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Ponta Garça, excerto 58
Text: -
INF [vocalização] A gente [vocalização], o meu pai, e eu, eu sempre me lembra que [vocalização] os que tinham ovelhas –
eu ainda tenho aqui uma tesoura que era para fazer esse esse…
Se quiser ver, eu posso ir lá mostrar.
mas era com aquilo que a gente cortavam a lã da ovelha.
O senhor vai-me dar licença que eu vou buscá-la.
INF A tesoura que a gente se tosquiavam as ovelhas!
A gente trazíamos aqui para baixo,
depois a gente peavam-nas, [vocalização] as mãos e os pés, para elas estarem quietinhas,
a gente pegavam-lhe pela cabeça,
começavam pela cabeça, e iam,
[pausa] e iam cortando em toda a volta,
e a lã ia enrolando de volta do corpo da ovelha…
[vocalização] A tal, era Era com essa tesoura que se cortava a lã da ovelha.
Agora têm máquinas preparadas que é como um mochim.
Mas no tempo era com isso.
INF A gente traziam-nas para casa.
INF A gente O meu pai trazia, quando era era…
Que a gente tosquiavam as ovelhas duas duas vezes no ano – duas ou três vezes, parece-me.
[pausa] Não tenho bem a certeza,
mas duas e-, era era firme.
Porque se não se tosquiava as ovelhas a tempo e a hora, elas ficavam tomadas [pausa] e morriam.
INF Ele morriam com a lã de ovelha porque era muito quente nelas.
A gente tínhamo-las que tosquiar [vocalização] nas épocas [pausa] próprias para para elas não morrerem, não é?
Traziam A gente traziam as nossas era para para casa,
não era dentro em casa, era atrás, [vocalização] ou num pátio assim como há aí.
INF A gente, por exemplo, se fosse nesse tempo, era aí fora que se tosquiava as ovelhas.
INF [vocalização] Quem tinha, isto é [vocalização], curral…
[vocalização] Aqui, em Ponta Garça, eu nunca vi ovelhas acurraladas.
Ovelhas, quem as tinha era amarradas como eu já disse ao senhor.
Ele andavam sempre mais acauteladas, então, mais perto de casa por causa dos cães.
Porque os cães degolavam muitas ovelhas!
[vocalização] Chupavam o sangue
Há. Hoje já não se usa curral;
usava-se curral para para vacas – para as vacas!
INF E os cabreiros, para as cabras!
INF E algum que tinha alguma ovelha, de repente caldeada com a cabra, também vinha para o curral, não é?
INF Porque, às vezes, um cabreiro tem uma ovelha ou duas, não é,
Hoje já não há cabreiros aqui também!
INF Havia muitos, muitos cabreiros!
E, e essas que tinham E essas pessoas que tinham ovelhas, como o meu pai e mais pessoas aí para cima, não não as traziam para o curral.
[vocalização] Andavam sempre mais perto e ao jeito da gente, não é, ao de casa, não é, [vocalização] nesses bocadinhos mais perto de casa, por causa dos cães…
INF [vocalização] Isso as ovelhas não precisam de abrigo.
Não Nunca precisaram muito de abrigo porque [vocalização] elas por si se abrigam!
A ovelha quando está coberta de lã, [pausa] ela não acha frio nenhum.
INF Que até o que se costuma-se a dizer [vocalização]…
Uma pessoa, [pausa] às vezes, o tempo está norte, não é, e o no- norte, ela, de cima, fica abrigada rente a uma barreira, não é verdade?
Mas a ovelha, às vezes, procurava contra
Tu estás como as ovelhas:
tu procuras contra o tempo"!
A ovelha no tempo que estava norte e ela aí é que fugia ali para baixo!
INF Não sei se o senhor está compreendendo?
INF O norte abriga de cima, não é,
e elas não não se abrigavam.
Elas estavam cheias de lã, não é,
Era andar para baixo, contra o tempo!
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