INF Tantas pessoas que há com estudos e não e não são capaz de dizer o que eu digo.
INQ1 Pois.
INF Mas é o meu sentido que puxa. Pois. Parte das vezes não preciso estudar, vêem-me as coisas ao sentido, e começo a [vocalização]… Ou parte das vezes ou ou escrevo ou [vocalização] para fixar para mor de não me esquecer, ou fico com as coisas fixadas cá no sentido. Agora isto, bem como isto, é uma conversa que a gente ouve aí a cada passo.
INQ1 Pois, pois.
INF Qualquer pessoa diz isso [pausa] aí.
INQ1 Rhum-rhum. Olhe, o tio Hermes disse que quando ia assim por essas terras que cada uma tinha a sua maneira diferente de falar…
INF Sim senhor.
INQ1 Portanto, em Reguengos é diferente daqui?
INF É diferente.
INQ1 Portanto, o que é que… O que é que, o que é que o tio Hermes vê lá que seja diferente de cá? Portanto, o que é que?…
INF Sim senhor.
INQ1 Como é que sabe que uma pessoa é de Reguengos?
INF [vocalização] E hoje já não há difere-, não já se não diferença tanto porque, hoje, o povo de Reguengos está já mais educado que o que estava antigamente.
INQ1 Rhum.
INF O povo de Reguengos era o povo mais selvagem que havia. E hoje, mesmo assim, hoje está mais educado. Dantes, a gente ia lá… A gente, eu, eu não Eu ia lá, estava lá meses e meses – que eu tinha lá fa- as minhas famílias –, ia para lá, estava lá meses e toda a gente me conhecia. Mas o Reguengos teve tempo que uma pessoa que lá ia, de fora, pouca vez de lá abalava sem sem o espinhaço sofrer, ou a cara. Pois. E de maneiras que, vai-se a ver, era estúpido. O Reguengos era estúpido. Mas hoje mesmo assim já escapa. Já [vocalização] Já é uma gente que se pode lidar qualquer coisa. Sim senhora.
INQ2 Pois.
INQ1 Mas assim na fala, que é que, que é que eles tinham de diferente, ou?… Por exemplo, aqui à volta, qual é a terra mais, que se fala assim mais diferente do que C-, do que o Carrapatelo?
INF [vocalização] Quase todas fazem diferença. O Carrapatelo é um povo com pouca educação. Eu sou um homem que não tenho educação nenhuma. A maior parte das palavras não as sei dizer. E nem E nem tenho essa tabela. E [vocalização] chega-se ali a São Pedro, há aí pessoas já educadas, que até têm vindo aqui à minha casa, já para, para eu para eu lhe explicar certas coisas. Pessoas!… Já aqui chegou um com o sétimo – era para fazer o sétimo ano – e veio aqui à de mim para o eu encaminhar. Porque ele tinha feito já seis exames, tinha sempre ficado bem. E estava receoso com o sétimo ano, e veio aqui enf- [vocalização] falar comigo para eu para eu o encaminhar. Quando o Quando o moço me disse: [pausa] "Ó tio Hermes, eu venho cá porque eu vou a fazer o sétimo ano e [vocalização], vai-se a ver, estou receoso. Ainda não fiquei mal vez nenhuma do exame e agora estou receoso com o sétimo ano. E não gostava de ficar mal". E eu o que é que faço? Disse-lhe assim: "O que é que você quer que eu lhe diga do sétimo ano?! Eu tenho a segunda classe mal aprendida". "Mas o senhor sabe"! "Mas sei o quê"?! "Sabe, sim senhor". Digo: "Ora esta"! Eu fiquei sem pinga de sangue, sem saber o que havia de dizer. "Bom, você diz que eu que sei. Diga-me lá o que é que que eu sei". "Mas eu não sou capaz de lhe dizer". Começo a experimentá-lo, começo-lhe a dizer: "Então é isto, é isto"? "Não senhor". "É aquilo"? "Não senhor". "É doutro"? "Não senhor". "É desta maneira"? "Não senhor". "É da outra"? "Não senhor". Perguntei-lhe aí umas quinze ou dezasseis vezes, até que ch- que lhe dei uma palavra que ele que eu até já me não lembra como ela foi. [pausa] Dei-lhe uma palavra que ele fez-me assim: "É por aí que eu quero ir"! "Bom, se é por aí que você quer ir, então vamos então [vocalização] a falar". Dou-lhe em dizer coisas e ele escrevendo. Eu dizendo e ele escrevendo. Eu dizendo e ele escrevendo. Ele trazia um livro, foram só dezoito páginas que enchemos. E depois levou aquilo para a esco- E passou-o depois, para ficar mais limpo, passou-o para outro livro. E levou aquele livro lá para a escola – que ele andava em Évora à escola. Levou aquele livro lá para a escola. Entregou-o lá ao professor dele. O homem começou a ler aquilo e levou para a casa dele. Já lho tem pedido, diz-lhe que não, que não lho dá. Vê, um homem analfabeto, faz de conta! E o professor diz que não lho dá, e que não lho dá, e que não lho dá. Com que ele tornou a fazer outro porque tinha cá a cópia. Tornou a fazer outro. Já aqui Já aqui veio para lhe eu f- dizer coisas e ele escrever para a FAOJ de Évora. A FAOJ de Évora. Tem lá muitas coisas minhas!
INQ1 Rhum-rhum.
INF Sim senhor. Se for à FAOJ de Évora perguntar pelo por as minhas coisas, talvez lá as encontre.