R&D Unit funded by

SRP01

Serpa, excerto 1

LocationSerpa (Serpa, Beja)
SubjectA língua e a comunicação
Informant(s) Aristómaco
SurveyALEPG
Survey year1974
Interviewer(s)André Eliseu Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.


INF Pois, estive na Suíça.

INQ1 Durante quanto tempo?

INF Durante [vocalização] Fui oito oito anos, .

INQ1 Mas era

INF trabalhar trabalhei por épocas de, de co- de cinco, seis meses. Depois regressava novamente a Portugal.

INQ1 E em Portugal, trabalhou? trabalhou num sítio sem ser este aqui?

INF Tenho trabalhado aqui nas voltas de Serpa e trabalhei em Lisboa também num [vocalização], nu- numas obras.

INQ1 Durante quanto tempo?

INF Ainda eu trabalhei três meses. [pausa] Faz [pausa] nove anos agora para para Agosto. Fui para no dia seis de Agosto e depois vim em em Outubro, [pausa] nos fins de Outubro. O mais tenho trabalhado sempre aqui às voltas de Serpa.

INQ2 Olhe, mas quando esteve na Suíça o que é que falava?

INF De [vocalização]

INQ2 Que língua falava?

INF Eles ali no cantão donde estive que chamam chamam-lhe um cantão; a gente aqui é um concelho, eles chamam-lhe um cantão [vocalização] em alemão.

INQ2 E sabe? Mas não sabe falar alemão?

INF Oh, isso alemão, isso não é nada. Isso um homem, mais ou menos, ajeita-se é lidando com eles. Um fulano apanha aquela, mais ou menos aquelas palavras. Mas dito! [pausa] Agora, por ideias como eles, um homem não é capaz. [pausa] Agora a gente, com a habituação de lidar com eles, [vocalização] ajeita-se, mais ou menos, àquilo que eles dizem; a gente começa a aprender

INQ2 E muitos portugueses?

INF Portugueses, havia muitos, porque é [vocalização] um país que emigram à volta de [vocalização] de cinco mil portugueses para .

INQ2 E o senhor estava mais no meio dos portugueses ou mais no meio dos?

INF Não. Por acaso, dentro de, de de duas épocas [pausa] não cheguei a avistar português nenhum. E depois é que calhei a avistar dois portugueses. [pausa] E passado três épocas a seguir é que trabalhei junto com três portugueses.

INQ1 Donde é que eram esses portugueses com quem trabalhou?

INF D-, d- [vocalização] Os outros três portugueses eram do Algarve. [pausa] Pertenciam a esta [vocalização] a este concelho do Algarve.

INQ1 E ainda sabe? Ainda sabe palavras de alemão?

INF Não. Palavras de alemão, isso não. É mui difícil [vocalização] um fulano [pausa] procurar [vocalização] assim uma ideia.

INQ1 não se lembra?

INF Pois [vocalização].

INQ2 Como é que se diz bom dia, em alemão?

INF Eles [vocalização] bom dia, ele é em alemão é gota tag, [pausa] gota tag. É o

INQ2 E senhor, como é que se diz?

INF [vocalização]

INQ2 Senhor, quando se fala?

INF Senhor?

INQ1 Como é que falava com o patrão?

INF Eles com o patrão é [vocalização] a tu. Eles aplicam a palavra toda: tu! [pausa] tu frau ou franel, que é que é rapariga nova; se for frau, é uma uma mulher casada; [pausa] e se for homem, é um busséu. Pois. Se for pequeno, é um pope. [pausa] Aquilo de de povo para povo, mais ou menos, , têm as mesmas diferenças que nós temos . Eu encontrei as mesmas diferenças porque estive em várias em vários povos ouviu? e encontrava as mesmas diferenças que nós temos no nosso país, assim eu encontrava .

INQ2 Se calhar até mais diferenças

INF Ou talvez mais diferenças. Pois. Porque o, a o país, a Suíça principalmente, fala setenta e cinco [pausa] alemão [vocalização] e vinte e cinco é em jugoslavos, é em italiano, é em espanhol, é em austriano, [vocalização] é em francês. A diferença A diferença que ! Ainda muito muito mais difícil do que do que à gente! Porque a gente, mais ou menos, é uma pronúncia . A diferença que temos é, de terra para terra, o mesmo artigo, mu- mudarmos-lhe o nome. E eles não. E eles têm um um idioma muito diferente. [pausa]

INQ1 Olhe, e como é que , as pessoas de chamam à, à terra?

INF À terra, a gente aqui [vocalização] é o terreno.

INQ1 Não. Mas à, à vila?

INF Ah, à vila? É Serpa.

INQ1 É Serpa que se diz?

INF Pois, Serpa.

INQ1 E o habitante? Como é que se chama à pessoa que vive ?

INF O A gente A gente aqui, o habitante, é os habitantes de Serpa.

INQ1 Como é que se chamam?

INF Ou sejam filhos de Serpa.

INQ1 Não dizem numa palavra ?

INF Pois, pois.

INQ1 Serpense, ou?

INF Bom, Serpa, serpense. Isso é o [vocalização] a palavra do, do do escrito.

INQ1 Pois.

