INQ1 Não costumava chamar-lhe mancheia ou manada ou… àquilo que se fazia?
INF Não. A gente cá não chamava nada disso.
INQ1 Isso é tudo é paveias?
INF É a paveia. [pausa] Mesmo atrás da gente: "Vamos lá ver essa paveia"!
INQ1 Olhe, e quando junta para aí umas, algumas paveias, faz uma coisa maior?
INF É que Quando se ajuntou, que faz maior, só sendo atada. Vai atada em molhos [pausa] e depois, dos molhos, faz-se relheiros. [pausa] Que eu fiz tudo isso.
INQ1 As, os relheiros ainda é no campo?
INF É.
INQ1 Ou é já na, na eira?
INF Faz-se do campo. Há um que está ceifado. Faz-se uns relheiros para os pássaros não entrar com ele. E depois, carrega-se depois com um carro para a eira, aonde está a debulhadeira para debulhar.
INQ1 Mas olhe, senhor Anselmo, quando anda a ceifar… Veja lá se eu digo bem que pode ser dou-…
INF Não.
INQ1 Eu estar-lhe a dizer o uso de outra terra.
INF Não. Bem, deixe estar que o uso, eu lhe digo pode dizer doutra terra que eu depois digo cá desta.
INQ2 Pois. Exactamente.
INQ1 Pois. Mas olhe, na, noutras lá mais por baixo para o Alentejo, as pessoas andam a ceifar, pegam nisto e depois põem no chão. E depois vai um… Não! Não põem nada. E depois atam-lho com o próprio mi-, trigo, fazem assim que é para poder caber mais na mão.
INF Pois. É. Não. Eles Ele lá para o Alentejo, quando andam a ceifar, conforme vão ceifando, e vão fazendo os molhos.
INQ1 Exacto.
INF E aqui não.
INQ2 Rhum-rhum.
INQ1 Aqui põe-se logo no chão?
INF Aqui é do chão… Depois de estar do chão ali dois dias é que vai-se depois atar.
INQ1 E ata-se com quê?
INF Com uns baraços de junco.
INQ1 Não é com o próprio trigo?
INF Não senhora. É aqui é: a gente era com uns baraços de junco. Ia mesmo gente apanhar junco [pausa] de propósito para isso. [pausa] Quando não havia baraços de junco, fazia-se uns baraços do trigo.
INQ1 E como é que se chamavam esses baraços do próprio trigo?
INF Eram baraços.
INQ1 Baraços à mesma?
INF Eram baraços à mesma.
INQ1 Portanto, o restolho era a parte que ficava no campo, não é?
INF Pois.
INQ1 O restolho. E depois o que é que se fazia àqueles molhos? Tinha de se levar para algum lado.
INF Os molhos depois era carregados. Fazia-se aqui um monte – chamava-se um relheiro –, depois calculava-se ali outro, fazia-se outro para o relheiro. Depois vinha-se por ali fora, outra parte, outro relheiro, que era para ficar para os carros depois pegarem dali e levar para a eira. [pausa] Que ele nunca ficava espalhado; nunca ficava espalhado!
INQ1 Punham os carros e faziam o quê?
INF Depois um homem vinha no carro, ia um homem com um forcado – com um forcado de ferro, com uma, com uma com um cabo grande, com uma vara – para dar lá para cima, para o homem que estava a arrumar a carrada.
INQ1 Arrumar a carrada?
INF Pois. Que é a carrada do trigo que vai para a eira. A carroça carregada [vocalização]…
INQ1 E vai para a eira? E como é que faziam as eiras?
INF As eiras? Era feitas lá em cima… Olhe, ainda há lá uma que era lá feita em cima. Ainda lá está. Era feita em cimento. [pausa] E depois a máquina ia para ali e debulhava.
INQ1 Era… Foram sempre em cimento, desde que o senhor se lembra?
INF [vocalização] Ali, aquela foi em cimento, que o dono – o dono já morreu – mandou fazer em cimento, mas as outras não era em cimento.
INQ1 Então como é que era?
INF Era mesmo em cima da terra. Está aqui uma, aqui ao pé dali da escola. Fazia-se ali uma, onde é que está uma chaparra. Ia ali as pessoas endireitar além com uma enxada, raspavam o terreno todo, com a enxada, varriam, e depois ia para ali a [vocalização] debulhadeira. Depois era debulhado ali o trigo. Punha Tinha os sacos a aparar o trigo.
INQ1 Pronto, mas ficava assim a terra solta?
INF Não. Ia Havia regado e acalcado.
INQ1 Co-, co-, como é que acalcavam?
INF Com enxadas. [pausa] Batiam, que era para o trigo, algum que caísse, para se poder varrer.
INQ1 Nunca, nunca utilizavam bosta de vacas para, para as eiras?
INF Não. Aqui não.
INQ1 Aqui não…
INF Aqui não se punha nada. Não se punha nada. [pausa] Aqui, antigamente, quando era para, para para fazer-se nas eiras – que eu estive aí duma casa, [pausa] oito anos, e fazia-se –, sabe o que é que se fazia? Da eira, ia regada. E depois punha-se uma manada de cabras a andar ali à roda em cima. [pausa]
INQ1 Para baterem a…
INF Aquilo ficava ali como um cimento.
INQ2 Rhum-rhum.
INF Botava Estava as cabras ali à roda. Aí dois homens, eia já ia para lá as cabras, e elas à roda, pégavam aquilo tudo. Aquilo ficava ali acalcado . Depois ia [pausa] ia, ia ia a cevada ou o trigo para a eira, ou favas, e ia depois éguas… Éguas iam bater isso. [vocalização] As éguas à roda por cima iam bater batendo.
INQ1 Quer dizer, sem instrumento nenhum?
INF Sem nada. Era um homem, era um homem… É elas todas engatadas, é às duas e duas…
INQ1 Quantas eram?
INF [vocalização] É para aí oito. Conforme [vocalização]… Olhe, aqui havia um homenzito que tinha três; mas onde é que eu estava, era quase sempre oito, sete, seis. Eram Era ao lado umas das outras. Um homem ia lá para o meio da eira, com um cabresto da mão, [pausa] com uma vara, [pausa] e elas andavam à roda.
INQ1 E dizia-se que esse sistema de debulha era quê? Debulhar como?
INF Aquela [vocalização] Aquilo era, era [vocalização] era debulhar a pé de besta.