INQ1 Na qualidade de figos, não há nenhum que se chame figo-de-São-João ou figo-lampo, não há por aqui?
INF1 Há.
INF2 Há.
INF1 Há a lampo que dá pelo São João – das figueiras do Algarve.
INQ2 Chama-lhe como? Figo?…
INF1 Figo-lampão. Que vem aí por o fim de Junho.
INQ1 Mas quando diz figueiras do Algarve, são f-, é figos que vêm do Algarve ou são figos de umas figueiras que há cá?
INF1 Dão-lhe o nome.
INF2 É o nome É o nome da figueira.
INF1 Dão-lhe o nome.
INQ1 Mas que há cá?
INF1 Há. [pausa] Essas figueiras do figo-lampão dão a primeira camada fins de Junho. [pausa] Dão a primeira camada. [vocalização] Este ano até quase que nem se viu.
INQ2 Pois este ano foi muito mau para figos.
INF1 Foi.
INQ2 Lá para baixo também.
INF1 Para tudo.
INF2 Você sabe que são são seis horas?
INF1 Esse figo-lampão…
INF2 São seis horas.
INF1 Esse figo-lampão há anos que dá muito.
INF2 Ele lá sabe.
INF1 E depois de colherem o lampão, dá – aí é que é interessante –, esse figo ele essa figueira do figo-lampão dá aquela camada do figo grande.
INQ2 Rhum!
INF1 E depois dá o vindimo se lhe puserem o bravo.
INF2
INQ2 Se lhe puserem o bravo?
INF1 Sim.
INQ2 E o que é pôr o bravo?
INF1 Um figo bravo.
INQ2 Ah!
INF1 Há aí fi-…
INQ1 Espécie dum enxerto?
INF1 Não, não.
INQ1 Então não percebi.
INF1 A figueira do figo-lampão [vocalização] dá uma camada.
INQ2 Em Junho, no fim de Junho.
INF1 Aí em Junho, Julho.
INQ2 Sim.
INF1 Aí o mais de Julho. Dá uma camada deles grandes [pausa] e fica quase sem nada. E já fica com os pequenitos, com um figo pequenito.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Para dar o vindimo.
INQ2 Pois.
INF1 Mas é preciso que lhe ponham [pausa] uma camada de de figo bravo…
INQ2 Mas põe-se uma camada como? Como é que se põe?
INF1 Há aí figueiras bravas…
INQ2 Sim.
INF1 Olhe aqui no aqui ao pé do pontão…
INQ2 Vai-se a uma figueira brava e tira-se os figos.
INF1 Mas é preciso que o figo esteja completo. [pausa] Dessa figueira brava há: o figo que está completo da figueira brava, que esteja já amarelo, não se come – não se come –, mas a figueira brava tem um figo que quando está maduro é quando está completo.
INQ2 Rhum.
INF1 E lá por dentro, dentro da graínha do figo,
INQ2 Rhum.
INF1 cria-se um bichinho, [pausa] um bichinho muito miudinho, muito miudinho, uma espécie dum mosquito. [pausa] E quando está maduro, esse figo bravo, está assim um bocadinho mole e no bico no bico do figo, quando está maduro, [vocalização] o bico começa a abrir um bocadinho,
INQ2 Rhum.
INF1 e sai de lá aquele mosquito.
INQ2 Rhum.
INF1 Antes de o mosquito sair, [pausa] a gente vai a uma figueira brava, colhe ali uma mancheia deles, e depois com uma agulha [pausa] mete-se-lhe uma linha aí com dez ou quinze figos.
INQ2 Rhum.
INF1 E faz-se um cordão. E depois com esse cordão vai-se dependurar na figueira que deu os figos-lampãos.
INQ2 Ah, que engraçado!
INF1 Esse mosquito, quando depois se chega à altura que o figo está maduro,
INQ2 Sai.
