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PVC06

Porto de Vacas, excerto 6

LocalidadePorto de Vacas (Pampilhosa da Serra, Coimbra)
AssuntoO linho, a lã e o tear
Informante(s) Casimira

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INF Isto levava muita volta! O linho levava muito volta! Isto, eu começava: eu eu semeava-o, e e plantava-o e [verbo] em pano, porque eu também tecia.

INQ Então vamos para ali, que eles estão a falar muito, a gente conversa aqui.

INF E [vocalização] E [vocalização] tecia-o e tudo. E, e E, em primeiro, até camisas assim para os homens, camisas de linho, [vocalização] faziam em primeiro, quando era tudo mais pobre, que não havia dinheiro assim.

INQ Pois.

INF Nós, eu plantava-o todo A gente A gente [vocalização] apanhava-o A gente, ao fim de estar na terra que, que que estava aquilo semeado , e ao cabo que ao fim de estar assim, a gente passava-o para um para um Chamávamos nós o, um, um um ripe e ripávamos

INQ O quê? Um ripe?

INF Um ripe. Que era assim com uns dentes, assim uma coisa grande, com uns dentes grandes, para tirar a baganha, para, para para mor de depois secava para tirar a semente para tirar a semente. E depois a gente, então, ia-o merg-

INQ Mas a baganha era o quê? Era semente? Ou a baganha

INF A baganha era era, então, a semente por cima do linho. [vocalização] Dava semente, dava assim umas cabecitas.

INQ E como é que se chamava a semente que se guardava?

INF A semente era a linhaça. Chamava-se era a linhaça. Até vi- Até chegavam a andar a perguntar nela, a comprá-la por mor de levar para as farmácias. Para, para, para

INQ Exactamente, porque era bom para as, para os remédios.

INF Que era bom para m- para medicamentos.

INQ Exactamente.

INF Para medicamentos. [vocalização] Ele vinham muito comprá-la. Até ele, em primeiro, na minha criação, que a gente semeava muito. E depois a gente, ao fim de o ripar, ia então a gente a mergulhá-lo no rio. Tinha ali

INQ Portanto, primeiro era o ripar?

INF Primeiro, era quando o apanhava era n- no ripe. Era um

INQ Fazia o quê? Estava

INF Era uma coisa assim num pau, num, num

INQ Exactamente.

INF como é num banco, assim um coiso de ferro, assim alto

INQ E quando estavam assim a fazer, diz que estavam a quê?

INF Estavam a ripar, estávamos a ripá-lo, e assim. E caía a baganha para o chão, ou ou a semente a a baganha para o chão , e depois botávamos aquela baganha ao sol. E aquilo, depois, o sol é que tirava [vocalização] a semente, é que tirava a linhaça é que se tirava a linhaça. A gente Eu sabia-lhe dar as voltas todas. E depois, então, a gente, ao fim de, de de se estar a [verbo], botava-o no rio assim uns tantos dias. Tinha a gente aquilo a

INQ Quantos dias?

INF É conforme. [pausa] A água A água, conforme está mais quente, curtia-o mais depressa. A gente ia buscar, ia tirar uma uma mancheia e botava-o ao sol, e secava, e daí a um bocado a gente experimentava-o. Era então uma tasca numa tasca que a gente o, o o botava. Depois ao fim de o t-, de o, de o de o tascar, [vocalização] botava-o a gente aos molhinhos, e botava-o depois num sedeiro. Era um sedeiro a assedá-lo; e depois fiava-o; depois, ao fim de o fiar, [vocalização] a gente fazia na na roca

INQ Fiava com quê?

INF Na roca. Botava-o a gente numa roca. E tinha a gente assim uma roca, assim de cana assim com um, com um, com um, com um; tinha assim, botava-lhe assim uma rodelazita diante e ficava assim E depois ia com com um fuso [vocalização] tinha o fuso , a gente fiava-o. E depois ia-o fiando, ficavam assim umas maçarocas. E depois levávamospara o para um Chamávamos nós um argadilho. E depois [vocalização]

INQ Mas não iam Não iam ser mais lavadas, as maçarocas não eram lavadas?

