INQ Então explique-me como é que era o trabalho do arroz? Já agora fica…
INF Então o trabalho do arroz, olhe… O trabalho do arroz, a gente, nos nossos princípios, [pausa] era semeado. Semeava-se e [vocalização] depois era mondado.
INQ Mas é ainda tudo dentro de água? Não, era em seco?
INF Não, não. Era tudo já dentro de água. Ele só se lavrava com as vacas.
INQ Rhum-rhum.
INF E gradava-se.
INQ Sim, é. Depois de tudo, corta isto. Diga, diga.
INF [vocalização] Semea- [vocalização] Lavrava-se a terra – para começar a eito –, depois gradava-se, depois metia-se-lhe a água. Quando era do rio Mondego, faziam…
INQ Em que altura do ano é que era?
INF É Isso era em ma- em Março. Em Março.
INQ Lavrava-se e gradava-se em Março?
INF Sim senhora. E depois, quando era metia-se-lhe a água quando era do rio Mondego e outros que eram dos dos engenhos. Que eram uns engenhos com com uns alcatruzes e com umas entrosgas. E botava-se a vaca ao arrei- ao cangão, e tocava-se atrás dela e [vocalização] tirava a água para regar o arroz. Em sítios que a água do Mondego não ia. E ag-, e [vocalização], e se- semeava-se. Depois veio outra outra moda. Foi pela A gente semeávamos viveiros e [vocalização] . E semeávamos os viveiros – aí também em Março – e quando chegava ali ao princípio de Maio, arrancava-se, tornava-se a preparar as terras como era para semear. E E depois arrancávamo-lo, trazíamos pessoal a arrancar, e depois era plantado. E depois era: botávamos-lhe água e adubo, e aí era criado. Aí era tudo…
INQ Mas os viveiros era o primeiro sítio onde punham o?…
INF Não, não. Era pa- fora do do arroz.
INQ Depois punha-se…
INF Depois é que se punham. Vinham aqueles ranchos de todo o lado, vinham para aqui trabalhar – arrancar e plantar. Era a plantação do arroz naquela altura.
INQ Mas isso foi uma moda? Ou sempre se fez?…
INF Foi. Não, não. Eu, nos meus princípios, era semeado.
INQ
INF Depois é que veio aqui é que veio essa coisa para plantar…
INQ Moda…
INF Plantar-se o arroz, que dá mais produção.
INQ E dava?
INF E dava, sim senhora. Dava mais produção. Mas depois, quando começaram a vir as máquinas agrícolas, deixou-se de [vocalização] de semear viveiro. Porque as máquinas… Há p- máquinas para semear o arroz agora.
INQ Pois.
INF Para semear, e para adubar, e para e para plantar e para, para.
INQ E para plantar como é que é? Tinha que fazer um buraquinho no chão e pôr…?
INF Olha, ai! Isso era medonho [pausa] para a gente! Para a gente não era medonho, que a gente estamos habituados naquilo! Fazíamos [vocalização] Andavam aqueles ranchos, fazíamos uma uns calções,
INQ Rhum-rhum.
INF e [vocalização] e o arroz estava espalhado atrás da gente, e a gente de empreitada. [vocalização] Davam a Os patrões davam aquele a quem andava por fora. A gente, graças a Deus, não andávamos por fora. Andávamos só aos dias por dias umas com as outras.
INQ Rhum-rhum.
INF Mas vinham aqueles ranchos, dávamos-lhe aquelas empreitadas e eles plantavam. Uma aguilhada, ou duas. E depois iam-se embora. E elas… Aquilo era uma ligeireza! Aquilo era uma ligeireza!
INQ E como é que faziam o buraco no chão para pôr?…
INF Era assim plantado. Agarrava-se às manzadinhas, a m-, [vocalização] a manzada aqui no braço esquerdo e o e a mão direita a plantar: tum, tum, tum, tumba!
INQ Mas que é… Mas como é que plantavam?
INF Era com a mão.
INQ Mas e o chão o que é que lá… Mas como é que a planta ficava presa no chão?
INF Ficava presa porque já tinha a água.
INQ Ah, era só fazer assim?
INF Era só Era só plantar assim. E a gente…
INQ Aquilo já estava quase…
INF Preparavam-se as ma- – é com umas marinas que eu digo –, preparavam-se… E aquilo parecia as marinas do sal. Depois a gente plan- distribuíamos o arroz. E então cada qual agarrava a sua coisa e era… E quando era de empreitada aquilo era medonho! Era medonho andar a espalhar o arroz atrás delas, das mulheres. Porque elas o que queriam era [vocalização] fazer o serviço e depois iam-se embora.
INQ Para se ir embora.
INF Pois. [vocalização]
INQ Portanto, e isso era plantado. E depois quanto tempo é que ficava aí dentro da água?
INF Quanto ficava aí… Chegámos a Chega a se-, a vi, aí, a [vocalização] já aí a vinte de Setembro. Ceifa Ceifava-se nessa altura.
INQ Aí já não tinha água nenhuma?
INF Não senhora. Quando ele começa a a [vocalização] enleirar, que ele começa a vingar, a água é fora.
INQ E como é que se tirava a água para fora?
INF Tira-se: tapava-se o regadio. Porque agora temos [vocalização]… Naquela altura [pausa] era duma maneira, agora já é doutra. Naquela altura tínhamos de fazer represos no rio Mondego, e tinha uns cubos a atravessar a a mota, e cada qual dos lavradores que pertenciam àquela área [vocalização] iam fazer os represos no rio e a água vinha para fora.
INQ O represo era fazer uma espécie duma parede, era?
INF Sim, sim, sim com. Mas era com com lenha.
INQ Com lenha.
INF E areia. Era com lenha e areia.
INQ Que era para a água ficar ali?…
INF Para a água ficar presa para sair depois.
INQ Para sair.
INF Cada qual tinha tínhamos aquelas… Era umas, era [vocalização] Agora por exemplo aqui era um, [vocalização] aqui na nossa terra, depois em cima era outro. E era na área dos que regavam dali é que faziam o represo.
INQ Rhum-rhum.
INF Aquilo antigamente era assim. Agora depois agora já é doutro formato.
INQ Isso era quando começava a alourar?
INF Quando o arroz começa a alourar…
INQ É para Agosto, não é?
INF É para Não. Fim Agosto. E f- No fim de Agosto, ele começa a virar; depois aí em meados de Setembro… Aí [vocalização], em meados de Setembro, já quem semeia mais cedo já começa a ceifar. C- Começávamos a ceifá-lo à mão. Co- Era com as foicinhas [pausa] que a gente o cortava, naquela altura. Porque agora agora – que eu depois explico-lhe como é agora… [vocalização] Depois a gente ceifava-o, ficava a resteva para [vocalização], para para secar. Era, Eledava muito trabalhinho! Depois íamos atá-lo. Íamos atá-lo ao fim de dois dias ou três, conforme o sol estivesse. Íamos atá-lo, depois 'trazíamo-no' para casa. Depois botávamo-lo assim ao todo ao alto na eira, metíamos-lhe o gado [vocalização] a, para o para o malhar. E a gente com os malhos: tumba, tumba! Malhos de madeira, que ainda aí tenho um de malhar o feijão.
INQ Então há-de-me mostrar o malho para eu…
INF Mas é que se eu se eu agora o encontrasse!…