INQ1 Olhe, se não se importa, então explique outra vez do princípio o linho, está bem?
INF1 O linho?
INQ1 O linho.
INF1 A começar de semear?
INQ1 Sim.
INF1 Primeiro é semeá-lo; e depois tem um ripanço, quando se vai apanhar, que se está ripando [pausa] aquela baga – que aquele linho tem uma baga –; e [vocalização] e depois acaba-se, amarra-se aos molhinhos; e depois bota-se ao sol a secar aqueles molhinhos abertinhos, assim, a secar.
INF2 Isso já é depois de estar no lago, depois de estar na água.
INF1 Hã?
INF2 Depois de ir à água é que se faz isso.
INF1 Ah, pois sim, mas ele tem muita gente… A gente cá não o levava à água; era só no [vocalização] seco ao sol. E depois acabando de secar do sol, trazíamo-lo para casa, para um palheiro, e levávamos para para o forno. Quando se cozia, metia-se no forno. Ficava ele sequinho, e ali medadinho, todo assim, dentro dum forno. Ficava sequinho. A gente pegava no outro dia, com uma tasquinha ou com uma grama, [pausa] tasquinhávamos – umas gramavam e as outras tasquinhavam.
INF2 Ele primeiro era amaçado. Ele primeiro era amaçado.
INQ1 Como é que era a grama?
INF1 A grama, era um feito um pau assim pelo meio fora e tinha assim umas coisas, tinha um ferro que a gente metia o molho assim – a gente metia assim o molho – e aquela e aquela grama ia fazendo assim e a gente puxando.
INF2 Uma coisa feita de calhas. Uma coisa feita de calhas.
INF1 Sim. Ia-se puxando até que se ia embora aquela, aquela esperdidão toda, só ficava o [vocalização] o linho.
INF2
INQ2 Pois.
INF1 Só ficava o linho.
INF2
INQ2 Mas antes de ir para a grama, não, não tinham uma coisa que faziam assim nele?
INF2
INF1 Era a tasquinha. Era a tasquinha. Era, era… Podia ser dessa maneira e podia ser… Há gente que gramava e outros que só tasquinhavam.
INQ2 Mas o seu marido disse que elas até costumavam fazer uma coisa antes disso?
INF1 É. Pois é. É, é aqui- É a grama que é como eu estou dizendo.
INQ2 É que ele falou em amaçar.
INF1 Mas no resto já não havia muitas gramas. Talvez ainda te lembres, assim, não te lembras?
INF2 Lembro-me da da tasquinha. A tasquinha.
INF1 Tasquinha, é. Também, a força lembra-me é de tasquinha. Mas ainda apanhei as gramas! [pausa] – de resto.
INQ2 E não amaçavam? Pois. E não amaçavam também?
INF1 Amaçavam com uma maça. Era quando saía do forno.
INF2
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Quando saía do forno, ama-… Não era? Era.
INF2 É amaçado. Se não, ele ficava todo colado, todo colado, todo colado.
INF1 Amaçado todo com umas maças, em cima duma pedra dura.
INF2 Todo pegado, dobrado naquela cana que tinha.
INQ2 Batia-se em cima duma pedra?
INF1 Sim senhor.
INQ2 Rhum-rhum.
INF2 E depois era quando elas [verbo] sobre aquela cana.
INF1 Até aquilo dobrar-se assim, ficar dobradinho ao meio.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 E depois metiam-no…
INF2 Elas pegavam nele e botavam no restolho, [pausa] aberto – no restolho, aberto.
INF1 No restolho, sim senhor. No restolho.
INF2 Aquilo ficava naqueles carreirinhos, aberto, por ali fora, estava lá uns dias, e depois ao fim de dias, ele iam juntar aquilo, ficava aquilo aos molhinhos, e depois é que então pegavam nessas gramas e nessas coisas a trabalhar, e iam andando até chegar a ponto de fiar, numa roca quando presa na cintura e elas…
INF1 Umas rocas que a gente fiava e aquele fuso… Aqueles fusos, iam as rocas assim metidas aqui na cintura e uma maçaroca aqui do tal linho – da tal coisa – para a gente fiar e a gente fiava, até à meia-noite e até às dez horas da noite, era conforme.
INF2
INF1 [vocalização] Eu tinha uma irmã minha que dizia: "Olhe minha mãe, que eu, eu não sei se esta roca há-de ir ao lume".
INF2
INF1 Porque ele o lume pegava-lhe [pausa] num instante.
INQ1 Pois.
INF1 E minha mãe dizia-lhe: "Pois se ela for ao lume, tu levas pancadas! Se ela for à luz, tu levas pancada"!
INF3 Ó ti-, ti-, tia tia Celisa, e aquele aqueles ajuntamentos que faziam com muita gente na nas fiaduras do, do do linho e da lã?
INF2 Era fiar o linho.
INF1 Po- Fiadura de linho? De linho, não. De linho só…
INF3 Não?
INF1 De linho só no restolho.
INF3 Era só no restolho?
INF1 Era só no restolho.
INF3
INF1 E a E a tasquinhar também.
INF3 Isso ajuntava-se muita gente!
INF1 Muita gente! Ajuntava-se.
INF3 Ajudavam-se uns aos outros.
INF1 É. Ajudavam-se uns aos outros.
INF3 Dúzias de pessoas.
INF2 Ah sim?
INF1 Dúzias, dúzias de pessoas, sim, então!
