Representação em frases

Camacha, excerto 10

LocalidadeCamacha (Porto Santo, Funchal)
AssuntoA alimentaçãoOfícios, profissões e outras atividades
Informante(s) Acidália

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[1]
INF Sim,
[2]
também se dizia: "Está,
[3]
estava ;
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olha, está ela focinhando".
[5]
Enterravam-se.
[6]
O meu pai chegou a ter Porque se sabe naquele tempo, a gente, [pausa] era um poder de filhos
[7]
e não havia comer,
[8]
não haveria.
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Mesmo o dinheiro era pouco
[10]
[pausa] e não havia tanta experiência como agora.
[11]
Isto agora
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Não havia electricidade naquele tempo,
[13]
não havia ferro eléctrico,
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não havia [vocalização] nada.
[15]
Nem casas-de-banho havia!
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INF Para quem era mais pobre, não havia casas-de-banho.
[17]
Eu , lembra-me muito bem, que eu vou fazer sessenta e cin- e três anos, lembra-me muito bem de [vocalização] as coisas que havia, pobrezas
[18]
INF Chegava-se ao Natal;
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toda a gente estava desejando de chegar ao Natal, que era para comer massa e arroz [vocalização] e um bocadinho de carne.
[20]
E minha mãe chegava a partir uma laranja para dois, porque não havia, não havia dinheiro que comprasse.
[21]
Havia laranjas
[22]
mas não havia dinheiro que comprasse.
[23]
INF O meu pai era lavrador.
[24]
[pausa] Se [vocalização] chovesse, que o meu pai tivesse [pausa] trigo e cevada para o ano inteiro, [pausa] a gente tinha a nossa fartura de pão.
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Mas se não havia para o ano inteiro, era [vocalização] deste milho!
[26]
Ia-se buscar este milho,
[27]
havia moinhos de vento, aqui que agora um, mas o dono até morreu [pausa]
[28]
e moía-se
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[pausa] e a minha mãe fazia [vocalização] milho, [pausa] como agora se faz deste [vocalização], destas arepas, da farinha [vocalização] [pausa] da Venezuela.
[30]
INF Mas a gente fazia era da nossa casa, [pausa] milho.
[31]
[pausa] Se havia leite, comia-se com leite,
[32]
se havia peixe, comia-se com peixe
[33]
e se não havia peixe, minha mãe fazia café, [pausa] dava uma chávena de café a cada um e a gente comia com o milho.
[34]
E [vocalização] dava um jantar!
[35]
Sim senhora.
[36]
INF E eu bordava,
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quando eu era mais pequena, bordava, bordava
[38]
Eu enchia os lenços à roda
[39]
e minha mãe então fazia o cantinho, [pausa] que era para ir todo para casa.
[40]
Trabalhei [vocalização] tantos anos para casa.
[41]
Acertei o casamento ia [vocalização] também ia fazer dezasseis anos com este maluco que andou sempre atrás de mim,
[42]
que isto é mais velho dez anos que eu!
[43]
Acert-, acertei o casamento, se sabe que [vocalização] Acertei o casamento,
[44]
tinha uma [vocalização] colcha e um guardanapo,
[45]
até era um [vocalização] paninho de tabuleiro.
[46]
Mas fizemos aquela capela que é de Nossa Senhora da Graça foi com romagens e com ofertas e tudo!
[47]
E dava-se aqueles paninhos, aquele [vocalização] croché e tudo, que era tudo para vender, para a ajuda da capela!
[48]
Ora, veio uma senhora dali de cima tirar [vocalização] uma ofertazinha, para cada uma dar o que quisesse.
[49]
Eu nem sequer ainda tinha mala, direitamente, porque sabe primeiro a gente comprava a nossa malinha;
[50]
agora é que tudo isto,
[51]
[vocalização] as arcas e estes [vocalização] e estas cómodas e tudo
[52]
INF Era uma malinha, que minha mãe tinha, meia velhinha
[53]
e disse: "Olha, pois a mãe vai-te dar aquela malinha para tu pores as tuas coisinhas".
[54]
Ora, tinha tinha a colcha e o guardanapo,
[55]
veio uma senhora
[56]
e disse: "Olhe, venho aqui ver se ver se nos quer dar alguma coisa para a capela, porque vai-se fazer a romagem, vai-se levar areia e tudo".
[57]
E eu vou àquela mala
[58]
e dei o guardanapo.
[59]
Ora, uma rapariga que andava para casar, que tinha uma colcha!
[60]
INF Mas dei o guardanapo a Nossa Senhora, graças a Deus!
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E a minha vida foi crescendo
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e ao depois eu casei-me;
[63]
fiquei logo grávida porque eu estava menstruada,
[64]
fiquei logo grávida.
[65]
A cabo de, se pode dizer, antes dum ano, tive um [vocalização] menino
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mas [vocalização] estive muito mal,
[67]
o menino morreu.
[68]
Depois mais, ao cabo de mais dois anos, veio mais uma menina,
[69]
e [vocalização] daí veio, veio, veio, [pausa]
[70]
tenho sete, graças a Deus.
[71]
Tenho um filho na Holanda, trabalhando num hospital,
[72]
tenho uma rapariga casada,
[73]
tenho este filho daqui,
[74]
e tenho [pausa] três em casa.
[75]
INF Tenho uma rapariga que trabalha no hotel de Porto Santo, que é a subchefe,
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[pausa] trabalha no restaurante, [pausa] que é a Adelina,
[77]
[pausa] e tenho [vocalização] dois [vocalização] [pausa] solteiros, em casa
[78]
e aqui vamos à conta de Deus.
[79]
INF E eu bordava, bordava, bordava,
[80]
o bocadinho que me ficava, bordava.
[81]
Depois a minha filha, a mais velha, foi crescendo
[82]
e eu fui para a fábrica da conserva,
[83]
ainda trabalhei dez anos ,
[84]
[pausa] mas depois acabou.
[85]
Trabalhei em casa duma senhora, [pausa] a dias.
[86]
Ia [vocalização] umas horazinhas,
[87]
a minha filha ficava em casa.
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Depois também eu fiquei, das pernas,
[89]
que estou muito doente das minhas pernas,
[90]
eu nem posso me ajoelhar.
[91]
Ando.
[92]
Andar, ando; mas me ajoelhar e a coisa, não.
[93]
INF Sempre me tratando.
[94]
O Senhor Doutor me quis operar dos joelhos
[95]
mas eu não quis.
[96]
[pausa] O Senhor Doutor [vocalização] [pausa] Absalão e o Senhor
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Doutor Abúndio [pausa] e eu nunca quis ser operada.
[98]
INF Depois deixei de trabalhar nessas casas de [vocalização] dessa senhora.
[99]
Depois eu falei com o senhor da [vocalização] da Caixa
[100]
e disse: "Olhe, Senhor Acácio não posso trabalhar,

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