INQ1 Então explique-me lá a barrela? Como é que se fazia?
INF1 A barrela, faziam… Depois de a roupa lavada de a roupa preparada,
INQ1 Pois.
INF1 botavam-na num num cesto mesmo próprio, nuns cestos redondos assim, que levavam a roupa branca, e depois botavam um pano por cima com cinza – vê a limpeza também? –, ele com cinza. E botavam aq- a água fervendo assim por cima.
INQ1 Pois.
INF1 E ficava ali aquilo. Era só.
INQ1 E-, esse pano tinha algum nome?
INF1 Senhora?
INQ1 O pano, como é que chamavam a esse pano? O pano de fazer, de pôr, de pôr a cinza?
INF2 Pano de estopa.
INF1 Ai! Era um pano de estopa. Era uma coisa grossa que se botava assim por cima.
INQ1 Pano de estopa? Sim senhor. Olhe, e agora com o que é que se lava? Agora, quer dizer, e antigamente já se lavava também, com quê?
INF1 Antigamente [pausa] era com muito pouquinho sabão que não havia dinheiro para comprar. Esperava-se a gente para as galinhas porem o ovo para se ir para se ir comprar o sabão à loja, para se poder…
INQ1 Para trocar por ovo, era?
INF1 Era. Estão a tocar à Santíssima Trindade.
INQ1 Trocavam, trocavam o pão por os ovos?
INF1 São as Trindades. Trocavam.
INQ1 Trocavam o pão por ovos, era?
INF1 Esperava-se para a galinha pôr, para se ir à loja comprar o sa-, com com o ovo para comprar o sabão.
INQ1 Pelo sabão.
INF1 Para o sabão que não havia com quê.
INQ1 Mas nessa altura não se comprava com dinheiro? Comprava-se com ovos, era?
INF1 Quem tinha dinheiro comprava com dinheiro; quem não tinha dinheiro, era com os ovinhos das galinhas. Não era dinheiro.
INQ1 Era o que se usava mais para troca era os ovos das galinhas?
INF1 Era, era. Isso era o trabalho para sabão e para os negócios da casa.
INQ2 Quanto é que valia um ovo naquela altura?
INF1 Vinte centavos.
INQ1 Vinte centavos.
INF1 Vinte centavos. Começou primeiro centavos, depois foi indo para o escudo, depois foi-se subindo, agora já têm não sei se é dois e meio cada c- cada ovo.
INQ2 Mas a senhora, portanto, se ia com um ovo à loja não trazia um… O que é que trazia de sabão, que quantidade?
INF1 Um escudo de sabão. E então nalgum tempo ainda era era um lindo bocadinho. Agora já não se vende um escudo de sabão. E mesmo os dois escudos já não valem nada.
INQ1 Pois.
INF1 [vocalização] É assim.
INQ2 Rhum-rhum. Mas aquele sabão que comprava costumava vir numa coisa assim?…
INF1 Umas barras. É, mas é que a gente comprava bocadinhos. Um escudo, ou dois escudos, assim.
INQ1 E que dava para quantas lavagens de roupa? Na sua casa, que eram muitos filhos, quanto é que dava?
INF1 Ah, a gente Ia tudo junto.
INF2
INF1 Eram três cestos de roupa que a gente levava para a ribeira. Eram on- onze filhos;
INQ1 Pois.
INF1 com a gente os dois eram treze; e esta catorze; minha cunhada Isaura – uma irmã desta que enviuvou, que não tinha família; era aquela que estava além naquele quarto que lhe ia mostrar; esteve ainda treze anos aqui depois de o seu marido morrer –, éramos quinze pessoas. Meu pai e minha mãe veio, também. Já não podiam trabalhar, vieram lá da Castelhana, eram quinze, dezasseis, dezassete pessoas.
INQ1 Tchi! Era uma casa cheia!
INQ2 E não se costumava fazer sabão aqui?
INF1 Sim senhor.
INQ2 De que é que fazia?
INF1 Minha Minha mãe fazia. Era com sebo.
INQ1 Com sebo?
INF1 Sebo. Não sei bem mas eu estou quase certa; ainda era criança, mas é. Sebo e depois compravam uma coisa de potassa, que é o que fazia a espuma, e [vocalização] cinza – também era cinza!
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Eles ferviam aquilo Minha mãe fervia aquilo, depois deitava num alguidar grande, então. Depois aquilo ficava ali aq- dum dia para o outro, depois talhava e então é que se cortava assim aos pedacinhos. Ah, mas era mole sempre.
INQ1 Pois.
INF1 Ensopava. Mesmo aquilo por endurecer, assim muito mole, rendia muito bem.
INQ1 Pois.
INF1 Pois ele era, não havia. Então, no tempo, não havia sabão.
INQ1 Pois, pois.
INF1 E linhas. Acabou-se as linhas de todo. Pegavam nas nas tabuas sebo- – tabuas chamam lá eles…
INQ1 Sim senhora.
INF1 Uma tabua.
INQ1 Sisal?
INF1 Babosas. Aquelas babosas toneiras muito grandes.
INQ1 Ah, sim senhora.
INF1 Iam com aquelas folhas, [vocalização] uma pessoa batia bem batido, bem batido, para tirar aquela aquele de fora e aqueles fiapos brancos. E aquelas linhas era para se arremendar e para durar mais, que não havia.
INQ1 Sim senhora.
INF1 Esteve então muito tempo… E água salgada que se ia buscar para temperarem o pão, e para temperarem açorda, que não havia. Esteve Estava tempos que não havia nem uma caixotinha de…
INQ1 Pois.
INF1 É. E temperávamos muitas vezes assim.
INQ1 Portanto, iam buscar água salgada para temperar a comida?
INF1 Rhum. Do mar.
INQ2 Isso foi na altura da guerra?
INF1 Ah, isso também já me lembra também disso.