INQ1 Portanto, aquele trabalho…
INF1 Um velo. Um velo de lã.
INF2 Um velo.
INQ1 O que se tinha que fazer à lã?
INF1 Tinha que, tinha Primeiro é carpeá- lavá-la, depois carpeá-la… Não sei se quer isto c- mais compassado.
INQ1 Diga, diga. Diga tudo.
INF1 Lavada, carpeada e, e e depois cardada.
INQ1 Que era o quê?
INF1 O cardador, que era com umas cardas, assim a passar, que era era tudo feito assim à [vocalização] à mão. Mais tarde vieram as fábricas.
INQ1 Mas isso era trabalho que não era feito pelos senhores? Era pelos donos dos…
INF1 Não, não, não, não. Isso eram eram uns indivíduos já especializados nisso, que andavam no campo para ganhar o seu. Depois viviam de lugar em lugar, sabiam onde é que havia as zonas das ovelhas e [vocalização] e vinham vinham fazer essas cardas assim, cardar. Porque essa lã… Agora mais tarde, passaram a vender a vender as lãs, mas ali, a maior parte da lã faziam-na mesmo para fabrico próprio. Cardavam a lã, lavavam-na, carda- carpeavam-na, e depois tinha que ser carpeada à ma– à mão,
INQ1 Carpeada, diz que é assim com a mão, não é?
INF1 e depois é que ia ser cardada. E depois as mulherzitas quase todas sabiam fiar com aquele fusozico, de torcer na mão, e daí faziam umas camisolas que a gente usava para guardar o frio. E guardavam bem o frio enquanto se não molhavam. Mas em se molhando, um homem via-se via-se à rasca para as para as conduzir a casa que ensopavam muito a água.
INQ2 Ah!
INF1 Pois é. Mas eram umas umas camisolas que enquanto não não se molhassem, realmente o frio não entrava.
INQ1 Não entrava.
INF1 Eram homens mesmo é que teciam isso com aquelas com aquelas duas agulhas.
INQ2 Ai, era, era um trabalho de homens?
INF1 Eram homens mesmo que faziam isso. Era, era.
INQ2 Que engraçado!
INF1 [vocalização] Até parte deles eram pastores. Anda- Andavam a guardar o gado e andavam com a com a coisa aqui assim ao pescoço e, e a e a tecer fazer as camisolas por lá e a guardar o gado ao mesmo tempo.
INQ2 Que giro!
INF1 Eu não. Por acaso eu não.
INQ2 Pois, pois, pois.
INF1 Eu nunca aprendi isso mas ele havia muito.
INQ2 E era com duas agulhas?
INF1 Era Havia com duas e havia então com não sei mais não sei quantas, que era era uma uma carreira de agulhas em toda a volta.
INQ2 Ah!
INF1 E iam, acabavam de, de gastar de encher aquela, passava à outra a seguir e davam assim a volta.
INQ2 Pois, pois.
INF1 E havia quem fizesse só com duas também.
INQ2 Pois, é como… Como se faz meia.
INQ1 Pois.
INQ2 Também tudo em redondo.
INF1 Exacto. Exactamente.
INQ1 Portanto, e aqui era só com o fuso? Não havia uma maior onde se amarrava a lã?
INF1 Não, não. Era Era tudo assim com o fuso, a torcer o [vocalização] a o fuso com os dedos.
INQ1 E aquela quantidade de lã onde é que estava, quando se estava a fiar? Estava no bolso, estava num saco, ou estava, ou não se lembra?
INF1 Isso agora é que eu não estou bem certo… Era numa cesta! Agora já estou recordado. Era uma cesta enfiada no braço e traziam as pastas dentro da, do, do da cesta.
INQ1 Da cesta.
INF1 Era.
INQ1 E depois iam puxando assim com a mão …
INF1 E depois dali iam puxando, ali assim, puxando aquilo, iam esticando, depois torciam, torciam; em estando mais ou menos com aquela torcedura que lhe queriam dar, tornavam outra vez a puxar, outra vez o [vocalização] aquela pasta que já tinha sido cardada, e tornavam outra vez a fazer, a torcer. Mas nós aqui, na nossa família, nunca se usou isso. Nem minha mãe… A minha mãe até era era costureira. Era modista e boa!
INQ2 Pois, pois.
INF1 Ela tinha tinha muita freguesia. Fazia fatos para noivas e [vocalização] e sabia fazer o fato de alfaiate, o fato de homem. Isso tudo ela fazia!
INQ2 Ah!
INF1 Não fazia outra coisa senão só fazer o comerzito, lavar a gente, e de resto, a vida dela era… Nunca foi para o campo, nem coisa, a não ser apanhar uma mancheiita de horta
INQ2 Pois, pois.
INF1 para fazer a comida. O mais era sempre [vocalização] com a máquina [pausa] a trabalhar. E tinha muita freguesia mesmo! Às vezes, o meu pai até se até se aborrecia porque ela depois não tinha tempo para, para para fazer outras coisas que haviam de ser feitas, por causa de: "Ah, eu queria isso feito até domingo, se pudesse ser"… E depois ela, coitada, não não lhe apetecia a dizer-lhe que não e depois apertava, estava até às tantas da noite sempre agarrada à máquina. A gente íamos para a cama e notávamos bem que: "Olha, a mãe ainda está a trabalhar! Ainda sentimos a máquina a trabalhar".
INQ2 Pois.
INF1 Era a dar ao pedal da máquina, não é?