INQ1 Como é que se disse… Como é que disse que se chamava aqui o sítio?
INF Aqui é o lugar do Barreiro.
INQ1 Lugar do Barreiro.
INF É, sim senhor. É o lugar do Barreiro. É estas casas aqui, aquelas acolá… [vocalização]
INQ2 Pertence tudo a Ponte da Barca?
INF Não, não, não.
INQ2 Ou a Arcos de Valdevez?
INF É tudo aos Arcos, tudo aos Arcos. Até meio da Ponte da Barca [pausa] – meio da Ponte da Barca – é os Arcos.
INQ2 Pois.
INF Proba, Campo de Lima, a zona agora a zona industrial que está acolá… Está acolá a BIC – não é? –, que também fazia tudo, tudo os Arcos.
INQ1 Era tudo os Arcos?
INF Tudo. É, sim senhor.
INQ1 E a… A senhora e o seu marido sempre viveram por aqui ou foram?…
INF Vivemos. Até nunca saímos.
INQ1 Sempre aqui?
INF Estamos casados há cinquenta e um ano…
INQ2 Mas nasceram onde? Aqui?
INF Ele nasceu aqui e eu nasci, eu eu então nasci no outro lado do rio, em [nomepróprio].
INQ1 Então encontraram-se a meio do rio?
INF [vocalização] E eu, eu tinha a minha avozinha na banda daqui – os meus avozinhos; meu pai era daqui – e depois eu vinha aqui… E eu, não era por desfazer, mas diz que eu era muito linda em pequenina!
INQ2 Ainda agora é.
INF Ele não. Eu agora já [vocalização]… Já tenho levado muitos contratempos para criar sete filhos…
INQ1 Como é que a senhora se chama, desculpe?
INF Sou Arlete.
INQ1 Arlete.
INF E então
INQ1 Manuela e eu João.
INF Graça a Deus, por muitos anos. E então [vocalização], passava aqui no barco. E ele via eu que passava eu passar por lá, pronto! Fiz então anos na Senhora do Vale! – que eu não sei se ouviu falar.
INQ1 A Senhora do Vale?
INF [vocalização] Na Na Senhora do Vale que é para o lado de São Jorge para – quem vai para bandas de acolá. E nós fomos lá e tomámos namoro. [vocalização] Ele, ele tinha Ele tinha dezasseis anos e eu tinha cato- quinze. Pronto, começámos a andar novinhos! Falámos oito anos e meio!
INQ1 Ainda foi muito tempo!
INF Muito respeito. Muito respeito um para o outro. Respeitou-me como [vocalização] se fosse irmã dele e [vocalização] . E ia [pausa] Os meus pais iam para Viana, eu ficava em casa com os meus irmãos porque era a mais velha… Eram nove irmãos [pausa] e eu era a mais velha deles todos – não é? – e é que trabalhava no campo, e é que os levava… Tinha vaquinhas para lhe tirar o leite, e fazia assim… E pronto, ele ia para nossa casa, pronto! Um dia foi, ele [verbo] a tropa… Queria casar antes de ir para a tropa; eu não, que devia ser muito canalha. Deu a tropa, dezoito meses, na Póvoa do Varzim. Veio em Maio. Depois a minha mãe, não sei se estava chateada, disse: "Ó rapaz! Tu, a mi- a minha filha para ti já não é"! "Ai, tia Armanda! Só Deus do céu é que nos há-de desapartar um do outro"! "Então 'casende-vos'"! A minha mãe emprestou-nos cem mil réis naquele tempo. Pronto, fui ao padre. O padre queria… Viu-lhe a nota de cem mil réis, já queria [pausa] cem mil réis por casar. [vocalização] Diz ele logo: "Não. O senhor abade casou fulano c- o primo com primo. E [vocalização] E eu que não sou nada, quer-me cem mil réis e ao outro levou menos". Casámos na mesma altura. Esse rapaz até morreu agora na França. E então ele pegou e [vocalização] pronto. Diz: "Então dai-lhe lá". E casámos, quedámos, viemos para aqui para à dos meus sogros. Estive aqui sete anos com os meus sogros, Deus lhe perdoe. Depois fomos para o moinho – que acolá em baixo há outro moinho. Abaixo deste, há outro moinho, e outro lá em baixo. E nós depois fomos para lá… [pausa] Mas depois então é que quando as crianças começaram a crescer, viemos para aqui outra vez. Lá não tínhamos [vocalização] assim a conveniência – a casa era só uma e não tínhamos. Tornámos a vir para aqui e depois os falecidos faleceram… Estamos aqui. Agora os meus filhos, um tem uma casa aqui adiante [pausa] – tem aqui uma casa –, a rapariga tem lá adiante outra, e outra está em, em Lavra- em Ponte da Barca casada… E o meu [vocalização], meu fi-, o meu mari- os meus filhos queriam comprar isto. É recordação do pai – não é? Como o pai nasceu aqui… E o pai nunca saiu daqui para lado nenhum. Nadinha!