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Couço, excerto 65

LocationCouço (Coruche, Santarém)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Danilo
SurveyALEPG
Survey year1991
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Não havia veterinários,
[2]
havia alveitares.
[3]
Aqui na região havia havia alveitares.
[4]
Houve aqui na região um homem chamado Décio das ovelhas,
[5]
conhecia o gado pelo bigode aos veterinários.
[6]
E [vocalização] E os veterinários [pausa] convidaram-no um homem que não sabia ler nem escrever para ir reger uma cadeira na Escola Veterinária.
[7]
E davam-lhe dez escudos cada dia
[8]
e o gajo não quis.
[9]
E queriam que ele fizesse um livro.
[10]
Eu tenho um livro que foi escrito chama-se "O Tesouro do Lavrador" que foi escrito duzentos e vinte anos.
[11]
Ainda os veterinários não sabem o que eles sabem.
[12]
Porque o veterinário hoje o veterinário hoje, a ciência dele é conhecer a doença do animal.
[13]
O animal conhece-o.
[14]
Por exemplo, se tem uma dor, vai com a cabeça assim aonde
[15]
A gente, como eu, que convivia com os animais, conheço as doenças.
[16]
Porque aqui na região a doença que ataca mais o animal é a carbunculosa com diferentes sintomas.
[17]
[pausa] Ele vão O gado vacum, quarenta e cinco moléstias que vão à carbunculosa com diferentes sintomas.
[18]
A veterinária hoje está mais evoluída do que nunca esteve.
[19]
Está cienti- O veterinário, dês que saiba que conheça a moléstia, aplica-lhe uma injecção,
[20]
cura o animal.
[21]
[pausa] Tem avançado muito.
[22]
Mas esse tal esse tal v- Décio das ovelhas contava-me o meu pai, que ele não era do meu tempo
[23]
chegou a Montargil ver uma junta de bois,
[24]
[pausa] disse que: "Aquele que está sadio, que não tem doença, morre; e este que está doente escapa.
[25]
[pausa] E este que está sadio, quando for uma hora da noite, à meia-noite, o berro
[26]
e cai para o lado
[27]
e morre".
[28]
[pausa] Era um cientista!
[29]
O gajo nunca quis deixar
[30]
era aqui da Lamarosa.
[31]
Era do concelho de Coruche.
[32]
Era um gajo cientista,
[33]
chamava
[34]
Neste tempo não fazia De Verão não fazia mais nada que era a andar a cavalo num cavalo, [vocalização] a este e àquele;
[35]
todos os dias, todos os dias iam-no chamar.
[36]
Ia para o Ribatejo.
[37]
O gajo em Salvaterra, andavam os veterinários a dar a injecção,
[38]
andavam oito dias;
[39]
e o gajo com um pontapé que ele o que é que foi? foi apalpar o boi
[40]
ele apalpava o animal
[41]
foi apalpar o boi
[42]
e achou-lhe um marmelo na [vocalização] atravessado nas goelas.
[43]
Mas agora o animal respirava.
[44]
Ele recua para trás,
[45]
mandou-o endireitar,
[46]
deu um pontapé no marmelo,
[47]
o marmelo foi
[48]
"Oh!
[49]
[pausa] Está curado"!
[50]
E na presença de dois veterinários, ficaram a olhar para ele.
[51]
Foi daí é que ele teve grande fama
[52]
Esses veterinários convidaram-no [pausa] para a Escola Veterinária,
[53]
falaram com o professor, para o gajo ter uma cadeira e fazer um livro.
[54]
E o gajo não quis.
[55]
Foi, foi um grande Foi um grande paspalhão!
[56]
Deixava o nome dele escrito para toda a vida.
[57]
E ficava escrito como veterinário.
[58]
Porque os veterinários precisam de saber os sintomas que os animais
[59]
Então eu quando tinha lavoura chamava!
[60]
Uma vez adoeceu-me uma ali
[61]
e eu digo-lhe,
[62]
chamei o veterinário.
[63]
O veterinário disse: "Morre duas vezes"!
[64]
Ele abalou,
[65]
eu fui buscar o meu alfarrábio
[66]
e comecei a estudar: "A doença é esta,
[67]
os sintomas, é esta,
[68]
é este".
[69]
Montei-me na bicicleta,
[70]
vim aqui ao Couço,
[71]
comprei sete quilos de farinha [pausa] de trigo
[72]
e comprei quarenta onças de raspa de veado.
[73]
[pausa] Aqui o farmacêutico, o ajudante de farmácia, não sabia o que era uma onça.
[74]
Digo eu para ele: "Então tu não sabes o que é uma onça?
[75]
O teu patrão tinha um [nome] antigo".
[76]
"Mas você sabe quanto é uma onça"?
[77]
"Sei, sim senhor.
[78]
Uma onça são vinte e cinco gramas.
[79]
Fazes quarenta papelinhos".
[80]
Dava dois papelinhos dissolvido em meio quilo de farinha, grosso, pela boca abaixo ao animal.
[81]
Quando foi ao fim de três tratamentos, o animal, as tripas, a raspa de veado fez sarar.
[82]
Porque a febre podre é umas feridas nos intestinos que os animais têm como nós temos também.
[83]
[pausa] E a raspa de veado fez sarar.
[84]
[pausa] Matou o micróbio.
[85]
[pausa] Os antigos sabiam muita coisa!
[86]
[pausa] Muita coisa!

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