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Vila Praia de Âncora, excerto 6

LocationVila Praia de Âncora (Caminha, Viana do Castelo)
SubjectOs barcos e a pesca
Informant(s) Agesilau
SurveyALLP
Survey year1985
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Mas, ele havia muita fome, naquele tempo.
[2]
A fome, minha senhora
[3]
Nós passá- A ver Ele a fome não havia!
[4]
Havia muita comida com abundância,
[5]
mas não se podia comer.
[6]
Olhe, as batatas vinham,
[7]
iam para a panela desta cor, com tona e tudo.
[8]
Peixe, o peixe, salgavam-no assim num, [pausa] num cabaz.
[9]
Ali estava aquele peixe, que botavam sal para cima.
[10]
[vocalização] Mexiam aquele peixe com aquele sal, assim com o cabaz.
[11]
Estava ali aos dois, três dias;
[12]
lavavam aquele peixe,
[13]
ia assim para a panela.
[14]
Conforme vinha da cozinha aquele p- aquela comida, ia toda assim para o mar.
[15]
Sabe o que nos valia?
[16]
É que eu, olhe, o pouco dinheiro que uma pessoa ganhava naquela vida
[17]
Que aquele tempo até ganhava-se pouco.
[18]
Trazia-se um barco carregado de peixe, de bacalhau trazia-se um barco carregado de bacalhau! , trazia-se dois um conto e meio, dois contos naquele t-.
[19]
Bem, naquele tempo, era um bocadinho mais;
[20]
mas era pouco, ò, à ao peixe que nós trazíamos!
[21]
Hoje trazem, tra- Hoje trazem logo uma bagatela de peixe,
[22]
ganham-me ganham um dinheirão!
[23]
Ganham-me Ganham um dinheirão!
[24]
E o que nos valia a nós
[25]
Estão aqui dúzias deles que
[26]
Isto [vocalização] andou tudo ao bacalhau!
[27]
O que está aqui andou tudo ao bacalhau!
[28]
Está aqui um [pausa] e mais [pausa] e aquele também.
[29]
É que nós levávamos [pausa] cinco litros de azeite, um saco de batatas, levávamos umas cebolinhas, levávamos alhos, levávamos um garraf- um barrilzinho de vinho, que metíamos em Lisboa, daquele [vocalização] vinho do sul,
[30]
e [vocalização] e era assim.
[31]
E depois, [pausa] fazíamos à nossa moda.
[32]
Fazíamos à nossa moda, a comida.
[33]
INF Pois não.
[34]
Era naquelas horas.
[35]
Quando a comida era fraca nós, bem.
[36]
Porque ali havia dias que se comia melhor do que outros.
[37]
Quando era assim aos domingos e quintas-feiras, davam-nos aquela carne de orça carne de cavalo, carne de cavalo!
[38]
Aquela carne de cavalo, se fosse [pausa] bem preparadinha, comia-se bem.
[39]
Havia um que se comia bem.
[40]
Mas havia outra [pausa] que era desta cor era preta.
[41]
Aquela, mesmo se viesse preparadinha bem à moda à nossa moda, não é? comia-se bem, minha senhora.
[42]
Mas aqui assim, havia bandejas de comida daquela que ia toda para o lado.
[43]
Tudo.
[44]
[vocalização] Ninguém a punha à boca.
[45]
Não senhor.
[46]
Mas havia uma, que era a entremeada
[47]
Essa, essa era para os oficiais, homem.
[48]
A nós davam-nos uma vez por acaso, daquela carne.
[49]
Deus me livre!
[50]
Que miséria!
[51]
Naquele tempo havia era miséria!

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