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Cabeço de Vide, excerto 61

LocationCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
SubjectAs aves de capoeira
Informant(s) André
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF As galinhas [vocalização] parece que dantes que não era assim.
[2]
Mas agora [vocalização], já tenho ouvido queixar muitas pessoas;
[3]
as galinhas habituaram-se a comer os ovos.
[4]
Elas mesmo.
[5]
E lá naquele monte aonde eu estive havia muita galinha.
[6]
Mas havia uma cerca em rede; [pausa] que elas estavam lá.
[7]
INF Então eu [pausa] o que é que havia de fazer?
[8]
Elas comiam os ovos
[9]
e quando uma punha um ovo lá no meio da da rede, ali no no campo, aquilo era uma festa.
[10]
Era todo o bichinho é que lá corria a picar no ovo.
[11]
Digo:
[12]
"Essa é boa!
[13]
Tenho que arranjar uma ideia para elas deixarem de comer os ovos".
[14]
[pausa] E digo assim para o para um filho do patrão,
[15]
digo:
[16]
"Tenho que arranjar uma ideia para para as galinhas deixarem de comer os ovos".
[17]
"Ai, [pausa] Senhor André, isso, esqueça-se disso!
[18]
Elas estão habituadas,
[19]
elas comem".
[20]
"Não comem.
[21]
Eu arranjo-lhe um ninho que elas não há-dem comer os ovos".
[22]
"Está bem.
[23]
Essas que puserem ali no meio"…
[24]
"Mas eu arranjo-lhe um ninho que elas não põem não há-dem comer os ovos".
[25]
Que elas, mesmo os ovos que iam lá pôr ao coiso, comiam-nos logo lá.
[26]
O que é que eu faço?
[27]
Arranjo dois paus compridos, que apanhava [vocalização] a casa de [vocalização] donde elas dormiam de um lado ao outro.
[28]
[vocalização] Pus-lhe uns pés;
[29]
[pausa] arranjei uns travessões, [pausa] assim [pausa] de de pau a pau;
[30]
e pus-lhe umas sacas.
[31]
Dumas sacas que dantes traziam cem quilos – [pausa] fortes! –,
[32]
pus-lhe umas sacas daquelas assim no coiso.
[33]
Abria-lhe um buraco
[34]
e fazia-lhe um tecido com um cordel, à roda do buraco.
[35]
[vocalização] Tudo aquilo fazia uma barreira [pausa] assim em palha, por baixo.
[36]
, [pausa] E na frente, tapei aquilo [pausa] com um pano.
[37]
Claro que [vocalização] elas voavam para cima daquilo;
[38]
punham lá os ovos.
[39]
Os ovos, conforme elas se mexiam, o ovo [pausa] furava pelo buraco
[40]
e
[41]
INF ia lá logo para a palha.
[42]
[pausa] Eu ia,
[43]
levantava o pano cá na frente
[44]
e tirava o o- e tirava os ovos.
[45]
Bem, eles quando viram aquilo:
[46]
"Eh homem dum filha da puta!
[47]
Então não arranjou mesmo uma ideia para os para as galinhas não comerem os ovos"!
[48]
Você sabe quando foi no fim para aí duns três meses [pausa] as galinhas o que não foram capaz foi desfazer o cordel,
[49]
mas à roda do cordel, [pausa] picadela agora, picadela logo, picadela e picadela, picadela, até que o cordel saiu todo de lá.
[50]
E as galinhas passaram a ir pôr lá debaixo do pano.
[51]
Mas como aquilo estava tapado,, [pausa] elas não viam,
[52]
punham os ovos
[53]
e não os comiam.
[54]
Mas [pausa] com a continuação, começaram a comê-los, lá mesmo debaixo.
[55]
"Eh, rapaz!
[56]
Espera,
[57]
vou fazer isto doutra maneira".
[58]
Arranjei daquelas sacas que vem que vinham com o, com o, com o com o adubo –
[59]
que era aquele plástico grosso –,
[60]
tirei as outras sacas que lá estavam
[61]
e pus aquelas.
[62]
[pausa] Pois elas com muito tempo também alargaram os buracos!

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