INF1 Ora bem, era um rapaz…
INF2 Que namorava com uma espanhola.
INF3 Dos Cortos [pausa] de Cima. Chama-se Lentemil.
INF1 Nam- Namorava com uma espanhola. E depois… [pausa] Vocês ao irem ao [vocalização] ao irem aos Portos, vêem o cruzeiro – que já hoje ali falaram outros.
INQ Pois, pois.
INF1 Ao verem os cruzeiros, vêem os altos uns al- – um alto grande que [vocalização] lá se vê à frente; uns, um um alto sem penedos. Ali já não há penedos.
INF3 Claro. Já é divisão da-daqui [vocalização] disto e da Espanha.
INF1 Os penedos Os penedos ficam cá abaixo baixo, onde lhe eu disse que era a Pena de Anamão. Depois, para cima é monte raso – monte; penedos há poucos – e [vocalização] e do outro lado de lá daquela serra, pois, é Espanha.
INF3 É Espanha.
INF1 E aquela serra lá num todo alto muito do alto, que viram, é onde há os os marcos. Nós enchemo-nos de estar lá. E então, esse tal rapaz ia à ronda a Espanha.
INF2 Gostava duma rapariga.
INF1 Gostava duma rapariga.
INF3 Chamava-se, [pausa] gostava-se [vocalização] Chamava-se a ronda. [pausa] Ia lá
INF1 Chamava-se a ronda.
INF3 Ia lá…
INF1 À ronda, à ronda. Era o baile.
INF2 À ronda, à calada, namorar-lhe namorarem de noite, que de dia não podiam. Era preciso trabalhar.
INF1 Eram os bailes. Eram Eram como se como agora [vocalização] irem para os cafés. Que agora vão para os cafés!
INF3 Mas, quer-se dizer, atravessava a serra.
INF1 Atravessava a serra.
INF2 Ele gostava muito dela.
INF1 E tinha um cão [pausa] e o cão ia com ele. E depois a mãe não não queria que fosse porque tinha medo a que o que o comesse o lobo .
INF2 Não. O cão O cão castrejo é muito leal.
INF1 Mas espera. Escuta. Depois – agora estou eu a contar –, depois, a mãe [pausa] pediu-lhe para que não fosse para onde à rapariga espanhola, [pausa] que havia raparigas cá, e que o pessoal anda cá e que recusaram dar a cara.
INF2 Não é. Não é nada disso. É porque o pessoal cá é racista. Não queriam que um português se juntasse com um espanhol.
INF3 Claro. Naquele tempo.
INF1 Bom… [pausa] Naquele tempo.
INF3 Pois.
INF1 O [vocalização] rapaz gostava da rapariga [pausa] e ia. Ia todas as no- – quando podia, quando podia. E levava o cão com ele. Era o colega dele era o cão.
INF3 O f- O fiel dele era o cão.
INF1 O fiel dele era o cão. Mas, depois [vocalização], como a mãe não queria que fosse, [pausa] lá uma noite, ela [pausa] viu que ele que ia para a, que que teimava e que ia para a Espanha [vocalização] para onde à rapariga, e ela prendeu o cão, [pausa] para ver se ele tinha medo porque [pausa] que não ia sozinho.
INF2 Que não ia sozinho.
INF1 Porque o cão era o [vocalização] o colega dele, o companheiro.
INF3 Escondeu-lhe o cão.
INF1 Escondeu o cão.
INF2 Meteu à corte com o gado, vá.
INF1 Meteu-o [vocalização]. Escondeu o cão. Fechou o cão.
INF2 Meteu na corte com o gado que ele …
INF3 E ele julgou que o cão que ia atrás dele; mas o cão nunca apareceu.
INF1 E ao quando lhe ele julgou que levava o companheiro com ele, mas o cão não foi porque, claro, a mãe prendeu-o e o cão não foi.
INF2 [vocalização] É a ori- a origem de ser a raça lobeira, entende, é que eles obrigavam o próprio cão castrejo a dormir no curral. Ele era obrigado a dedicar-se aos animais. Daí, eles eles usaram mais o cão para de se defender dos lobos. A origem é essa, vá.
INQ1 Pois, pois. Pois, pois.
