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Granjal, excerto 67

LocalidadeGranjal (Sernancelhe, Viseu)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Ercília Elisa

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[1]
levantávamo-nos além.
[2]
E até que demos lá com o carreiro, lá viemos.
[3]
Ao passar da ribeirinha – pimba!
[4]
INF1 Caiu para dentro.
[5]
INF2 Caiu para dentro da ribeira.
[6]
Era um escuro que não se via!
[7]
INF1 Não se via nada!
[8]
INF2 Digo logo eu: "Eu já deixo ficar a saca!
[9]
Parece que até foi castigo que nos deram!
[10]
Eu não quero saber da saca, nem saco.
[11]
O que me quero é ir embora,
[12]
quero lá saber disto".
[13]
E comecei assim a berrar.
[14]
Lá peguei na saca,
[15]
pu-la de cima da parede do senhor Ezequiel.
[16]
INF1 Pois.
[17]
INF2 Eu e o meu pai lá tirámos a saca toda molhada,
[18]
lá deixámos a saca lá detrás dum do coiso, para o outro dia para enxugar ao sol.
[19]
E lá pega ele depois na minha saquinha…
[20]
INF1 Coitadinho!
[21]
INF2 E a dele ficou lá a escorrer.
[22]
INF1 Pois.
[23]
INF2 Chegámos a passar ao lameirinho da do meu compadre Eustáquio, lá no moinho velho.
[24]
INF1 Pois.
[25]
INF2 "Cai o meu compadre Eustáquio para a presa dele".
[26]
INF1 Ai, credo!
[27]
INF2 Lá ficou a saca dele também toda molhada dentro da presa.
[28]
INF1 Ai, que trabalhinhos!
[29]
INF2 Só arrumei Só arrumaram a minha saca e a do Labão.
[30]
INF1 Trabalhinhos que passavam!
[31]
INF2 Só arrum- arrumaram a minha saca e a do Labão…
[32]
Lá na corte dele.
[33]
Que tinha lá uma corte lá na serra.
[34]
Lá naquele lugar para baixo.
[35]
INF1 Pois, no moinho velho.
[36]
INF2 Pois.
[37]
Lá ficaram as duas arrumadas
[38]
e as outras…
[39]
Estava tudo cheio de água.
[40]
INF1 Lá ficaram a escorrer.
[41]
INF2 Lá as trouxeram e lá as secaram dentro da corte.
[42]
INF1 Pois, dentro da corte.
[43]
INF2 Lá as secaram.
[44]
Chegámos a casa…
[45]
O gado que nós tínhamos era daquela senhora.
[46]
Que era ao ganho.
[47]
Só as cabras é que eram nossas.
[48]
E também tínhamos o gado mas era menos.
[49]
Mas o gado era da senhora Elina.
[50]
INF2 Era as ovelhas.
[51]
INF1 É as ovelhas e os carneiros.
[52]
E as cabras.
[53]
INF2 Chegámos a casa,
[54]
a minha mãe e os meus irmãos a chorarem lágrimas de sangue porque o meu irmão, [vocalização] o chegante a mim – ainda hoje aqui esteve na minha casa, o meu Fábio –, tinha perdido as cabras todas.
[55]
INF1 Ai Virgem Mãe!
[56]
INF2 Chegámos a casa – eram três horas da manhã, com este sarilho.
[57]
Três horas da manhã que nós chegámos.
[58]
E foi ao escurecer que nós [pausa] tivemos isto.
[59]
INF1 Oh, valha-me Deus.
[60]
INF2 As cabras tinham desaparecido.
[61]
Olha, lá vai o meu pai – Deus lhe perdoe – e o meu irmão, o mais velho, o Fabrício,
[62]
e lá vai a minha mãe,
[63]
e lá vão todos à pergunta das cabras.
[64]
Lá estavam lá metidas na serra, de cima dos calhabouços…
[65]
INF1 Pois, elas fogem para os calhabouços por causa dos lobos.
[66]
INF2 E lá estavam as cabrinhas.
[67]
Quando chegaram a casa…
[68]
INF1 Elas em lhe cheirando os lobos, fogem para o penedo mais alto que podem.
[69]
INF2 Quando chegaram a casa…
[70]
INF1 É as pedras.
[71]
É pedras.
[72]
Os penedos grandes!
[73]
INF2 É pedras, calhaus, penedos.
[74]
E elas vão sempre para cima daqueles muros.
[75]
INF1 Fogem por causa dos bichos.
[76]
INF2 Para verem os lobos.
[77]
INF1 Pois.
[78]
INF2 Para verem os lobos.
[79]
São muito finas.
[80]
[pausa] E lá chegaram a casa era de manhã.
[81]
E nós a cuidar que as cabrinhas estavam todas comidas dos lobos.
[82]
Está a ver?
[83]
A tirarmos dum lado íamos perdendo do outro?
[84]
INF1 Pois.
[85]
INF2 Cada um com aquilo que é seu!
[86]
Deus me livre!
[87]
Nunca mais!
[88]
Foi a primeira vez que fizemos aquilo e a última.
[89]
INF1 Nunca mais.
[90]
INF2 Nunca mais andámos lá nos carvões.
[91]
INF1 Dava muito trabalhinho, dava!
[92]
Olha que o meu marido passou-me ele passou bem poucos trabalhos!

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