INQ Ainda faz as matanças à moda antiga? …
INF Então a gente faz sempre [vocalização] da forma do costume de dos nossos antigos. Fazia sempre.
INQ Então como é que é? É uma festa muito grande, não é?
INF Ele a gente fazia em tempo era em três dias. Agora [vocalização] habituaram-se a fazer em dois, [pausa] a maioria.
INQ Como é que era no tempo em que se fazia em três dias? O que é que se fazia antigamente?
INF Em três dias era a mesma coisa, mas levava o fim-de-semana aquela festa. Mas depois mudaram para dois dias, a gente faz em dois dias. A gente mata o porco da manhã. Quando chegam, a gente oferece biscoitos e [vocalização] …
INQ Quando chega quem?
INF Quando chegam os convidados, [pausa] as nossas famílias e alguma pessoa amiga.
INQ Quantas pessoas é que a senhora reúne quando é na matança?
INF Ele eu não sei. Ele eu em tempo, tínhamos muitas, mas agora morreu as minhas famílias, só tenho agora o meu filho e a minha nora, e os meus três netos, e é o sogro e a sogra de [vocalização] do meu filho e é a sua avó. Essas pessoas que a gente tinha…
INQ E, e os vizinhos?
INF E a gente cá de casa, os dois.
INQ E os vizinhos não vêm, normalmente?
INF Os vizinhos vêm, às vezes, à noite, ver o porco. Outras vezes, não querem vir à noite [pausa] passear, vêm noutro dia da manhã ver o porco. E da manhã, quando a gente mata, a gente oferece biscoitos e aguardente. [pausa] Em tempo, era assim. Agora desde que o meu filho se mandou e casou, a gente faz tudo é à moda da Ribeirinha. Eles chegam, [pausa] vão é…
INQ É a moda da Ribeirinha, é?
INF É. Vão é almoçar. [pausa] E depois do almoço põem em cima da [vocalização] da mesa, em duas mesas, duas bandejas com biscoitos, [vocalização] e aguardente para aqueles que querem. Depois vão apanhar o porco e vão matá-lo. Depois vão chamuscá-lo. [pausa] E depois daí, [vocalização] na altura que está chamuscado de um lado, [vocalização] vão com biscoitos… Ele é cavacas que é assim uma coisa mais leve – para não ter mais demora – e uns rebuçados para eles comerem. Depois ficam a acabar de chamuscar, ele viram o porco, tornam a [vocalização] chamuscar. E ao cabo de chamuscar, vêm para dentro, vão almoçar.
INQ E o que é que almoçam?
INF É [vocalização] Almoça-lhe [vocalização] é o que a gente tem. É o queijo e o pão, queijo de peso e pão de trigo, e [vocalização] café. E depois vão para fora lavar o porco.
INQ E são os homens ou as mulheres?
INF Os homens e há mulheres que vão. Mas eu nunca vou porque também em casa do meu pai eu não ia. Porque nós ali apanhamos-lhe o vinho . Fui dois dias mas disse-lhe que não ia mais. Vindimavam quinze dias [pausa] e estive quatro dias de vindima, também não me convinha. Depois, daí, [vocalização] vão lavar antes de lavar as tripas eles vêm para dentro, oferecem-lhe pão e [vocalização] daquele sangue cozido que [vocalização] que vai para a morcela e gua–.
INQ Isso no primeiro dia?
INF No primeiro dia.
INQ É logo no primeiro dia que se come?
INF É, sim senhora. Então [vocalização] pegam no sangue, depois cozem umas postas que é para o sarapatel e dessas postas, se tem bastante – que às vezes ele fica com ele dentro em si –, depois botam-lhe o alho, malagueta, e comem com pão. E bebem vinho os que gostam e os que não gostam comem biscoitos. Depois ele desmancha-se as tripas, vão lavá-las.
INQ Também os homens?
INF Os homens [pausa] vão lavar.
INQ Vão lavá-las ao mar?
INF Toca a lavar! Não senhora. [vocalização] O meu filho fica, à direita, na Ribeirinha, quem vai para a Esperança. E vê-se mais gente que é ali talvez como ali ao pé daquele tonel. [vocalização] É os poços da Ribeirinha. Tem ali água ao pé. E tem uma cisterna de água. Depois, daí, eles ficam a lavar as tripas. [vocalização] E o jantar está a andar. [pausa] Toca a ir tirar o jantar, para comerem. Depois um vai tratar do seu gado, um vai para aqui, outro vai para ali, outros ficam a jogar às cartas. Depois os outros desembaraçam-se e vêm, estão todos juntos. Quando é à noite, estão para ali a fazer serão, a jogar às cartas, outros a tocar, cantarem, outros é a ver televisão, outros a ouvir gira-discos. É assim. E passa [vocalização] – às vezes ele a jogar – a ceia às vezes para as duas, três horas. Mas ele já há uns anos o meu homem anda muito doente. Chega-se à noite – e depois também tenho os meus bichos: "Quero-me ir embora". [pausa] Ai, meu Deus! E [vocalização] E no outro dia então, da manhã, desmancham o porco [pausa] para salgar. E tiram-lhe o que é dado, pois ele o que é para o para os torresmos. Bota-se-lhe água e sal, e depois daí – daí a uma hora, ou hora e meia – tiro-os da água e sal, fazem o molho de vinha-de-alhos com alho e [vocalização] vi [pausa] alho e malagueta e canela. Botam aquilo por cima, botam-lhe uns canados de vinho e mexem muito bem, aquilo fica como o molho de vinha-de-alhos. Ainda quando é ali à [vocalização] à tardinha, bota-se a derreter, aquilo ficam loirinhos, muito lindos, e a cheirar que consolam! E ali fica uma esborradeira cheia com torresmos de vinha-de-alho. Quando aí era, às vezes, daí a dois dias ou três, que é para ficar tenrinho, derretem os torresmos de vinha-de-alhos e dão a ceia. E [vocalização] E [vocalização] salgam o bucho. Depois o bucho é picado todo aos bocadinhos e a cabeça do porco. E depois cozem-na com feijão branco ou com macarrão, outros é com arroz. É conforme as pessoas gostam. É assim.