INQ1 Olhe e também… A senhora também se lembra de, de cultivarem o linho?
INF Lembra, sim senhora, muito bem.
INQ1 Como é que era? Como é que se fazia?
INF Olhe, o linho tem muita coisa, [pausa] muita coisa que se lhe diga. Olhe, [pausa] se a se for a explicar tudo o que dá o linho… O c- o O trabalho que dava o linho é a coisa que dá mais trabalho! Dá mais trabalho do que dava o pão. Bom, vamos lá, primeiro era semeá-lo. Depois, já nem valia a pena em falar em [vocalização] em mondar, que também tinha que ser mondado, mas se quiserem era regar. Depois era arrancado e era o. Tinham, então, chamavam-lhe um restelo para para tirar a baga do linho. É porque [vocalização], pa- [vocalização] Era a semente. Tinha a semente daquela baga e não a deixavam… Ou senão, tinham que deixar amadurar aquela semente no no linho e punham-no assim todo empinado, para amadurar a semente. Mas quando [vocalização] para não ir aquela semente, mais mais depressa , tinham o restelo, tiravam-lhe aquela semente toda.
INQ1 No restelo.
INF No restelo.
INQ2 Como é que se chamava?
INF O restelo. O res- O restelo, restelo, era o parece que era o restelo, para tirar a baga. Mas se não queria, não a tiravam. E depois era enlagado. , [pausa] Ia para a água. Estava nove dias [pausa] a curtir numa charca de água.
INQ1 Nove dias?
INF Nove dias a curtir numa cha-, n- [vocalização] numa charca de água. E era preciso que a água andasse quente! Se a água andava fria, já custava ficava lá mais a curtir. E ao fim daqueles nove dias, [vocalização] tiravam-no [pausa] enxugavam-no bem enx- enxuto, levavam-no para [vocalização] para casa. E aquilo era amaçado com u-, com u-. Tinham um maço de propósito, [pausa] ou um pau com onde lhe pegavam, e [vocalização] e assim um grosso, muito grosso, e só uma mãzeira para pegarem ao pau. Era maçado, maçado… Até maçá-lo bem maçado. Eu pe–
INQ2 Em cima de quê?
INF Em cima d-, du- [vocalização] duma pedra, mesmo. Ou dum pau. Havia ali um pau para maçar aquele linho bem maçado. E depois era esmouçado. Com as mãos, aquilo era tudo esmouçado, ficava só quase já o [vocalização] aquela pragana quase a sair. E depois, então, a própria mulher que o maçava… Havia outra com uma espadana com um corcho e [vocalização] e com a espadana era espadanado. Tiravam-lhe [vocalização] Ficava, então, aquelas – chamavam-lhe uma estriga. Empilhavam o linho assim be- muito bem empilhado, chamavam-lhe uma estriga. E cada, [pausa] cada Já não sei quantas estrigas punham para para uma meada. E depois [vocalização] arranjavam aquelas estrigas e [vocalização] e iam até, às vezes, elas arranjar aqueles… Todas juntas [pausa] iam a um restelo – que chamavam um [vocalização] restelo –, que era com uma coisa com muitos bicos [pausa] um pau; [pausa] com muitos bicos. E tinha: é esta, por uma comparação, era assim. Esta parte, os bicos eram mais ralos e mais grossos. E esta parte, eram os bicos mais miúdos e mai- e mais bastos. Primeiro passavam no aquele linho [pausa] naqueles mais ralos ; [pausa] e depois vinham ao mais basto. E o que lhe tiravam, do linho [pausa] – ficavam aquelas estrigas [pausa] – era o linho [pausa] fino; e o que tiravam era a estopa. Era então fiado tudo à parte. E depois aquilo arranjavam aquelas molhadas…
INQ1 E como é que se chamava então esse, esse coiso com os bicos?
INF É um… Esse é que era [vocalização]… Era um restelo. Esse era o restelo.
INQ1 Não era o sedeiro?
INF É o s-
INQ1 Não? Era o…
INF Era, era O dos bicos era o sedeiro.