INF Agora é para virar voltas. Já está quase as vinhas todas podadas.
INQ1 Ah, já?
INF E agora é virar as voltas. Vira-se a volta.
INQ1 Virar a volta?
INF É [vocalização] virar a vara. Fica uma vara [pausa] para virar – às vezes até fica duas também! É conforme a cepa pode: se a cepa é fraca, deixa-se só uma volta e um atarraque; se a [vocalização] se a cepa é valente, deixa-se duas voltas ou três como a.
INQ1 O que são as voltas?
INF É aquelas vides que a gente deixa para dar assim a volta, que é para arrebentar os pompos para dar os cachos das uvas. [pausa] E o atarraque é cortado com uma tesoura, e fi- assim deste tamanho, [pausa] ao lado da volta. Nasce também…
INQ1 Portanto, a volta é aq-, são os nozinhos da videira?
INF A [vocalização] A volta é a videira. [pausa] Dá-se assim a volta, espreme-se [pausa] e depois ata-se ao tronco do braço da videira. Depois ata-se com uma rafa ráfia, ou com um junco, ou com um cordel. Agora já nem ele apanham isso. Já não há juncos. Agora é com cordéis, compreende, e [vocalização] rafa ráfia. Depois aquilo é atado ao tronco da, da da videira.
INQ2 Não estão, pois não?
INQ1 Não estão? Na frente?
INQ2 Tu viste mesmo aqui?
INQ1 Pois não!
INQ2 Tu deves ter trazido para o teu quarto e provavelmente…
Corte na gravação original
INF O atarraque? É a outra vara. Mas como não é preciso daquele sítio pôr-se uma volta, [pausa] corta-se [pausa] e deixa-se um atarraque. Aquilo
INQ1 Rhã-rhã. O atarraque, portanto, é aquele bocadinho que fica?…
INF É aquele bocadinho. Nasce também os pompos e nasce os cachos de uvas.
INQ1 Pronto, está bem! Com que é que se corta?
INF Com uma tesoura. Uma tesoura dessas preparada mesmo para isso. [pausa] Ou corta-se com uma navalha boa. Mas, é o prático é uma tesoura. Fica o [pausa] o golpezinho direitinho.
INQ1 Não há ali um momento, uma altura do ano em que é preciso ir de lá tirar o excesso de, de rama?
INF Não. Há alt- Tirar aquilo, aquilo nunca se tira senão o da poda. Agora o que é, é assim: [vocalização] nasce, arrebenta os pompos, bem enxofrado. Depois quando já tem as varas todas completas [pausa] e já as parras, vai sulfatada. Vai sulfatada aí três vezes. [pausa] Olha, está um dia um dia de peste para isso, homem! Esta névoa é um veneno é um veneno para para a moléstia. Depois aquilo é s- é sulfatado. A cal Leva cal, leva sulfato, leva água. Aquilo é tudo mexido, o sulfato é derretido, depois é sulfatado com uma máquina de sulfatar, aqui às costas.
INQ1 Olhe, mas há, há sítios onde, onde se costuma tirar a parra que está a mais, para o, para o sol bater nos cachos. Aqui não é costume?
INF Isso, às vezes, é quando a vinha está muito [vocalização] apertada, vai-se lá e corta-se para entrar o sol, [pausa] que está sombria a uva. Mas isso é com
INQ1 E quando vai fazer isso, diz que vai fazer o quê?
INF Vão fazer isso é de propósito mesmo.
INQ1 Não. Mas o que é que o senhor… "Olha, hoje vou fazer"…
INF Ah! "Hoje vou vou aliviar a vinha"!
INQ1 Aliviar a vinha. Sim senhor. E depois o que é que nasce?
INF Do que é que nasce?
INQ1 Esta coisinha com muitas coisinhas redondinhas? Que é isto?
INF Isso é o cacho das uvas. [pausa] Isso é [vocalização] é criado mesmo da videira.
INQ1 Dá algum nome àquelas uvas que nunca chegam a amadurar, a amadurecer?
INF As uvas, as uvas, todas elas têm nome.
INQ1 Não. Não estou a perguntar as castas da uva. Estou a perguntar num, num cacho, quando tem um cacho, às vezes ficam umas verdes…
INF Ah! Isso é a sombria.
INQ1 Sombria?
INF Rhum! [vocalização]
INQ1 É o, foi o que fez aquilo?
INF Foi o que não apanhou o sol. Não apanha sol, fica sombria.
INQ1 Mas, aquela uva…
INF E custa a amadurecer. [pausa] A uva que está sombria custa a am- a amadurecer. Chega o tempo de se fazer a vindima e ela ainda está verde. [pausa] E em apanhando E em apanhando muita água, também sucede isso. A vinha não quer muita água. Até degenera.
INQ1 Está bem. Olhe, e, e quando, e a… Mas cada uma destas coisinhas, quando vai comer, come o quê?
INF É os bagos da uva.
INQ1 E o que é que deita fora?
INF E lá dentro, deita-se fora, é é a grinhinha.
INQ1 Como?
INF A grinha.
INQ1 Grinha?
INF Pois.
INQ1 Quando comeu os bagos todos, ficou na mão com quê?
INF Com o engaço.
INQ2 O contexto está bem, mas não é em cima…
INQ1 Na altura de apanhar os cachos, diz que chegou a época de?…
INF Da vindima.
INQ1 E o que é?… E às vezes fica…
INF É em Setembro.
INQ1 Fica um, uns, umas uvas, uns bagos para trás, vai lá alguém atrás…
INF Rab- Isso vão rabiscar.
INQ1 Rabiscar?
INF Vão ao rabisco.
INQ1 Para onde é que põe as uvas para, depois?
INF As uvas? [pausa] Anda duas mulheres, ou dois homens, com uma canastra, com uma navalha, andam a cortar os cachos de uvas da da cepa. E depois põem para dentro da canastra. A canastra está cheia, vão levar para uma tina que está em cima dum carro. E depois o carro vai transportar para a adega. Depois lá dentro da adega, é pisada – ou moída, agora já não se pisa! Dantes era pisada a pés de homem. Mas agora já não. Agora é com um com um engenho.
INQ1 Diga-me como é que fazia antigamente.
INF Como antigamente era como lhe eu estou a dizer. Era pisada a pé [pausa] dentro dum tanque. Depois estava ali a ferver [pausa] dois dias ou três. Conforme lhe ela ia dando a graduação, ia-se tirando a graduação com um pesa. Quando chegava ali [pausa] a dois, tirava-se fora, que era para ele não não perder a força. Depois ia para dentro das vasilhas.