrolava o algodão,
INQ1 Sim senhor.
INF uma parte era furado –
INQ1 No órgão?
INF dois furos –,
INQ1 Ah!
INF e metia-se lá que era para fazer as quatro bombas para uma mão amarrar outra.
INQ1 Ah! Era para puxar assim.
INF Para puxar a outra.
INQ1 Para enrolar.
INF É isso. Uma mão amarrar outra. Pois.
INQ1 E depois tinha uma, daí junto a essa parte onde se fazia isso, para aquilo não desandar, havia uma, uma coisa que prendia.
INF Depois havia, chamava-se-lhe o… Tinha-se um [vocalização] um pau. [vocalização] Nós até lhe chamávamos um pau.
INQ1 Rhum-rhum. Não davam nome?
INF Não sei se teria outros nomes.
INQ1 Sim.
INF Chamava-se-lhe o pau do órgão. E depois engatava no tear, que tinha um tear… O tear tinha assim uma tábua alta, [vocalização] uma certa parte, com muitos furos, e a gente, depois então, o pau ia e havia outro pauzinho que metia na nos furos, e a gente, aquele pau assentava em cima daquele pau. A pessoa queria a teia mais estique, um fu- um furo mais para cima;
INQ1 Rhum-rhum.
INF queria-a mais bamba, descia um furo mais para baixo;
INQ1 Rhum-rhum.
INF queria botar a teia abaixo porque [vocalização] tinha tecido e era preciso enrolar o pau em baixo, então, deixava, desandava mais um um furo, tornava a meter e tornava a pôr lá no sítio.
INQ1 Sim senhor. Portanto, depois de aquilo estar tudo enrolado no primeiro órgão, os cadilhos passavam através de umas coisas?…
INF Rhum-rhum. Depois os cadilhos eram [vocalização]: tiravam-se então do restelo e eram metidos num pente – chamava-se-lhe o pente de tear…
INQ1 Mas antes de chegar ao pente, havia umas coisinhas que eram…
INF Ah, até é verdade. É os liços. Passavam nos liços, tinham que se meter todos [vocalização] dois a dois em cada [vocalização] em cada, um fio em cada liço, torcidos. Quer-se dizer, [vocalização] os liços eram duas partes; cada parte tinha tinha duas partes, quer-se dizer…
INQ1 Era assim? Era duas coisinhas…
INF A fazer de contas que era: os liços é isto assim.
INQ1 Rhum-rhum.
INF E [vocalização] tinha-se de meter uma vez neste, outra vez neste, outra vez neste, outra vez neste, outra vez neste, outra vez neste [vocalização], certinhos, porque senão [pausa] depois enrodilhava.
INQ1 Não dava certo.
INF E depois dos liços, passava no pente.
INQ2 Quem é que fazia esse trabalho de meter nos liços? Era essa tal primeira, a mais sabida?
INF Pois. Eu, por exemplo, era eu que fazia tudo, que sabia fazer. Em antes Em antes era a [vocalização] outra que sabia mais do que eu, enquanto eu não aprendi.
INQ2 Mas essa foi a última coisa que a senhora aprendeu no tear certamente, não?
INF [vocalização] Sim. Primeiramente, aprendi a tecer com a minha mãe.
INQ2 Pois, que é pôr, só deitar a…
INF Só deitar-lhe a alçadeira e tecer. E depois aprendi [vocalização], a correr do tempo, fui vendo e fui pensando-me [vocalização] em urdir e assim. E então aprendi depois com uma senhora que havia ali em cima, cá em Fiscal. [vocalização] Percebia. Era uma senhora já de idade muito sabida e fui aprendendo com ela e depois comecei eu a…
INQ2 Olhe, quando começam a urdir a teia, quando começam a montar a teia no tear, costumam rezar alguma coisa? Costumavam rezar alguma coisa?
INF Bom, [vocalização] eu de mim [pausa] não usava rezar.
INQ2 Não?
INF Não senhor. A intenção de rezar? Rezava-se sempre. A gente tinha sempre a boa intenção de rezar nas horas próprias. Para isso, não.
INQ1 Mas para fazer esses trabalhos não?
INF Bom, às vezes, quando ia – às vezes, ou até até não sei se seria quase sempre –, quando ia tecer, ao começar a tecer, em antes de começar a tecer, gostava de me benzer. Mas [vocalização], bom, de resto, não.