INQ1 Olhe, então e quando o barranco seca, depois ficam assim uns sítios onde fica a água durante o ano inteiro? Na ribeira , também…
INF Sim. Pois há. Sim, há. Pois. Há o Há sítios que se aguenta.
INQ1 Como é que se chama isso?
INF [vocalização] A gente [vocalização] chama aquilo um pego. [pausa]
INQ1 E como é que se chama à parte mais funda do pego?
INF A gente onde chega à desciam à parte mais funda do pego, a gente a gente diz assim: "Aqui para este lado tem maior profundidade". Pois.
INQ1 Não lhe chamam cachafundão?
INF Isso, o cachafundão, chama a gente a um sítio onde a água faz qualquer caracol, que trabalha assim por aspiração do ar, é que a gente diz assim: "Tal é aquele cachafundão que além está que além ele até faz caracol".
INQ1 Olhe e o sítio onde se pode passar do, um rio dum lado ao outro, sem ponte nem pedras?…
INF Sem ponte nem pedra, [vocalização] chamamos-lhe a gente um vau seco.
INQ1 Um?…
INF Um vau seco.
INQ2 Um quê?
INF Vau. [pausa] Que temos aqui um, aqui be- [vocalização] aqui bem próximo de nós. Que é [vocalização]
INQ1 Do Guadiana?
INF do Guadiana; e até em todas as estações do Verão se passa. [pausa] Quase que um homem que não nem é preciso tampouco descalçar-se. Que é mesmo o terreno ali que sobe.
INQ1 Pois.
INF Ela pode levar muita água, mas naquele sítio, quando vem aí de Agosto, Setembro, passa-se ali perfeitamente. Porque é mesmo o terreno que é alto.
INQ2 E que sítio é esse? Como é que se chama?
INF Isso fica aí em baixo. Fica assim Fica-se num sítio, onde se junta a uma a uma propriedade [pausa] que chama-se a cascalheira. [vocalização] Aquilo ali é o sítio adonde se adonde se passa. Noutro tempo, quando havia contrabandistas, [pausa] aí é que era a passagem deles para aquele lado, para Beja. [pausa] Em vindo o Verão, ali é que era a passagem deles.
INQ1 Já não há contrabandistas?
INF Isso acabou.
INQ2 Como é que é? Cascalheira?
INF Cascalheira. Uma propriedade duma cascalheira que é donde está o vau. Que até até o nome do vau que está registado que o povo o conhece é por o Vau da Crespa. Pois.
INQ1 E já não há contrabandistas, já desapareceram?
INF Isso desapareceu.
INQ1 E há quanto tempo?
INF Isso pode haver aí [pausa] aí questão duns dez, quinze anos que isso… Isso desapareceu, essa coisa.
INQ2 Ah! Tenho impressão que não.
INQ1 Ainda há.
INQ2 Ainda não desapareceu. Ainda há uns ciganos, ainda fazem…
INF [vocalização] Bom, isso já fazem faz! Mas, quer dizer, já não é uma das coisas como como faziam dantes. Pois.
INQ1 Donde é que eram os contrabandistas? Eram daqui dalguma terra ao pé?
INF Eram de qualquer terra [vocalização]. Isso aí…
INQ1 Não havia aí nenhuma terra que tivesse muitos, não?
INF Não, não. Isso qualquer um, porque [vocalização] as dificuldades da vida [vocalização] eram más e então iam à Espanha a ver se se traziam um açúcar, ou um café, ou um toucinho [vocalização]…
INQ1 Mas era as pessoas que traziam para elas próprias ou era para venderem?
INF Que traziam para para outra pessoa que que lhe encomendava. Pois. Que havia dificuldades no governo de vida e iam. Mas agora não. Porque os não não faziam ligações. Agora, agora já não faz falta: o que há num país há noutro. E se as coisas faltam, os governos mandam vir dum lado para o outro, tudo aos mesmos preços. Já não vale a pena qualquer arriscar-se a uma coisa dessas tão grandes como se eles arriscavam como se eles arriscavam.