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FIG27

Figueiró da Serra, excerto 27

LocationFigueiró da Serra (Celorico da Beira, Guarda)
SubjectA agriculturaO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Ascensão Aparício
SurveyALEPG
Survey year1997
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INF1 [vocalização] Ora veja, isto aqui por afora, estes lameiros aqui por afora, que era tudo cultivado! E agora não há aí nin-! Tu- Ora veja como está tudo!

INF2 Era tudo, tudo, tudo cultivado aqui!

INQ Está tudo abandonado, não é?

INF1 É. E qualquer dia é , olhe, carvalhos ou [vocalização] pinheiros ou giestas.

INF2 É, é. Vai ser uma segunda Angola, vai. Pessoal não , os novos também não estão para aturar coisas

INF1 Então, pois não estão para estarem a aturar isto.

INF2 Anda, anda Anda a estudar muita malta, aqui, a estudar.

INF1 Oh! Então!

INF2 É tudo a estudar, tudo a estudar.

INF1 É estudar, é! Não Ele haviam de dar mas era uma enxada para irem para a serra cavar alqueves!

INF2 É, é.

INF1 Não era estudar Era para para se

INQ Pois.

INF1 estarem assentados! O trabalho que há-de fazer um, estão ali uma dúzia deles! se

INQ Rhã-rhã.

INF2 Quer passar por para ver?

INF1 Ele vamos embora! Ele que- Se queres quisesses ir ver [vocalização]

INQ Não, não vou, não vou. Não é preciso ir ao moinho. Não, não, obrigado.

INF1 Não? Vamos embora, então. Vamos.

INF2

INQ Obrigado. Olhe, ó senhora Ascensão, diga-me o que eram A senhora disse: "Haviam de andar por a cavar o alqueve". O que era o alqueve?

INF1 A fazer alqueves, a cavar estas terras todas.

INF2 Onde semeavam o centeio.

INQ Mas eram terras que esta-

INF2

INF1 Ah [vocalização]! Isto é que haviam de vir para ! ! [pausa] Era

INQ Pois. Era, era cava- O alqueve era preparar a terra para semear o centeio, era?

INF1 Era Pois. Então pois não era?! [vocalização] A gente, ora veja, neste bocado aqui, que é uma comparação, se a gente ia aqui deitar pão, sem o cavarem, não [pausa] não [pausa]

INF2 Pois é.

INF1 não dava nada.

INQ Rhã-rhã.

INF2 Era preciso cavar a terra.

INF1 Olhe, o nosso governo não havia de vir!

INF2 E depois era E depois eram estrançados outra vez

INF1 Quem viesse, olhe

INF2 E depois é que eram semeados. Levavam três voltas, senhor.

INF1 Senhor, eu lhe digo [pausa]

INQ Pois, mas o alqueve Diga.

INF1 uma coisa. Se [pausa] eu Eu não sou garota, mas [vocalização] o nosso governo havia de vir aqui a estas serras. Em primeiro era tudo habitado e agora está tudo desgraçado.

INF2 Está é tudo fechado. E cai tudo!

INF1 Viessem fazer alqueve para !

INQ Pois. Mas o alqueve era feito com a enxada ou era feito com o arado?

INF1 Com o arado. Mas era preciso também quem tocasse.

INF2 E muitos à enxada, muitos à enxada. [vocalização] A gente depois cavava acima aquela aqueles prados velhinhos e aqui, de manhã acima à enxada.

INQ Rhã-rhã.

INF1 Então!

INF2 Oh!

INF1 Ora veja, olhe!

INQ Mas, o alqueve e a decrua era a mesma coisa?

INF1 [vocalização] Olhe que terrinhas aqui e era tudo tão bom! Deitava para tanto feijão, batatas e tudo, e agora está tudo assim desgraçado.

INQ Pois. O alqueve e a decrua era a mesma coisa, senhor Aparício?

INF2 É sim. É sim. Depois, depois

INF1 Não. A primeiro pois

INF2 Primeiro, p-, p- o alqueve fazia isto que era como, depois era estravessar de Verão, estravessar.

INF1 Depois de semeá-lo.

INF2 A gente Depois semear outra vez.

INQ Sim senhor.

INF2 Aquilo levava três voltas ao todo.

INF1 E agora está tudo! Olhe, olhe por acima. Vem Vem o fogo, o que é que aqui fica?

INF2 Ah pois!

INF1 pedra. O mais o que é que ficam? [pausa] O nosso governo , trabalhos a quem? Ao menos que os nos mande para aqui, para fazer alqueve! [pausa] para a serra! [vocalização] Então não era?!

INF2

INQ Acho que se ajudassem Se tanto desemprego podiam vir fazer alqueve para para ter grão, não é?