INF1 sai daqui sai daqui e vai voar e vai-se filar ao figo pequenino da figueira que deu o figo-lampão. Vai-se filar a esse figo. Onde o fi- Onde o mosquito vai morder, esse figo amadura. [pausa] E depois o mosquito corre a figueira toda. Onde ele pica, o figo amadura. Se não lhe puserem nenhum figo, desses da figueira brava, não amadura nem um. Cai tudo ao chão.
INQ2 Que engraçado! Nunca tinha ouvido contar isso.
INF1 Já o eu fiz!
INQ2 Mas isso cha-… Isso é que se chama os figos-vindimos, esses depois que na-, que vêm mais tarde…
INF1 Bem…
INQ2 Que amaduram mais tarde, é que se chamam os vindimos?
INF1 Pois, é o vindimo. Há a qualidade de figo-vindimo das figueiras que não dão lampão.
INQ2 Pois, isso é outra coisa.
INF1 Isso é só as que dão o figo-lampão, o grande.
INQ1 Rhum-rhum.
INQ2 Rhum.
INF1 Quando se lhe colhe [vocalização] o figo-lampão, fica já o figo-vindimo pequenino, mas se não lhe puserem o figo bravo, nem o primeiro amadura!
INQ2 Que engraçado.
INF1 Então já eu eu já o fiz!
INQ2 Pois.
INQ1 Pois.
INF2 Veja lá então este aqui.
INQ2 É giro.
INF1 Eu já o fiz [pausa] porque um senhor que tem uma quinta…
INF2 Quem percebe muito de fruta sou eu.
INF1 Quem tem uma quinta além daquele lado…
INQ2 A senhora sabe?
INF2 Gosto muito de fruta!
INF1 Tem uma quinta além daquele lado e deu-me lá uma figueira grande para colher. [vocalização] Bem, deu-ma porque eu dei-lhe a recompensa a trabalhar lá. [vocalização] Ele deu-me, por exemplo, uma chouriça e eu dei-lhe um porco. [pausa] Eu dei-lhe muito mais. Que era [vocalização] Que era o pai dum padre. "Ó senhor Dimas, colha aqui esta figueira", e tal. Porque eu trabalhava lá. [pausa] Mas quando ele dava alguma coisa, já lá tinha a recompensa. [pausa] Lá colhi aqueles figos-lampãos… E eu sabia onde havia uma figueira brava, grande, [pausa] que era no Ourondinho, onde está o Dinis. Nunca ouviu falar [vocalização] nos Dinis?
INQ2 Não.
INQ1 Não, da família dos Dinis, sim, mas…
INQ2 Sim, da família dos Dinis…
INF1 Aqui não há Uma quinta que há aqui no Ourondinho, havia lá uma fig-… Ai,mas isto já lá vai lá, já lá vão mais de vinte anos. [pausa] E eu sabia lá que havia lá uma e eu fui lá. Levei até uma bolsa, uma bolsa de pano, porque sabia que estava lá essa figueira, porque eu também lá trabalhei algum tempo. [pausa] Fui lá, colhi uma bolsa meia de figos, [pausa] meti para dentro da bolsa, meti-lhe o baraço e veio a bolsa fechada. [pausa] E cheguei ali à figueira que me deram, onde colhi os figos-lampãos, fiz um rosário com uma agulha a enfiar no pé dos figos. Fiz um rosário aí com uns dez, ou quinze, ou vinte e dependurei na figueira. Ah, isso foi ali uma fartura de figo enorme. E se não se lhe puser, nem o primeiro amadura!
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Eu depois observei: o mosquito saía do figo bravo – até fazia um bocadinho de farinha –, saía um bocadinho do figo bravo, avoava – é tudo o destino, ou o cheiro, ou não sei! –, [vocalização] ia-se logo filar ao bico do outro figo pequenino.
INQ2 Pois.
INF1 Onde quer que mordia, amadurava tudo. [pausa] Houve lá uma fartura de figos enorme! E aqui no ribeiro também há uma dessas. [pausa] Ali, onde a gente aqui desce, [pausa] há ali uma dessas.
INQ2 Sim, sim, sim.