INQ Como é que se chama?
INF Diamantino.
INQ E que idade é que tem?
INF Setenta e seis.
INQ E é daqui mesmo dos, de Unhais?
INF Natural de Unhais.
INQ Sim senhor. Andou à escola?
INF Tenho o exame dos [vocalização] adultos, a terceira classe.
INQ Já a fez era adulto.
INF E já a fiz com muita dificuldade. Já estava casado.
INQ Pois.
INF Porque andava na Penteadora, e a, e o e o senhor prior, o senhor padre Alfredo obrigou a [vocalização]… Pôs lá… Até era um padre a dar escola. E tínhamos lá uma hora de escola todos os dias.
INQ Pois.
INF E aí então é que fiz o exame da da terceira classe.
INQ Sim senhor.
INF O exame dos adultos.
INQ Pois.
INF Porque, no meu tempo, [vocalização] então, não chegava…
INQ Não se, não se…
INF Às vezes, éramos… Ainda andei… Aos sete anos já andava a varrer o tear, calcule. Aos sete anos! Aos oito anos, a encher canelas. E depois comecei nisto, até até que eu depois tive idade… Andei nas fábricas de cardado. Andei nas fábricas de cardado ainda uns dois ou três anos. E depois fui para a Penteadora, trabalhei até aos quinze. Aos quinze anos, como já disse, a minha mãe era era viúva, e eu – era eu mais outro irmão –, e depois eu, aqui nos teares ganhávamos mais do que se ganhava na Penteadora e eu já me avinha com o tear – os meus irmãos também eram tecelões –,
INQ Claro.
INF e depois saí da Penteadora e vim para o tear. Mas e depois isto aí em 1943 começou a dar para o torto. Nós íamos para a Covilhã – como já disse – tecer a fazenda, e [vocalização] para o Tortosendo, e levávamos a fazenda tecida e trazíamos o dinheirinho. Mas, [pausa] e depois, [pausa] isto começou a evoluir e eles começaram a comprar teares mecânicos.
INQ Pois.
INF E tinham que comprar três alvarás. Destes teares Tinham que inutilizar t- inutilizar três teares destes para comprarem, para o para o governo autorizar a comprar um tear mecânico.
INQ Ah!
INF E isto depois começou a começaram a coisa, olhe, eu vendi o meu, era para comprar outro melhor, e coisa. Vendi o meu, de manhã, por um conto e duzentos, à n- à tarde já me davam três contos. Depois começou a evoluir, chegaram a quinze contos e mais e [vocalização] , os alvarás. Mas não podiam pôr [vocalização]
INQ Pois, pois, pois.
INF comprar um tear mecânico sem inutilizarem três destes.
INQ É como agora fazem com os barcos.
INF Ai sim?
INQ Também queimam os barcos e… Os barcos pequenos queimam-nos todos que é para depois poder comprar outros.
INF E depois E depois foi assim. E depois nós, é claro, como isto isto cascou… Eles depois começaram a comprar os teares mecânicos, e depois, em vez de darem a fazenda para aqui, metiam-nos nas nas casas deles, a trabalhar, e e já não davam para aqui.
INQ Claro.
INF Já não não deram para aqui. Eu como já tinha andado na Penteadora e depois, nessa altura, faltava lá pessoal, fui para lá.
INQ Pois.
INF E depois comecei – já aqui tinha este tear; já tinha –, depois comecei a [vocalização] trabalhar na Penteadora e [vocalização] nas horas vagas é que comecei sempre a tecer disto. Nunca me cá faltou.
INQ Rhum-rhum.
INF E agora depois que me reformei, então, parece que ainda foi pior.Agora
INQ Pois.
INF É porque alguns havia alguns também a ficar velhos.
INQ Pois.
INF Iam Iam tecendo. Agora já deixaram de tecer e agora parece que já não… Aqui no concelho da Covilhã só sou eu e um no Paúl. Mas esse do Paúl tem um tearzito pequeno e gosta de andar só [vocalização] pelas feiras [vocalização] e tal. Lá anda nas feiras.