INF Ele não. Ai, eram lavadas! Ao fim de de, de Botava-o a gente num argadilho e depois tirava a gente as meadas. A gente dava as voltas e tirava meadas. Depois, aquelas meadas, botava [vocalização] emborralhava-se em b- em borralha do forno, donde a gente cozia o pão naquela borralha , e botava-se a cozer num nuns cestos, assim nuns cestos grandes no forno, onde a gente cozia o pão. cozia [vocalização] Aquecia muito o forno

INQ Pois.

INF e coziam-se aquelas meadas. Depois tiravam-se então, ia a gente lavá-las bem lavadinhas e corava-as!

INQ Ao rio?

INF Ao rio. Ao rio, e quem não tem rio, numa ribeira ou num barroco. E a gente depois levava então [vocalização] Lavava-as bem lavadinhas e botava-as a gente a corar assim nos sítios, assim relveirinhos, a corar. E ficavam então branquinhas e branquinhas!

INQ Nuns sítios mais quê? Nuns sítios

INF Depois, ao fim de estarem então branquinhas que a gente depois enxugava-as , lavava-as umas poucas de vezes. Eram lavadas m-, em muita vez, bem lavadinhas, bem lavadinhas, ficava aquele aquele fio bem branquinho, bem [vocalização] muito branquinho; e levava-o, botava-o a gente então naquela dobadoura que, ali, vossemecê ali . É naquela dobadoura que faz a gente então os novelos, e depois é que ia para o tear. E quando está no no tear, aquilo muita volta! O linho dava muita volta.

INQ Exactamente. Olhe, diga-me uma coisa: quando tascava o linho, o que é que saía?

INF Saía a [vocalização] rasta. Saíam rastas, assim as rastas.

INQ Olhe, e quando passava no, no sedeiro Não, no ripo. Quando passava no ripo, o que é que saía? Era a baganha?

INF Era a baganha. E a gente botava aquela baganha ao sol,

INQ Rhum. Então e?

INF e depois até largar a semente.

INQ Sim senhor.

INF A largar a, a, a [vocalização] Largava a semente que era a linhaça. E a linhaça depois

INQ Sim senhor. Então, e quando o passava no sedeiro, o que é que largava?

INF No sedeiro, largava a estopa. Era estopa, era uma estopa do sedeiro E [vocalização] era no Quando era a espadanar no era num cortiço

INQ A espadanar?

INF A espadanar, quando era

INQ Era a mesma coisa que tascar ou não?

INF [vocalização] Quando era da tasca, que eu o tascava, depois era espadanado, que era num cortiço da, de, de, de, de, de co- de cortiça, assim um cortiço grande que faziam uns cortiços grandes, que era para a gente então

INQ E com que é que espadanava?

INF Ele era uma uma

INQ O que tinha na mão, como é que lhe chamava?

INF Era uma Ai, eu agora não me lembra bem.

INQ Espadela?

INF Era uma A espadana!

INQ Espadana.

INF Era uma espadana. A gente espadanava, espadanava, espadanava

INQ E isso era para quê? Espadanava para tirar o quê?

INF e tirava estopa. Tirava a gente a estopa.

INQ Outra vez?

INF Ele a estopa é de três ma- era de duas maneiras:

INQ Ou sedeiro

INF era aquela, era da, da do cortiço; e era duma que ele fiava-se mais grossinho alguma coisa, que era para fazer roupas mais fortes, assim para a

INQ Isso era à espadana, com a espadana?

INF Com a espadana. E depois quando era à [vocalização]

INQ Com o sedeiro. Era mais fina.

INF no sedeiro, era aquela estopa mais fininha,

INQ Que servia para quê?

INF que era era para fazer sacos Que Que primeiro não vinham sacas; não vinha adubo, não vinham sacas. Era para a gente [verbo] para azeitonas e para apanhar feijões.


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