INF1 Pois, a origem é essa.
INF2 A origem é essa.
INF3 Ora bem.
INF1 É. Depois Depois o rapaz foi [pausa] e chegou lá perto perto já da Espanha – perto da Espanha ainda não, que ainda era na serra.
INF2 Mas próximo dela morava a ma-…
INF1 Mas Mas havia uma árvore que era um carvalho, muito grande.
INF3 Não.
INF2 Não. Depois era assim: próximo da mãe morava a madrinha, não é? A par- À beira da deles, morava a madrinha. E vai daí que durante a noite… O rapaz saíu, e durante a noi- [vocalização] seguiu para a porta da espanhola, não é?
INF3 Claro, mas tu falas-lhe à maneira da outra.
INF1 Pois claro, pois claro. Tem que ser à mo-
INF2 Uma vez que você não lhe sabe contar. Está esquecida.
INF1 Mas, assim assim querem vir gravar. Foi [pausa] ao descer, lá naquela serra; faz a serra assim, e depois depois desce-se [pausa] para ali e desce-se para este lado.
INF3 Não, não .
INF2 Não. Oh!
INF3 Não é assim.
INF2 Depois, olhe, sabe o que passou? Ele chegou à, à à porta da espanhola – ela está esquecida –, chegou à porta da espanhola… E ele adorava a espanhola! Simplesmente, naquela noite, ela que fez? Ela tinha era supersticiosa, a rapariga. Mas ele só descobriu naquela noite. Espreitou por o buraco da fechadura. E ela que tinha na borralheira? Como ali Como há ali no [nome] – chamava-lhe eles a borralheira – [vocalização] tinha um sapo. Então estava a picar o sapo com um [vocalização] garavato – um garavato que é daquilo; chamam-lhe eles garavato um pau daqueles. [vocalização] Picava o sapo e dizia assim: "Sapo, sapão, ele o castrejo virá ou não"? E estava ca- naquela [vocalização] naquilo – naquela festa – com o sapo.
INF3 Naquela festa.
INF2 E o rapaz a espreitar. Assim que viu aquilo [pausa] disse:
INF3 "Acabou".
INF1 "Acabou".
INF3 Deu a volta.
INF1 "Ela é uma bruxa! Eu não a quero para nada".
INF3 Agora segue tua mãe que sabe melhor.
INF2 Maldita espa– Maldita espanhola!
INF3 Deu a volta.
INF1 Ah, ele foi lá. Foi então
INF3 Deu a volta.
INF1 Chegou lá e deu a volta. Ora foi onde à rapariga e deu a volta.
INF3 Deu a volta a caminho de [nome].
INF2 Não [vocalização]. Mas, entretanto, cá em casa, a madrinha [vocalização]…
INF3 Soltou o cão.
INF2 Não. A madrinha cono- começou-se a sentir mal.
INF3 E soltou o cão.
INF2 Pois. [pausa] E chegou à beira
INF1 Ó mulher, mas a história, a história o cão é um, e a história do rapaz é outra. O rapaz chegou à porta da rapariga e passou aquilo [pausa] e ele voltou para trás.
INF3 E deu a volta.
INF1 Voltou para trás. E ele chegou, ao subir na serra…
INF3 Era muito [vocalização] A serra faz isto.
INF1 Pois faz isso. Então era o que ele
INF3 E vinha um bocado cansado; e pôs-se a descansar à beira do carvalho.
INF1 À beira dum carvalho… Havia uma árvore grande, um carvalho grande.
INF3 E havia folha, e havia folha
INF2 Um castanheiro. Um castanheiro montanhês.
INF3 Era [vocalização] carvalho, filha, que eu ainda me lembro d- dos bocados dele. [pausa]
INF1 Era carvalho, Jesus. [pausa] Ai Jesus!
INF3 Era um carvalho. E depois, de, o lobo veio o lobo e tapou-o com folha.
INF2 Não, pai. Era no Era na estação do Outono. A árvore estava sem folha.
INF3 Tapou. Tapou-o com folha. Tapou-o com folha.
INF2 Muito obrigada, porque era no Outono, a folha estava seca.
INF1 Pois estava.