INF2 Agora cá.
INQ2 Pois.
INF1 E [vocalização] E depois fiávamos, ficava numa maçaroca, a gente ensarilhava no tal sarilho – num sarilho também – e depois [vocalização] fazia-se barrelas, botava-se ao sol…
INQ1 Mas portanto, nesse sarilho o que é que ficava?
INF1 Ficava numa meada.
INQ1 Ficava já em meada.
INF1 Ficava numa meada. E depois a gente botava lavava-o, botava-o ao sol…
INQ1 Para quê?
INF1 Para Depois era alvinho.
INQ1 Ah!
INF1 Porque depois era alvo, que aquilo ficava negro.
INQ1 Pois.
INF1 A gente botava-lhe era cuspo da boca.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Eu cá Eu cá, eu trazia era uma uma aguinha num num copo, e minha irmã – Deus lhe dê o céu – trazia era uma aguinha num copo, que diz que já estava seca da boca, que não podia botar mais cuspo. E assim é que a gente fazia!
INF2 Era.
INF1 E [vocalização] dobava-se, depois de estar alvo, dobava-se e urdia-se teias e botava-se.
INF3 E as barrelas, tia Celissa?
INF1 E barrelas. Barrelas naquela fia– naquela fiadura.
INF3
INQ1 Como é que era?
INF1 A cinza…
INQ1 Como é que era?
INF1 Ora a gente [vocalização] botava uns cestos grandes assim, e a gente botava uma mantinha de roda, que era para não apanhar [vocalização] aqueles vimes, porque o cesto era de vimes…
INQ1 Pois.
INF1 E depois para não puxar os fios, botavam uma coisinha de roda e botavam aquele linho todo emedadinho, por ali arriba, às meadas, até ele ficar assim alto. Só ficava assim uma alturazinha para botar a cinza – cinza de faia. Botávamos um sarredouro, e botávamos mais cinza em cima e água a ferver para riba. Três ou quatro tachos, era conforme [pausa] se podia.
INF3 E essa cinza, que era o fim dela?
INF1 O quê?
INF3 Ele para que é que servia a cinza na no linho?
INF2 Era deitada fora, [pausa] botada fora.
INF1 A cinza, [vocalização] botava-se fora, então.
INF3 Mas o que é que fa-?… Que bem que fazia ao linho?
INF1 Tirava aquela negrigência!
INF3 Ah, era para para alvejar?!
INF1 Era para alvejar, era. Era para alvejar. Era cinza só de faia! Não se queimava outra coisa.
INF3
INQ1 Mas era melhor a cinza de faia?
INF1 Era melhor só a cinza de faia. Tirava aquela negrigência.
INF3
INQ2 …
INF2
INF1 Já a gente quando aquilo estava frio no outro dia – mas era se estava frio –, a gente ia com ele para a pia, e [vocalização] e lavávamos, já ele fazia uma diferença brava. E botávamo-lo a corar por cima das paredes ao sol. Dali a oito Dali a dias, tornávamos a fazer outra barrela, tornavámos a fazer o mesmo, da mesma maneira. Tornavam a lavar, tornavam a botar ao sol, até ele ficar alvo. Ele ficava alvo, alvo!
INF2 É assim, é.
INQ1 Sim senhor.
INQ2 Isso era o linho?…
INF1 Era o linho.
INQ2 E o, e como é que chamava àquele mais grosso?
INF2 Não tens nenhuma aí, não é?
INF1 A estopa.
INF2 Não tens nenhuma aí?
INF1 Porque então [vocalização] O senhor sabe. O linho tenho ali naquela naquela saca. O linho tinha…
INF2
INF1 Havia um sedeiro com pregos assim, [vocalização] um bocadinho assim,
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 e assim. Assim, assim como a… Assim.
INQ1 Pois.
INF1 E a gente quando aquilo estava curado, quando aquilo estava a modos que a gente acabava de tasquinhar e tudo, ia-se assedar o linho assim.
INF2 Eu gostava era só disso.
INF1 O que ficava atrás era a estopa.
INF2 Mulher, onde é que eu tenho isso?
INF1 É ali atrás, naquela saca branca.
INF2 É aonde, mulher?
INF1 E o que E o que ficava…
INF3 Naquela branca lá atrás, naquela branca.
INF1 Naque- Naquela lá atrás, sim.
INF3 Branca.
INF2 Ah!
INF3 Deixe-se Deixe estar, deixe-se deixe estar.
INF1 E ao que ficava ao que ficava a s-, a ge- a gente fazia assim com isto, desta maneira, no tal sedeiro, [pausa] assim. O que ficava para ali era a estopa, e o que ficava na mão era o linho. A gente torcia como quem torce uma torcida de tabaco…
INQ1 Pois, pois.
INF1 E [vocalização], e o E apartávamos à parte. Era então, urdia-se colchões com ele e…
INQ1 Com o linho?
INF1 Com o linho, sim senhora.A gente cá
INQ1 E com a estopa, o que é que faziam?
INF1 A estopa tapava, como como aqui se está tapando, assim… E também se tapava com estopa ou linho, ou lá o que quisessem – de colchães ou uma coisa assim –, também se tapava. E também se urdia com a estopa se ela era rija! Agora se ela era mais podre, ninguém podia urdir com ela, que não se podia tecer, que a gente bota os pés em cima, ela desapegava toda e ia-se embora.