INF1 " Não te cases, logra-te da boa vida, quem foi cedo mal casada, chora de arrependida". Era eu uma! Assim que me casei arre- já estava trinta vezes arrependida.
INF2 Quem? Você? [pausa] Então não gostou?
INF1 Não.
INF2 Ah! Carago!
INF1 Eu às vezes dizia-lhe assim para ele: "Eu se de solteira soubesse a vida de casada, nunca homem nenhum me possuía"!
INF2 Ai! Valha-nos Deus!
INF1 Então [pausa] são ideias!
INF2 Eles Eles têm coisas tão boas!
INF1 Olha, sabes porquê? Eu era uma senhora. [pausa] Eu não não estava habituada noutro no campo. A minha mãe era tecedeira.
INF2 Nunca tinha visto aq- aquelas coisas, pronto, sabe?
INF1 A minha mãe era tecedeira. Eu tratava de fazer as meadas e de lavar as meadas [pausa] e dobar e emparelhar. Depois casei-me. Era uma vida de cão! Aqui punham as vitelas as poias nas chinelas lá ficavam. Depois punham-me os pés na saia, era muito comprida, punham-me na saia, rasgavam-me a saia. E eu [vocalização]: "Ai! Ai meu Deus! Tu foste um falsador para mim! Disseste-me que não arranjavas vida"… "Ai, querias ser senhora"? "Senhora era eu! Não foras lá à pergunta de mim que eu era senhora"! Porque eu não fazia nada – não era? –, senão aquelas coisinhas de casa. Eu nunca tinha segado um molho de erva. A primeira erva que seguei, disse-me a Emília: "Oh, vem-me ajudar a a segar um molhinho de erva". Era dia de entrudo. Depois, quer ver? A primeira mancheia que eu peguei na seitoira para segar, seguei o dedo. Eu comecei a chorar: "Agora, olha, agora componde-me, agora curai-me"! Já não seguei mais erva nenhuma. E depois era cargas e cargas e cargas, sem eu estar habituada! Ai, muito chorei! Ainda tinha eu vontade de me tornar a casar!
INF2 Então não se casava agora outra vez?! Oh!
INF1 Nem que fosse um bispo! Nem que fosse um príncipe! Não queria mais saber de homens! Valia mais só a minha a minha regalia e o meu descanso do que quanto havia no mundo.
INF2 Mas também faltava aquele amor!
INF1 Aquele!… Tudo o que não há, se dispensa. Enquanto a gente não está habituada nem sabe o que é.
INF3 Então "se solteirinha não te cases", é?!
INF1 É [vocalização]. Enquanto a gente não está habituada, então [vocalização]… É como uma criança pequenina!
INF3 Então, tia Elina, como é? "Se solteirinha não te cases", mais?
INF1 Hã?
INF3 "Se solteirinha, não te cases"…
INF1 "Se solteirinha não te cases, logra-te da boa vida, quem foi cedo mal casada, chora de arrependida". Eu, às vezes, dizia assim para o meu Epaminondas: "Eu sou uma"! Sim.
INF3 Outra quadra, ó tia Elina.
INF1 Hã?
INF3 Outra quadra assim desses tempos. "Não há machado que corte"…
INF1 Ai, ó meu Deus! Eu já não… Olhe, quando estou sozinha, estou, penso e lembra-me tudo. Agora já já desqueci. Olhe, olhe, eu nem sei.