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Monsanto, excerto 12

LocationMonsanto (Idanha-a-Nova, Castelo Branco)
SubjectO linho, a lã e o tear
Informant(s) Amália
SurveyALEPG
Survey year1980
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Tive umas poucas de aprendizas, ainda, a aprender.
[2]
Cheguei a ao mesmo tempo.
[3]
E eu fazia-me confusão como é que elas haviam de aprender.
[4]
Metia-se-me cá na ideia que elas que não eram capazes de aprender.
[5]
Umas Mas aprendiam logo.
[6]
Porque eu também aprendia depressa, porque eu não me custa a aprender, porque eu também…
[7]
Depois de feita a, a [vocalização] a aprender!
[8]
Não aprendia era o que não me ensinavam.
[9]
INF Porque até eu. [pausa] até já tenho estado a sonhar que eu que escre- que escrevia uma carta.
[10]
O que não sabia era ler.
[11]
INF Mas aí disse: "A mãe te eduque".
[12]
Olhe, eu oriento-me mesmo pus-me com tudo!
[13]
[pausa] De- De solteira, tive uma vida [vocalização], só com os meus pais, muito muito bonita.
[14]
Que os meus pais tinham só duas filhas
[15]
e [vocalização] tínhamos assim os encarregados,
[16]
estávamos só em casa, na nossa vida.
[17]
E depois então quando casei, a vida modificou muito.
[18]
INF Comecei a ter filhos
[19]
e depois o [vocalização] o tempo foi muito ruim também .
[20]
[pausa] E eu tive que me deitar a tudo.
[21]
Tive quatro filhos mas esses quatro.
[22]
Tive que me deitar a tudo, que senão só com o [pausa] com o ordenado do meu homem não me safava de maneira nenhuma.
[23]
Mas assim, [vocalização] fui-me safando.
[24]
Mas naquele tempo custava muito a safar.
[25]
Porque a gente ganhava poucochinho.
[26]
Mas também se pagava tudo mais barato.
[27]
Vai dar ao mesmo.
[28]
[vocalização] E depois, é como digo:
[29]
comecei depois nessa altura,
[30]
comecei a achar graça ao tear e [vocalização] .
[31]
Enquanto fui solteira, não nada disso me meteu cobiça.
[32]
Mas depois comecei a achar graça ao tear, de casada.
[33]
Gostei até muito!
[34]
INF Para fora, também muito.
[35]
Mas havia muito que fazer.
[36]
É como digo:
[37]
eu ensinei aquelas aprendizas,
[38]
tinha-as ali [vocalização] a biscate de mim
[39]
e tive sempre tinha…
[40]
Era para mim e para elas,
[41]
tinha começar a fazer, mas à fartura.
[42]
À fartura!
[43]
E elas então, em pouco tempo, aprenderam.
[44]
Despacharam aí obra que era uma maravilha!
[45]
E eu digo assim: "Mas como é que nos havemos de arranjar"?
[46]
É porque isto isto aqui faz confusão!
[47]
A gente a meter aqui os fios todos certos .
[48]
INF E então depois quando se parte o cabresto?
[49]
Este não parte.
[50]
O algodão parte todo.
[51]
Mas o que era linho, [pausa] isso era a partir, a partir, a partir.
[52]
A gente ia,
[53]
está só a atar.
[54]
[vocalização] Depois tinham que se atar todos os fios aqui todos, para ficar aqui tudo certo.
[55]
Um detrás, outro diante.
[56]
Umas vezes além.
[57]
E a gente tem que vir de além,
[58]
e aqui ago- apanha muito, tudo, tudo.
[59]
INF Tudo logo assim .
[60]
Se começa naquesta tem que se acabar sempre naquesta.

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