INF2 E foi quando o lobo…
INF3 Tapou-o e chamou por os outros.
INF2 O lobo, o lobo ta- O lobo ta- [vocalização] sentiu rug- rugir as folhas – não o chegou a tapar. Ao Ao calcar as folhas, as folhas deram-se e ele co- com com o medo [vocalização], chegou por cima do rapaz, fez chichi no rapaz. Não tapou nada. [pausa] Apertou-se-lhe e de- e fez chichi no rapaz.
INF3 [vocalização] Mas e [vocalização] chamou por os outros.
INF2 Mas é que depois é que foi chamar por outros .
INF3 Chamou por os outros. E ele ao [vocalização] sentir o chamar – a uivar: uuuuu, [vocalização] a chamar por os outros –, enfiou-se pelo carvalho acima [pausa] e vê o cão. Vê o cão era o.
INF1 Mas vê o cão, aí já aí já pára. Aí já Ele enfiou-se pelo carvalho acima. E depois havia um barulho lá cá na, cá na, cá na na casa da da mãe. Porque a madrinha [pausa] sentia ganir o cão na na corte. E o cão enderençava-se por as portas arriba e gania. [pausa] E a madrinha
INF3 O cão, o cão O cão parece que lhe dava o [nome]. [pausa] E soltou-o.
INF2 Foi a madrinha que soltou.
INF1 Pois. E a madrinha deu-se de conta e [vocalização] e foi junto à comadre. Disse-lhe: "Comadre, você tem o cão cerrado e o cão ladra muito. O cão está a ganir é você, você abre-lhe".
INF3 "Solte o cão".
INF1 "Solte o cão e diga".
INF2 Não. E disse-lhe: "Você onde tem o meu afi-? Onde está o meu afilhado"? "O seu afilhado está na cama". "Pois então abra-me a porta do quarto, que eu tenho que ir vê-lo por vê-lo eu mesma". [pausa] Ele pusera um molho de palha na cama [pausa] a parecer que era ele.
INF3 Sim, sim, sim. Ele ajeitara a roupa [pausa] a parecer que era ele.
INF1 A enganar a mãe.
INF2 Mas a madrinha [pausa] disse: "Não, não. Eu vou lá ver eu mesma". Ist-, is- Tirou as mantas para trás e [pausa] viu que era um molho de palha. E foi quando lhe disse: "Pronto, aí está o cão a dar sinal [pausa] que algo lhe está a acontecer ao dono".
INF1 "O [vocalização], o meu fi- O meu afilhado come-o comeu-o o lobo ou o come que está o cão a… O cão matava-se hoje"!
INF2 Aí está o a inteligência do cão castrejo.
INF3 Solta, solta-se "Solte-se o cão"! Soltaram o cão. [pausa] Chegou lá, os lobos 'estranficinharam-no' todo. Eram Eram seis ou sete. Mataram o cão.
INF1 Pois. O [vocalização] rapaz O rapaz safou-se que estava lá no alto do carvalho.
INF3 Mas o cão não.
INF1 E o cão, comeu-o comeram-no os lobos.
INF3 Morreu. E depois [pausa] deixou vir o dia, por o alto sol, quando se eles retiraram que começaram o [vocalização], aqueles aqueles gados – só sair espanhóis e coisa –, e ele foi foi…
INF2 Não. Entretanto chegou a mãe e a madrinha à beira dele.
INF1 Pois foi, mulher. Mas foram saber dele .
INF3 Depo- Mas depois fo- foram saber dele e ele dali foi para Lobeira – chama-se-lhe Lobeira que era [vocalização] [pausa] um ajuntamento [pausa] ou como aqui a freguesia.
INF1 Ajun– Ajuntamento. Um ajuntamento como aqui a freguesia.
INF3 Chegou alá e disse-lhe que pagava o carvalho [pausa] por aquilo valor que fosse, que queria que o carvalho caísse de velho. E caiu de velho. Que ainda me lembro de ver lá os bocados.
INF2 E caiu de velho.
INF1 Pagou Pagou o carvalho – como é ir aqui à à Câmara, ou [vocalização] onde à Junta da Freguesia – , pagou [pausa] o carvalho, e ficou o carvalho. Caiu de velhinho.