INQ E aquele terreno lá que não pertence a nin-…
INF1 Ou pastagens… Pode ser mato, pode ser pastagens.
INQ Pois.
INF1 Que [vocalização] Que não são cultivados.
INQ E aquele que é de toda a gente?
INF1 Isso é o… É tratado por vadio.
INQ Vadio?
INF1 É, sim senhor. Mas [vocalização] hoje já aí há pouco. O nosso governo meteu-se a tapar, tapou os vadios, a bem dizer, todos, para meter dinheiro para dentro, para arrendar a quem precisa deles…
INQ Pois.
INF2 Para os seus bens.
INF1 Estão todos arrendados.
INQ Ah, para arrendar?
INF2 É. Arrendam.
INF1 Para arrendar, para meter dinheiro para dentro – está a senhora a perceber? Quer dizer, ele também gastou o dinheiro. Ele também gastou dinheiro a tapar aqueles campos com paredes, e tanques e de águas e essas coisas, também aí a trabalhar tractores e, também gastou.
INF2 Gastou muito.
INF1 Gastou!? Ele gastou! Ele não gasta nada da sua algibeira! É. O nosso governo gasta é da é da gente.
INQ Da nossa.
INF2 Pois, já se sabe que é. Mas t-, mas gast- Mas gastou!
INF1 Está bem. Mas gasta é da gente.
INQ Mas não era melhor quando estava tudo?… Quando as pessoas podiam usar aquilo, toda a gente?
INF2 Pois era. Porque metiam reses para lá, para os vadios, tratavam por vadios.
INF1 É. Eu levava. Eu [vocalização] … A senhora tinha, por exemplo, cinco ou dez ou quinze bezerras: "O Elísio deitou-as para a [NPR]". Hã?
INF2 Só ia vê-las.
INF1 Vai lá vê-las… Vai lá vê-las, hoje, ou amanhã, ou daqui a quinze dias, ou daqui a três semanas, ou daqui a oito dias, ou vai vê-las; mas hoje não têm nada que ver porque os vadios, o nosso governo tapou-os todos.
INF2 Está tudo tapado.
INF1 Eu conheci matos aí para dentro, que eu ia para esses matos para dentro, a gente olhava [pausa] olhava, era só vadios.
INF2 Mesmo já não se bota reses para lá.
INF1 Era só vadios. Agora a gente chega e não sabe onde é os vadios. É [vocalização] É criptomérias a fazer abrigos naquelas pastagens, duma banda para a outra, é t- é entradas para aquelas pastagens. Oh, pois, que horror.
INQ Ó senhor Camolino, e nesse tempo, as pessoas tinham obrigação de arranjar… Sei lá, se havia assim uma coisa que era perigosa para os animais, as pessoas tinham todas obrigação de arranjar aquilo, ou não? Quando eram vadios, toda a gente lá podia ir pôr?
INF1 Sim, era… Pois arranjavam e outros não se importavam de saber.
INQ Ah, não tinham obrigação de fazer esses?…
INF2 Não tinham, não senhor.
INF1 Não arranjavam. Arranjou foi o nosso governo quando andou que fez o tapume, aí é que ele arranjou.
INF2 Ele é que tem arranjado, então.
INF1 Mas antes não arranjavam. Arranjar quê? Com o quê? Ah!
INF2 Não arranjavam! Metiam o seu gado àquele… Bezerras que queriam criar, não tinham, não queriam pagar não podiam pagar renda,
INQ Pois.
INF2 metiam para o para o vadio – tratavam por vadio.
INQ Pois.
INF2 E depois iam lá vê-las de, de de dias a dias.
INF1 É. Pois, e eu ia também, porque não havia muito dinheiro.
INQ Mas há outras ilhas em que ainda é assim?
INF2 O quê?
INQ Há ilhas em que ainda é assim?
INF2 Há.
INQ Os vadios são do povo.
INF1 Há-de haver ilhas onde há-de haver vadios. Mas eles, as i-, as hoje está tudo ele muito apurado, que é coma esta questão de haver muito gado hoje à vista do que havia, porque os campos são outros.
INQ Pois.
INF1 É coma esse vadio. Isso é tudo tapado, mas é… A senhora o que é que pensa, é centenas de moios. [vocalização] Isso está tudo em tratamento. Tudo em tratamento, está acrescentando gado – a senhora está percebendo?
INQ Claro.
INF1 Quer dizer, faz uma diferença grande! Porque no vadio, tinham muito gado no vadio – [vocalização] três, uma dúzia doutro, uma dúzia doutro, meia dúzia doutro, [vocalização] mais meia dúzia doutro –, enfim, mas era uma coisa duma outra [nome] ou forma.
INF2 Que era coisa brava!