INF1 Então, não era?! Às vezes, estão ali [vocalização] às dúzias num num lugar , [pausa] e o coisas que se podiam fazer dois ou três E porque não estão [vocalização] dois ou três e está uma dúzia deles?! A fazer o quê?!

INF2 têm reduzido muita malta. [pausa] Mas que arranjem

INF1 Ah! À sombra é para não fazerem nada!

INF2

INF1 Oh! E a gente anda aqui a trabalhar, a tratar batatas para as vender quase dadas. [pausa] E

INQ É. Ó senhora Ascensão, eu queria-lhe perguntar uma coisa do pão que me esqueci. A parte de baixo do pão, como é que chama?

INF1 O lar.

INQ E a parte de cima, de fora?

INF1 [vocalização] É o côdea, por cima.

INQ E por, e por dentro o que é que tem?

INF1 Por dentro, é o miolo.

INF2 É o miolo.

INQ E quando eu vou começar um pão, a primeira fatia que a senhora tira com a, com a faca, como é que chama?

INF2

INF1 [vocalização] A borda.

INF2

INQ ?

INF1 É a borda.

INQ E a costaneira é a mesma coisa?

INF1 Pois. É o mesmo. Tanto faz ser a borda como a costaneira. "Toma uma borda. Se não tens dentes, olha"

INQ E a seguir

INF1 É para se casar primeiro, diz que é quem comer a borda! [vocalização]

INF2 É, é.

INQ E a seguir, e qual era a outra que eu cortava, era uma?

INF1 Depois e- Depois era a que lhe calhava.

INQ Não, mas a primeira é a borda. E a segunda? não é a borda?

INF1 Pois. Depois era a fatiga.

INQ Diga?

INF2 é fatiga, é fatiga.

INF1 Depois era uma fatiga.

INQ Sim senhor. E

INF1 Mas a borda, nós, às vezes, costumamos a dizer: "Toma para te casares mais depressa! Toma a borda"!

INF2 É, é.

INQ E se eu cortasse assim com a mão um bocado e lhe desse o que é que eu lhe estava a dar?

INF2 Era parti-lo a murro.

INF1 [vocalização] Então, era parti-lo a murro.

INQ Dava-lhe um quê? Não era um murro que eu lhe dava

INF1 Era parti-lo a murro, mas não era a dar-lhe um murro à pessoa.

INQ Pois.

INF2 não era fatia, era um bocado.

INQ Era um bocado?

INF1 Pois.

INQ Diga?

INF1 Era um bocado, pois. Era a parti-lo a murro.

INF2

INQ Sim senhor. E quando eu corto com a faca aquilo que cai para cima da m-, da, da mesa?

INF1 Miolo. É É miolitos.

INF2 Miolas. É as miolas.

INQ As miolas?

INF1 Pois, que é o miolo.

INQ O miolo ou miolas?

INF1 É miolitos. É. São miolitos que, às vezes, caem.

INQ E a senhora disse

INF1 Ah! Então e não sabem isso o que é?!

INQ Pois. O forno aqui, to-, as to-, as pessoas todas tinham um forno ou havia um, um forno que pertencia a vários?

INF1 Não. Às vezes, uma pessoa tinha um forno e iam cozer meia dúzia delas, não era?

INQ Ah! E não pagavam nada a essa pessoa do forno? Ela emprestava?

INF1 Não. [pausa] Não. Então a gente [vocalização] emprestava-o.

INF2 Ne Nesta povação havia dois, além. Havia dois que tiravam tiravam a poia.

INQ Ah! Era isso.

INF2 Havia dois na povoação que tiravam a poia.

INF1 Mas nós aqui não. A gente [vocalização] Até eu acima tinha um fornito. Se o senhor quisesse ir cozer: "Olhe, eu queria cozer amanhã". "Está bem. Coze aquando quiseres".

INQ Mas a poia, como é que era então, senhor Aparício?

INF2 Tiravam pão.

INQ Mas a Quem, quem é que cozia? Era as pes-, as próprias pessoas ou havia uma pessoa?

INF1 Não. Mas nessa altura que davam a poia, nem davam lenha quem ia cozer o pão, [pausa] nem nem aqueciam o forno.

INF2 Pois. Pois não.

INQ Rhã-rhã. Então como é que se chamava a pessoa que estava à frente do forno?

INF1 Forneira.

INQ Diga.

INF1 Forneira.

INQ E também E a forneira é que tinha que dar a lenha?

INF2 É, é. A lenha, e é que cozia.

INF1 Era. Dava a lenha e tinha o trabalho.

INF2 A gente ia levá-lo. INF1 A gente ia levá-lo

e trazia-o cozido.


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