Representação em frases

Cabeço de Vide, excerto 17

LocalidadeCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
AssuntoA rega
Informante(s) André

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[1]
INF [vocalização] Essa água que era era do rio.
[2]
Mas havia açudes, que lhe chamam, que era o [vocalização] o comando, [pausa] que mandava a água para as azenhas
[3]
e desses açudes é que é que vinha a água.
[4]
uma vala [pausa] que vai apanhando uma distância grande de terreno
[5]
e esses que ficavam com o terreno à parte de baixo da vala é que a hortavam.
[6]
Mas isso hoje hoje não.
[7]
Hoje se não horta.
[8]
INF Pois.
[9]
INF [vocalização] Olhe [vocalização], ali nesta herdade [pausa] ao fundo da horta, havia um sítio [pausa] que todo o Verão tinha água no cimo da terra.
[10]
E eu digo assim para o patrão:
[11]
"Porque é que você não manda ali abrir [pausa] uma vala [pausa] além para o ribeiro?
[12]
tanta pedra.
[13]
Faz-se ali um, um Faz-se ali um cano [pausa] em pedra seca".
[14]
"Começa tu com ideias"!
[15]
"Então [pausa] vomecê com o pessoal que traz, uma certa altura que avaga certos serviços,
[16]
e então, nessa altura, vomecê pode mandar para o pessoal
[17]
e faz-se a vala.
[18]
Manda para além as parelhas acartar pedra.
[19]
Eu faço Eu faço o tubo".
[20]
"Está bem".
[21]
Fez-se.
[22]
A ág- a água, por baixo Aquilo por cima era barro preto.
[23]
Mas no fundo daquela, aquela fundura, [pausa] era areão, cascalho, terra lavada e a água a aparecer de todos os lados!
[24]
Bem, digo-lhe eu assim para ele:
[25]
[vocalização] "Ouça , então se você me deixasse fazer além uma presa , [pausa] além, que eu punha a água a correr aqui a esta altura do t-, aqui ao nível da terra"? [pausa] diante dum que estava que era o guarda.
[26]
E diz ele assim:
[27]
"Tu estás maluco, !
[28]
Então tu não vês que aqui que que é um terreno muito mais alto do que é além, onde tu estás a dizer que vai dar água para aqui"?!
[29]
"Não é isso que lhe eu estou a dizer, homem"!
[30]
"Então o que é que tu estás a dizer"?
[31]
"Se vomecê autoriza eu fazer além uma represa, que eu ponho a água a correr do fundo do ribeiro aqui ao nível da terra.
[32]
Mas de além aqui tem que fazer uma vala.
[33]
Mas aqui há-de correr aqui ao nível da terra".
[34]
"É o que eu digo:
[35]
tu estás maluco"!
[36]
E eu faço assim para ele:
[37]
"Ouça , [pausa] e se isto aparecer feito [pausa] como eu estou a dizer, o qual é que é o maluco"?
[38]
[pausa] "Era eu.
[39]
Mas não sou,
[40]
porque isso nunca pode isso nunca pode ser.
[41]
Isso nunca pode ser".
[42]
"Está bem"!
[43]
Ele [pausa] abala para Lisboa
[44]
[pausa] e deu as ordens ao guarda.
[45]
O guarda no outro dia de manhã:
[46]
"Uns vão para aqui",
[47]
"outros vão para além",
[48]
"outros vão para outro lado".
[49]
E eu faço assim para o guarda:
[50]
"Ouça , agora era melhor era uma altura boa para se fazer além a presa".
[51]
"Então ele deu ordem"?
[52]
""!
[53]
[pausa] "Então, olhe, leve os que quiser
[54]
e para ".
[55]
"Não.
[56]
Não é preciso levar muitos.
[57]
[pausa] Comigo, três.
[58]
Vão mais dois desses.
[59]
A gente vamos fazer aquilo".
[60]
Cheguei ,
[61]
dei a vala de empreitada aos outros dois
[62]
e eu fui fazer a presa.
[63]
No fim, faço assim para os outros:
[64]
"Eh !
[65]
Eu enganei-me"!
[66]
Porque estava a ver aquilo que os outros [pausa] viam mas não viam.
[67]
"Eu enganei-me"!
[68]
"Então"?
[69]
"Então?!
[70]
[pausa] Então, esta empreitada minha é maior ca a que à sua de vocês.
[71]
Então vocês depois não me vêm ajudar"?
[72]
"Não.
[73]
Então cada um acaba a empreitada que apanhou".
[74]
"Bem, sei que fiquei fiquei à rasca eu"!
[75]
Eu a pensar para os meus botões:
[76]
"Mal vocês sabem que eu que acabo a empreitada
[77]
e voc- e fico eu a olhar para vocês".
[78]
Eu acabei a empreitada,
[79]
pus uma pedra em cima do do coiso,
[80]
mas logo no fundo ficou um um tubo.
[81]
A água estava a sair para o ribeiro à mesma.
[82]
[pausa] E digo eu assim:
[83]
"Bem, vocês disseram que que cada um acabava a sua empreitada.
[84]
ver quando é que acabam a sua.
[85]
Eu agora pus a rolha ali no coiso.
[86]
Eu não quero Eu não quero encher isto de água ainda agora.
[87]
Isto há-de ser cheio de água
[88]
mas não é agora.
[89]
Tem que passar aqui uns dias para assentar a terra, e estas pedras, esta coisa que eu aqui pus,
[90]
mas vocês têm que acabar de abrir isso".
[91]
"Pode largar a água
[92]
que a água não vem , homem"!
[93]
Toda a gente dizia que a água que não ia !
[94]
Não era o patrão:
[95]
era o guarda,
[96]
era os carreiros,
[97]
era
[98]
Toda a gente que andava .
[99]
Aqueles dois que andavam comigo também diziam que a água que não corria.
[100]
Eles diziam que a água que não corria.

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