INF1 E ainda mesmo assim chegava-se a este tempo, a gente dizia: "Eh homem, tem que se recolher aquelas reses". Porque o vadio é desamparado, não havia tapume, não havia abrigo, não havia nada. [vocalização] "Tem que se recolher aquelas reses para dentro porque aquilo, agora, elas abatem-se naquele inverno" …
INQ E o que é que faziam nessa altura?
INF1 [vocalização] Ficava aquilo para ali.
INQ E traziam as reses para?…
INF2 Para abrigos.
INF1 E traziam as reses para outros lugares, para lugares que tinham seus, tapados e [vocalização] e com abrigos naquelas serras mesmo e…
INQ O que é que diziam que estavam a fazer? Que iam fazer o quê às reses?
INF1 Era recolhê-las – recolhê-las para dentro.
INQ Sim senhor.
INF1 Era recolhê-las para dentro.
INF2 Até passar o Inverno.
INF1 Quando passava o Inverno, pois tornavam-se a deitar outra vez para aqueles lugares e para além estavam aquele Verão todo para ali. Era assim é que se fazia.
INQ Sim senhor.
INF1 Mas hoje está tudo de uma maneira que não… [pausa] Quer dizer, está dando mais interesse!
INF2 Está a dar interesse.
INF1 Está dando mais interesse porque os campos são tratados, e tapados e [vocalização] com aquelas criptomérias, e estremas a fazer abrigadas àqueles prédios… [vocalização] Quer dizer, faz uma diferença que mete medo. Aqueles prédios hoje, um homem chega… É como eu, estive… Não, não há muito tempo que eu lá estive, mais o meu filho e esta também. Há lá um lugar – que eu agora dá-me vontade de rir, assim certas coisas –, [vocalização] há lá um lugar que é tratado pela Lagoa das Patas, mas é um recreio! Que está lá cheio de madeiral de criptoméria que é uma coisa medonha!
INF2 É uma coisa medonha!
INF1 Está aquela lagoa no meio, mas é um recreio lá de mesas! Aquilo quando é no Verão, a senhora o que é que pensa?!…
INF2 Até ficam lá de noite!
INF1 O pessoal lá é coisa brava!
INQ Até ficam de noite?
INF2 Fazem Cozinham lá para comer e tudo.
INF1 Mas eu, no tempo que eu fui, era vadio! Não tinha criptomérias nem tinha nada! [vocalização] A gente cá A gente para se entender uns com os outros: "Olha, eu vi as tuas gueixas na Lagoa das Patas"! Ou: "Vi as tuas gueixas no Pico Gordo"! Ou: "Vi as tuas gueixas no Pau Velho"! Ou Quer dizer, isto nas ilhas era tudo vadios!
INQ Pois.
INF1 Hoje é… "Homem, eh pá, vamos à Lagoa das Patas"! Eu quero-me lá ir à Lagoa das Patas, pois aquilo era um vadio ali .
INF2 Mas Mas está lá que é um palácio!
INF1 Oh, mas aquilo é um luxo que está lá! Mas era como eu estou dizendo à senhora, era a rapa, s-
INQ Pois, pois.
INF1 silva, feto, que era era isto só, só, desta maneira. E tinha aquela lagoa ali.
INF2 Mas agora não tem isso.
INQ Pois.
INF1 É aqueles caminhos para lá, é tudo es- tudo com bagacinha.
INF2 Tem lá barraquinhas armadas.
INF1 Tudo… O quê?! Um luxo, lá! É um luxo! É um luxo!
INF2 É mesas!
INF1 É um luxo!
INF2 Mesas de pedra, então!
INQ Pois.
INF2 Umas mesas lá postas e elas com os seus fogões lá a fazer coisas para comerem.
INF1 É, a aquecer coisas para comer.
INF2 Aquecer comidas.
INF1 É um luxo lá! É um luxo!
INF2 Consola a ver!
INQ Pois.
INF1 E era um vadio, como eu estou dizendo à senhora.
INF2 Vão para lá de recreio de Verão! Agora de Inverno não estão lá.
INF1 Cá não!
INF2 Mas Mas de Verão vão para lá, ficam lá de uns dias para os outros, ficam às vezes dois, três dias, lá.
INF1 Oh, então não é! É carro lá que é medonho!
INF2 Levam bastante coisas para comer e depois estão prontas a estar sem fazer nada lá.
INQ Pois.
INF2 É. Andar por lá…
INF1 É um recreio, é um recreio.
INF2 É um recreio.
INF1 É um recreio. Digo à senhora que é um recreio agora. E uma coisa que era um vadio! Quem é que fez aquilo? Foi o nosso governo [pausa] é que botou encheu aquilo tudo de matas… Matas, mas é uma quantidade brava, que está fechado de matos por ali, que aquilo era tudo vadio. Tudo vadio!
INF2 É tocar violas! É bailar! É cantar lá, desta maneira!
INF1 Oh, aquilo é um luxo!
INQ Sim senhor.
INF2 Vão para lá passar uns pedaços.
INF1 É, é.
INF2 E dias.
INQ Pois.