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Porches, excerto 14

LocationPorches (Lagoa, Faro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Abelino
SurveyBA
Survey year1987
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Mas um homem, que mora além daquele lado daquele serro, que me tem contado isto [vocalização] algumas vezes.
[2]
E depois, um dia, ele estava-me contando isso
[3]
e, depois, chegou a mulher
[4]
e ele perguntou à mulher.
[5]
A mulher confirmou [pausa] que, realmente, era verdade o que ele estava dizendo.
[6]
Além, para São Bartolomeu, havia para um [vocalização] um lavrador, um proprietário, [vocalização] que tinha muito trigo [pausa] para ceifar.
[7]
Ou andavam, iam Foram ceifar [pausa] o trigo naquele dia.
[8]
E tinha naquela herdade tinha [pausa] uma casinha.
[9]
[vocalização] E então, ele foi [pausa] e diz: "Ó moço, olhe, não se ceifa.
[10]
Isto está o tempo de chuva, águas brandas.
[11]
[vocalização] E, então, depois vamos atar o trigo,
[12]
isto tudo molhado,
[13]
depois isso amolece.
[14]
Ah, não se ceifa"!
[15]
Diz-lho [vocalização] Disseram eles assim: "Ó senhor Fulano, o melhor é a gente ceifar.
[16]
Pode vir para aí alguma água [pausa] forte que, depois, deite o trigo abaixo.
[17]
[pausa] E, depois de o trigo estar em baixo, é muito ma- é mais mau de ceifar [pausa] e pode prejudicar mais".
[18]
"Eh, não.
[19]
Isto, nem Deus nem o Diabo [pausa] leva nada daqui"!
[20]
Disse ele esta palavra.
[21]
Que eu não gosto de dizer esta palavra que eu disse.
[22]
Eu não gosto de falar nesse nome.
[23]
E de maneira, começa a chover,
[24]
ele abrigou-se aqui no vão da porta.
[25]
Veio o vento,
[26]
levou o telhado.
[27]
E ele ficou abri- aqui no vão da porta, entre as paredes, a- abrigado.
[28]
Acabou de chover
[29]
[pausa] e foi ele [pausa] ver o trigo.
[30]
E A ver o trigo,
[31]
que ele fazia assim.
[32]
E ele não queria saber nem de igrejas, nem disto, nem [pausa] de coisa nenhuma.
[33]
Não queria saber de nada.
[34]
Andava [pausa] a ver o trigo
[35]
e fazia
[36]
A ver
[37]
A ver o trigo dele rasinho, tudo traçado, no chão e a seara dos vizinhos toda boa.
[38]
"Ora esta"!
[39]
Ele abanava a cabeça, de ver os vizinhos tudo tudo bem e a dele tudo raso com a terra.
[40]
Foi para ca-.
[41]
Não disse nada.
[42]
Foi para casa,
[43]
mandou [pausa] a [vocalização] família [pausa] se ir vestir.
[44]
"Mas para quê, homem"?
[45]
"Vistam-se ,
[46]
vistam-se ".
[47]
[vocalização] Puseram-se a cavalo na carrinha, a [vocalização] cavalo da carrinha, sem saber para onde iam.
[48]
E, depois, chegaram ao povo [pausa] de São Bartolomeu,
[49]
volta a carrinha por o lado da igreja.
[50]
E foram para a igreja.
[51]
E a família, a mãe, o [vocalização] mari- ti a mulher e os filhos [vocalização] admirados [pausa] daquele trabalho.
[52]
Ele não dizia nada.
[53]
Se ele é vivo, ainda hoje diz que vai à igreja.
[54]
Mas não deve de ser vivo.

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