INF Mas a gente diz: "Olha, sou de Serpa". Pois. "Olha, so-, so- são os filhos de Serpa" [pausa] propriamente a palavra que a gente aplica.

INQ1 E para as mulheres?

INF E para as mulheres, são as mulheres filhas de Serpa. [pausa] A gente não tem essa habituação de "senhora" [vocalização] a uma mulher.

INQ1 Pois.

INF Habituação de "mulher".

INQ1 Olhe e, e à maneira de falar de Serpa dão, dão algum nome?

INF O nome? O nome, mais ou menos, é o [vocalização] processo em que eu em que eu mostro. Agora se encontra , , às vezes, diferenças porque muito pessoal de vários sítios [pausa] É os que se acham mal num lado, é os que se acham mal noutro e [vocalização] voltam e aos depois [vocalização] trazem as suas criações diferentes. [pausa] Pois. Mas geralmente com a habituação daqui dos dos filhos próprios da terra, mais ou menos, é tudo com a habituação em que eu falo.

INQ1 Pois, mas não dão um nome a essa maneira de falar?

INF Pois não!

INQ1 Mas, olhe Conhece ali os de Barrancos?

INF [vocalização] Não. Os de Barrancos não conheço.

INQ1 Mas tem ouvido falar?

INF Tenho ouvido falar. Esses falam assim uma coisa meio espanhol.

INQ1 Como é que chama a essa fala?

INF É o barraquense.

INQ1 Então e outras coisas Não aqui outras terras aqui ao que também dão assim o nome, da maneira de falar?

INF Aqui ao [pausa] qualquer al- aqui a Aldeia Nova.

INQ1 Como é que chama à maneira de falar da Aldeia Nova?

INF "E então que como vai"?

INQ1 E quais é que são as terras aqui ao que falam mais diferente de Serpa?

INF Assim mais diferente de Serpa, que eu encontro mais diferença, [pausa]

INQ1 Aqui ao .

INF aqui próximo [vocalização], é assim Pias. Tem assim um bocadinho a mais de diferença.

INQ1 Qual é, qual é que é a diferença que nota?

INF É uma, uma uma pronúncia assim um bocado mais descansada.

INQ1 Falam mais devagar?

INF Falam mais devagar. Pois. Têm aquela A pronúncia, mais ou menos é o mesmo; o que eles dão é uma pronúncia mais mais descansada do que é a a gente aqui.

INQ2 Olhe, e as pessoas de Baleizão falam como as de ?

INF Não. Esses é diferente.

INQ2 Como é?

INF o de Baleizão: "E como é que vai"? Pois. "E que é que tu fazes? Onde é que tu vais"?, [pausa] "Ó nina, onde vais agora"? E esses é os mais rápidos. Esses 'repitam' a [vocalização] pronúncia mais rápido. E dão

INQ2 Então e os de Beja?

INF E dão assim aquela estacada. [pausa] Olhe, os de Beja, quer que lhe diga, muitos que têm quase imitam quase a pronúncia como a nossa aqui mais descansada. Pois. o Baleizão ali, aquilo é [vocalização] é uma pancada dada assim de [pausa] pedrada, a maneira de, del- de eles falar.

INQ1 E então aqui os de? Aqui destas terras de ao : de São Brás, de Santa Iria?

INF Como isto aqui, Santa Iria, mais ou menos, é o mesmo.

INQ1 E os de Brinches?

INF E o Brinches, olhe, Brinches é a coisa que se compara aqui melhor. [pausa]

INQ1 Ai é?

INF Pois.

INQ1 E os da Aldeia Nova, disse que era diferente

INF Pois, diferente.

INQ1 Pois. E os de Vila Verde?

INF Os de Vila Vila Verde de Ficalho?

INQ1 Vale de Vargo, essa gente como é que fala?

INF Esses, mais ou menos, não [vocalização] sou capaz assim de pronunciar a maneira de da palavra deles. Isso o homem apanha aquilo bem, às vezes, quando está assim a trabalhar com eles [pausa] é que [vocalização] vem e é capaz de de arremedar na na altura. Depois, passa.

INQ1 Mas falam de maneira diferente daqui?

INF [vocalização] Oh, é diferente, [pausa] um bocadinho diferente, sim senhor. diferente falam.

INQ1 E acha que as pessoas aqui de Serpa falam de uma maneira diferente dos outros, ou não?

INF A fa-, a ge- A gente daqui [vocalização] acha-se diferença, porque, quando se entra em qualquer casa ou numa rua, se se ouvir falar, a gente diz logo: "Este, por o falar, de Serpa não é"! [pausa] E parte das vezes não sabe a terra que é, mas di- a gente diz logo: "De Serpa não é"! " se daqui em volta"! O que se conhece mais [vocalização] melhor, que a gente sabe logo donde ele é, é se for de Baleizão. [pausa] Do povo de Baleizão, se estiver aqui um baleizoeiro falando diante de qualquer, e depois a gente for a passar por uma rua, diz: "Aquele tipo é de Baleizão"; ou "Aquela senhora é de Baleizão". E se for de qualquer das outras aldeias aqui em volta, o fulano diz: "De Serpa não é"; mas qual é a aldeia, não é m- não é muito bom de se conhecer.


Download XMLDownload textWaveform viewSentence view