INQ1 Imagine que eu tinha ali um terreno sem nada e que queria ter vinho depois, ao fim de um ano ou dois. Qual é o trabalho todo que eu tenho fazer até ter vinho?
INF1 Para Até ter o vinho? [vocalização] Primeiro é, já sabe, é amanhar a vinha, pôr-lhe…
INQ1 Não, mas o terreno não tinha lá nada ainda.
INF1 Ah, não tinha nada?!
INQ1 Nada.
INF1 Pois. E depois queria passar a vinha, não era?
INQ1 Queria… Exacto.
INQ2 Queria plantar vinha.
INF1 Pois. Tem que Tem que ser [vocalização]: o terreno tem que ser cavado bastante fundo, que a vinha nã- convém ficar com o terreno cavado bastante fundo. Agora até há máquina; dantes era dantes era era a braços. Era umas brigadas de homens que serviam. Uns ganhavam a jorna, outros iam até emprestados, trocados – não é? – cavar o terreno já destinado para a vinha, já mais fundo do que sendo para amanhar outros outras coisas da agrícola. O milho ou a batata já não precisava de ser tão fundo. Mas para a vinha é preciso sempre mais fundo.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 E depois plantava-se o bacelo. Depois ao fim de um ano de o bacelo estar plantado, enxertava-se o bacelo. Punha-se-lhe o garfo – chamam-lhe eles o garfo, exactamente – e depois então desse garfo é que é que se formava a [vocalização] dita parreira, a dita cepa, [pausa] que dá as uvas então. Depois a partir daí tem que se curar, tem que se andar a tratar, para aí todas as semanas, uma vez ao menos, tem de se andar a tratar para não lhe dar o míldio – chamam eles o míldio – que é a moléstia na da vinha. E até, ainda apa- de vez em quando, ainda aparece. Isso estraga muito [vocalização] as uvas. Isso dava um trabalhão assim! Dava e continua a dar ainda.
INQ2 Pois.
INF1 Mas nos outros tempos a calda era feita manualmente; era com com o cobre, chamavam-lhe o [vocalização] sulfato de cobre.
INQ2 Sulfato de cobre.
INF1 Sulfato de cobre. Depois temperado com a com a calda, [vocalização] ou com cal mesmo, com cal virgem, que não se podia realmente, nem nem dar uma percentagem maior que, que o que o devido [pausa] de cal, nem também ficar p-, só só o sulfato. Tinha-se que pôr aquilo lá dentro com uma certa medida. E depois era era temperado com um papelinho, um papelinho pequenino, que era branco, e depois de se acravar, ia-se acravando na na calda até começar a mudar de cor.
INQ2 Assim, que eu depois começa-se-me a arrefecer esta mão.
INF1 Depois de estar a mudar…
INQ2 Ai, que… Estou com esta mão aqui esticada, fico com a mão gelada.
INF1 E [vocalização] E depois é que se via que estava já boa para isso.
INF2 Aqui faz faz muito frio também nesta casa.
INQ2 Deixe estar, deixe estar.
INF1 E depois tratavam-se assim as vinhas até chegar à altura da vindima. Na altura da vindima, vindimam-se as uvas. Depois, e- [vocalização] ago- ainda agora mesmo – é o caso ainda aqui nas nossas aldeias –, ainda é pisada a pés, as uvas, dentro duma dorna ou dum lagar. Agora já é mais lagares, mas noutros tempos era mesmo dentro da dorna [pausa] – dentro dum dum lagar, do lagar de de vinhos. E depois dali então é que era é que era transportado para as para as vasilhas, e lá e lá fervia o mostro. E depois então é que passado uns uns dois meses ou quê, está o vinho feito – está o dito vinho.