Representação em frases
Carapacho, excerto 32
Texto: -
INF1 E a senhora sabe uma coisa?
Agora ganha-se bons dinheiros mas…
INF1 Eu tive um tio – um tio da minha mulher – [pausa] em bem que soube que a gente tivemos a carta [pausa] de minha irmã para chamar a gente para a América…
Como a minha irmã foi, eu também podia ter ido mais o meu irmão.
[pausa] Eu disse: "Olha-me isto, eu com nove filhos para a América"?!
Eu sem ter o valor dum tostão, [pausa] sem casa, sem propriedade, sem nada, coisa nenhuma de valor,
[pausa] eu para me pôr com esta família na América – que o filho que eu tenho mais novinho vai fazer agora cinco anos para Ma-, para, para para Fevereiro, [pausa] o resto é tudo já rapa- rapaziada grada –, eu nunca mais me ponho na América com nada menos duns cento e cinquenta contos.
INF2 Agora vai-se mais fácil para lá .
[pausa] que eu apanho uma infelicidade [pausa] que eu morro?!
Ou [vocalização] Ou [vocalização] que me falta um trabalho qualquer…
Quer dizer, falta de trabalho para mim, [vocalização] não faltava,
porque eu botava-me ao primeiro que fosse, nem que fosse a limpar desse arrebouço que aí está.
Tudo quanto fosse preciso limpar, eu limpava.
INF1 Mas, numa comparação, Deus dá uma doença, numa comparação, a mim,
porque eu é que era o banqueiro,
eu é que era o chefe da navegação,
INF2 O cabeça, era, pois.
INF1 Eu é que vou trabalhar sozinho.
INF1 A mulher, se for trabalhar, têm que ficar [vocalização] os miúdos em casa.
INF2 Tem de pagar a quem…
INF1 Se calha a apanhar aqui um estupor duma doença para pagar cento e cinquenta contos…
INF1 Eu nunca mais me livro daqui para fora.
mas é para as para as Vergas,
que eu nunca mais me safo.
E numa nação alheia [pausa] a quem é que vou mostrar cara?
Agora já me me favoreceram um dinheiro, [pausa] se eu quisesse ir.
Ia sem pagar rendimento, essa coisa,
Se eu tivesse que ver a América…
Porque eu tenho um irmão na América.
[pausa] O meu irmão mais velho com [vocalização] tem cinquenta e um ano.
Eu estava na tropa quando ele foi para a América.
Se ele quisesse que eu estivesse bem, ele tinha-me posto na América,
lembra-me perfeitamente, já há uns vinte anos.
INF2 Meu irmão fez a chamada…
Quem fez a chamada foi a minha sobrinha do lado dele,
INF1 Não quero saber daquela nação para nada.
[pausa] hoje vive-se aqui…
INF2 Diz que vai ser proibido.
INF1 Agora pode, como dizia o outro, estar em condição de estar proibida.
INF1 Mas eu a qualquer uma hora que queira ir para a América, estou a modo de seguir.
Tenho a carta em casa a modo de seguir.
Tenho a carta já feita já há mais de dois anos.
É só chegar-me, numa comparação, a um banco, ele arranjar…
Mas quem é que vai sair agora?
Homem, não quero saber disso para nada, vez nenhuma.
Mesmo a minha não tem vontade nenhuma.
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