INQ Onde guardava a carne com o sal, aquela carne que era salgada, era no mesmo, nas mesmas coisas onde punha a linguiça e o, e os torresmos guardados?
INF Sim, era tudo em barro. Havia pessoas que usavam latas de petróleo.
INQ Rhum.
INF Mas então isto já da minha infância, pequenina, eu nunca usei. O que também era [vocalização] O porco dava quatro latas de graxa – chamava-se lat-. Eram latas de oito canadas, dezasseis litros. E eram latas que [vocalização] não sei que não sei, pois, explicar isso então como era. Era coiso, aquilo traziam petróleo, mas eu não sei depois como é que elas desinfectavam aquilo para ficar sem cheiro a petróleo e para porem o conduto. Era uma coisa… Ou devia estar muito tempo para lá a evaporar… Elas usavam essas [pausa] AB|ba– latas.
INQ Essas latas.
INF Eu ainda me lembro de haver banha minha em latas de petróleo, mas só muito pequenina que nem, tenho uma vaga ideia. Também havia latoeiros que faziam latas para pôr a banha [pausa] e para pôr condutos, mas não dava resultado porque a lata enferrujava muito depressa e não [vocalização], e não dava não dava resultado. Era o barro é que era mais [vocalização]… Até que as pessoas de São Miguel no mês de Outubro vinham trocar os seus barros pelos milhos. Para as pessoas guardarem as barças para, para, para para conservarem o conduto. [vocalização] O que era de salgar a carne não era igual ao que era de salgar ao que era de pôr os condutos. Era as tais salgadeiras que eu já falei há bocadinho, barrigudas, [pausa] é que eram as salgadeiras…
INQ Pois.
INF Agora, usamos em bidões plásticos.
INQ Pois. A moura e a salmoura é a mesma coisa?
INF É.
INQ Mas não, não… E não, não chama nada àquela, quando se salgava que esco-, que eram de madeira, que aquela água que escorria para fora? …
INF Mas nunca salgámos em madeira.
INQ Não?
INF Aqui nunca salgávamos em madeira. Aqui só se salgava…
INQ Também chamava moura àquela água que criava a carne?…
INF É, é. "Fazer moira a carne". Ele a ma- "A carne já tem moira". [vocalização] Fazer [vocalização], a carne
INQ Portanto, a moura era duas coisas: moura é isso que chamam que é pôr água com sal, onde põem os pés…
INF S-, é, é É as duas coisas a mesma coisa.
INQ É?
INF É salmoura ou mou-, ou ou moira é a mesma. Fazer moira… Até que [pausa] a minha mãe quando fazia moira – eu nunca fazia isso, mas a minha mãe fazia –, punha uma batata, partia uma talhada de batata. Quando a batata subia – ela partia uma batata numa talhadinha estreitita, uma [vocalização] –, quando a batata subia para o ar é que a moira estava boa para [vocalização] para salgar.
INQ Nunca lhe punha uma batata inteira?
INF Aí é que a gente aqui era uma talhada.
INQ É que há muito mais salgada. A linguiça do Corvo é muito mais salgada de que esta daqui.
INF Por causa disso, se calhar!
INQ Rhum-rhum. Porque levava muito mais sal e, portanto, gasta muito mais sal para pôr a batata do que uma talhadinha.
INF Mais sal. [pausa] É. A gente era só uma talhada.
INQ Rhum-rhum.
INF Era só uma talhada.