INF É vida pobre – e as senhoras compreende compreendem bem – mas da terra é que vem tudo!
INQ1 Pois.
INQ2 Pois.
INF É ou não é?
INQ1 Claro.
INQ2 Então, se não fosse trabalharem na terra, não sei como seria.
INF Mas olhe que aí há… Vira-se tudo a estudar , a estudar e isto está mau. Olhe que o nosso governo vai dar o dinheiro fora [pausa] aonde se podia fazer cá.
INQ2 Claro.
INQ1 Exactamente.
INF Não acha?
INQ1 Sim senhor.
INQ2 Então, mas a quantidade de coisas que vêm lá de fora que se podiam fazer cá!
INF De fora! Para quê? Mas para quê? Pois se há cá! E cá dava na mesma!
INQ2 Então mas há cá coisas que eles… Eles mandam vir de fora coisas que se produzem cá e que eles, que os homens têm aí todos os anos!
INF E melhor que lá!
INQ2 Pois.
INQ1 Claro.
INF Olhe, suponhamos, o vinho, fruta, [vocalização] o leite…
INQ2 Pois.
INF Então cá é o melhor!
INQ2 Claro!
INF Cá é o melhor!
INQ1 Claro!
INF Mas ele o nosso governo [vocalização] não protege nada a agricultura.
INQ2 Pois não.
INQ1 Pois não.
INF E a agricultura está em baixo. Olhe, o lavrador [pausa] – lembre-se duma coisa –, o lavrador [vocalização], para meu entender é isto: só está a fazer agora [pausa] para consumo dele.
INQ2 Pois, pois.
INF E quem é E ele têm tem que mandar vir de fora para manter o outro povo que não trabalha.
INQ2 Claro.
INF Que não trabalha na terra, não acha? E se ele protegesse a agricultura, na vez de vir de fora, gastava o de cá.
INQ2 Pois claro.
INQ1 Então, mas é evidente. Exactamente! Pois.
INF Ah! Eu acho! Então a gente criava… Olhe lá, as farinhas [pausa] – bem, que eu não compro; mas compro pouco –, mas [vocalização] as farinhas se estivessem baratas, criava-se porcos, criava-se vacas, [pausa] criava-se vitelas.
INQ2 Claro.
INF Ora, aquilo que vendem é aquela carne que vem de fora e não é como a de cá! Vem con- congelada, vem lá de fora, vem… Quem sabe lá que carne é aquela!
INQ2 Claro.
INF Ele não sabe! Ele [pausa] eu fui aí a um uma boda, aí abaixo, [pausa] a [nome próprio]. E deram lá uma carne que ele achou-se tudo doente.
INQ2 Ah!
INQ1 Ah, veja lá!
INF Sabe? Tudo o que lá foi achou-se doente. Achou-se mal porque a carne… Bem, eu até só tirei um bocadito, ele, por acaso, eu não me achei mal, mas houve pessoas… Eu quando vi aquela carne e fui a prová-la, disse: "Não, não. Eu não quero"! Comi lá um bacalhauzito, mas aquilo nem prestou!
INQ2 Pois.
INF E eu disse: "Ora, que é que vale uma pessoa vir para uma boda"?! Dá-lhe aí dez contos, ou [vocalização] sete ou oito contos [vocalização] …
INQ2 Pois.
INF Que cá, cá usam! [pausa] Quando é assim uma boda, a gente hoje aos noivos, [vocalização] dá-lhe sete ou oito ou dez contos, ou quinze, ou [vocalização] lá o que calha.
INQ2 Pois, pois.
INF Ora bem, uma pessoa foi pagar um dinheirão e não comeu nada!
INQ2 Pois.
INF Pch, não presta para nada! Não presta para nada! E se a agricultura estivesse mais desenvolvida, os adubos… A gente vai comprar os adubos caros, ah, a o que o que a gente vende!… Então, uma vaca, a gente agora quer vender uma vaca, então e ele se ele não estiver registado, não a pode vender.