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Carapacho, excerto 28

LocalidadeCarapacho (Santa Cruz da Graciosa, Angra do Heroísmo)
AssuntoO porco e a matança
Informante(s) Glória

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[1]
INF Então a gente faz sempre [vocalização] da forma do costume de dos nossos antigos.
[2]
Fazia sempre.
[3]
INF Ele a gente fazia em tempo era em três dias.
[4]
Agora [vocalização] habituaram-se a fazer em dois, [pausa] a maioria.
[5]
INF Em três dias era a mesma coisa,
[6]
mas levava o fim-de-semana aquela festa.
[7]
Mas depois mudaram para dois dias,
[8]
a gente faz em dois dias.
[9]
A gente mata o porco da manhã.
[10]
Quando chegam, a gente oferece biscoitos e [vocalização] …
[11]
INF Quando chegam os convidados, [pausa] as nossas famílias e alguma pessoa amiga.
[12]
INF Ele eu não sei.
[13]
Ele eu em tempo, tínhamos muitas,
[14]
mas agora morreu as minhas famílias,
[15]
só tenho agora o meu filho e a minha nora, e os meus três netos,
[16]
e é o sogro e a sogra de [vocalização] do meu filho
[17]
e é a sua avó.
[18]
Essas pessoas que a gente tinha…
[19]
INF E a gente cá de casa, os dois.
[20]
INF Os vizinhos vêm, às vezes, à noite, ver o porco.
[21]
Outras vezes, não querem vir à noite [pausa] passear,
[22]
vêm noutro dia da manhã ver o porco.
[23]
E da manhã, quando a gente mata, a gente oferece biscoitos e aguardente.
[24]
[pausa] Em tempo, era assim.
[25]
Agora desde que o meu filho se mandou e casou, a gente faz tudo é à moda da Ribeirinha.
[26]
Eles chegam,
[27]
[pausa] vão é…
[28]
INF É.
[29]
Vão é almoçar.
[30]
[pausa] E depois do almoço põem em cima da [vocalização] da mesa, em duas mesas, duas bandejas com biscoitos, [vocalização] e aguardente para aqueles que querem.
[31]
Depois vão apanhar o porco
[32]
e vão matá-lo.
[33]
Depois vão chamuscá-lo.
[34]
[pausa] E depois daí, [vocalização] na altura que está chamuscado de um lado, [vocalização] vão com biscoitos…
[35]
Ele é cavacas que é assim uma coisa mais leve – para não ter mais demora – e uns rebuçados para eles comerem.
[36]
Depois ficam a acabar de chamuscar,
[37]
ele viram o porco,
[38]
tornam a [vocalização] chamuscar.
[39]
E ao cabo de chamuscar, vêm para dentro,
[40]
vão almoçar.
[41]
INF É [vocalização] Almoça-lhe [vocalização] é o que a gente tem.
[42]
É o queijo e o pão, queijo de peso e pão de trigo, e [vocalização] café.
[43]
E depois vão para fora lavar o porco.
[44]
INF Os homens
[45]
e há mulheres que vão.
[46]
Mas eu nunca vou
[47]
porque também em casa do meu pai eu não ia.
[48]
Porque nós ali apanhamos-lhe o vinho .
[49]
Fui dois dias
[50]
mas disse-lhe que não ia mais.
[51]
Vindimavam quinze dias
[52]
[pausa] e estive quatro dias de vindima,
[53]
também não me convinha.
[54]
Depois, daí, [vocalização] vão lavar antes de lavar as tripas eles vêm para dentro,
[55]
oferecem-lhe pão e [vocalização] daquele sangue cozido que [vocalização] que vai para a morcela e gua–.
[56]
INF No primeiro dia.
[57]
INF É, sim senhora.
[58]
Então [vocalização] pegam no sangue,
[59]
depois cozem umas postas que é para o sarapatel e dessas postas,
[60]
se tem bastante – que às vezes ele fica com ele dentro em si –, depois botam-lhe o alho, malagueta,
[61]
e comem com pão.
[62]
E bebem vinho os que gostam
[63]
e os que não gostam comem biscoitos.
[64]
Depois ele desmancha-se as tripas,
[65]
vão lavá-las.
[66]
INF Os homens [pausa] vão lavar.
[67]
INF Toca a lavar!
[68]
Não senhora.
[69]
[vocalização] O meu filho fica, à direita, na Ribeirinha, quem vai para a Esperança.
[70]
E vê-se mais gente
[71]
que é ali talvez como ali ao pé daquele tonel.
[72]
[vocalização] É os poços da Ribeirinha.
[73]
Tem ali água ao pé.
[74]
E tem uma cisterna de água.
[75]
Depois, daí, eles ficam a lavar as tripas.
[76]
[vocalização] E o jantar está a andar.
[77]
[pausa] Toca a ir tirar o jantar, para comerem.
[78]
Depois um vai tratar do seu gado,
[79]
um vai para aqui,
[80]
outro vai para ali,
[81]
outros ficam a jogar às cartas.
[82]
Depois os outros desembaraçam-se
[83]
e vêm,
[84]
estão todos juntos.
[85]
Quando é à noite, estão para ali a fazer serão, a jogar às cartas, outros a tocar, cantarem,
[86]
outros é a ver televisão, outros a ouvir gira-discos.
[87]
É assim.
[88]
E passa [vocalização] – às vezes ele a jogar – a ceia às vezes para as duas, três horas.
[89]
Mas ele já há uns anos o meu homem anda muito doente.
[90]
Chega-se à noite –
[91]
e depois também tenho os meus bichos:
[92]
"Quero-me ir embora".
[93]
[pausa] Ai, meu Deus!
[94]
E [vocalização] E no outro dia então, da manhã, desmancham o porco [pausa] para salgar.
[95]
E tiram-lhe o que é dado, pois ele o que é para o para os torresmos.
[96]
Bota-se-lhe água e sal,
[97]
e depois daí – daí a uma hora, ou hora e meia – tiro-os da água e sal,
[98]
fazem o molho de vinha-de-alhos com alho e [vocalização] vi [pausa] alho e malagueta e canela.
[99]
Botam aquilo por cima,
[100]
botam-lhe uns canados de vinho

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