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COV05

Covo, excerto 5

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Arquibaldo
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Olhe, explique-nos como é que o, como é que é o coiso, como é que é o moinho.

INF Olhe, o moinho, em baixo, é uma casa.

INQ1 Como é que

INF [vocalização] Faz-se uma casa. E depois, aquilo em baixo chama-se [vocalização] àquilo o arrieiro , é um pau assim atravessado. E depois tem o rodízio. O rodízio é: umas penas Olhe, [vocalização] isto é isto. Faz de conta que o, o o arrieiro é este; e aqui em cima disto, tem [vocalização] o [vocalização] rodízio; e o rodízio vem para cima e em cima tem as mós. A senhora se for aqui mas você ao Covo , naquela primeira casa que encontra, você umas mós. Que o meu sobrinho, o professor, tem [vocalização] algumas cinco ou seis mós [pausa] que a gente lhe arranjou.

INQ1 Pois, pois.

INF É.

INQ1 Mas esse arrieiro é que eu não percebo o que é.

INF É um pau. Chamam àquilo arrieiro que é para alevantar. Se se quiser fazer mais a farinha mais morta, deixa-o a descer e se se quiser ela mais se se quiser a farinha mais à, mais [vocalização] com mais escarolada, alevanta aquele pau, e aquilo alevanta para cima, é a farinha é mais escarolada.

INQ2 Rhum-rhum.

INF Chama-se aquilo o arrieiro.

INQ1 Mas é p- Mas é por baixo do, do?

INF Do rodízio.

INQ1 Do rodízio?

INF Por baixo do rodízio.

INQ1 Ah!

INF Leva aquele pau.

INQ1 Então e o rodízio é Aquele pau que vem para cima do rodízio como é que se chama?

INF Chama-se aquilo a péla.

INQ1 A péla?

INF É a péla. E

INQ1 É aquele

INF E é que E é a que tem as penas.

INQ1 E é a que tem as penas.

INF E a E a água malha naquelas penas e faz andar aquilo de roda.

INQ1 E como é E a água vem donde? Canalizada donde?

INF A- Alguns, [pausa] é assim Os nossos de Albergaria, é assim: suponhamos, a água vem acolá da estrada e vem, como tem uma queda, vem para aqui assim, tem uma uma caixa uma caixa assim, uma espécie dum tubo ,

INQ1 Rhum-rhum.

INF e a água vem dali e chega aqui tem a torneira, que é [vocalização] um pau furado e apertadinho, que é por causa de não ir na água, e ele recebe aqui à a água, e depois aquela aquele pauzinho aquela f- é que força às penas do moinho para andar o moinho. E o meu ali não é assim. O meu aqui em baixo não é assim. É assim um pau, um cubo chamam aquilo um cubo É o as, o as, umas pedras umas pedras furadas, como essa, assim furada como essa não, é uma coisa mais bem feita, mas é furada ,

INQ1 Sim.

INF e aquilo é tudo assim ao alto, a par com o com o moinho para cima, e depois aquilo enche-se de água, faz aquele peso

INQ1 Esse, isso, o que se enche de água é que é o cubo?

INF É. E depois aquilo então é que faz o [vocalização] a pressão da água para para moer.

INQ1 E por onde é que a água sai do cubo?

INF Sai por baixo. Tem uma Tem uma torneira a tal torneira

INQ1 Ai, a tal torneira está por baixo?

INF [vocalização] Está por baixo.

INQ1 E sai com força!

INF E sai com força porque aquilo está muito peso de água. Porque aquilo é muito alto! E está com aquele peso de água e depois faz aquele peso e depois é que foge a água é que corre dali

INQ1 Olhe, mas esses desvios de água que fazem da, dos ribeiros e disso, aqueles desvios de água que fazem para os moinhos, tem algum nome?

INF Não. T- Chamam aquilo os açudes.

INQ1 Açude?

INF O açude. O açude ou ainda um açude de água ou um açude [pausa] para regar a terra. Chama-se aquilo o açude.

INQ1 O açude.

INF O açude.

INQ1 Mas aqui não é. Aqui isto é uma presa?

INF Não. Aqui é presa. Aqui é presa. E o E, suponhamos, [vocalização] agora este isto aqui a a presa acabava e você fazia um [vocalização] uma espécie de uma presa mas não é presa. Indo o rio por ali, chama-se aquilo um açude.

INQ1 Está bem.

INF Sabe, é um açude. É.

INQ2 Mas, olhe, nesse ali ao da, da Albergaria, esse tubo que o senhor diz que levava a água

INF Pois, pois.

INQ2 Que nome é que dão a esse tubo?

INF Cubo.

INQ2 Ai, um cubo também.

INF É o cubo do moinho. É o cubo. Quando é para

INQ2 O senhor

INQ1 Portanto, é essa parte que se enche de água?

INF É, é. É o que enche de água.

INQ1 E aquelas E aquelas coisinhas que são assim umas, parecem uns ferrinhos ou umas ripas assim, por onde passa a água?

INF [vocalização] Chamam aquilo as penas. É as penas do moinho.

INQ1 Ah! Mas é as penas do rodízio, ou não?

INF Do rodízio, isso, isso, isso, isso.

INQ1 Está bem.

INF As penas do rodízio. É isso.

INQ1 Sim senhor. E depois a , as mós são duas?

INF A , por cima, são duas. Chama [vocalização] Chama a gente Chama a gente e [vocalização] é assim. Por baixo é uma [pausa] mais grossa, mais forte, que é por causa de não mexer. Aquela Aquela está firme. E por cima, chama-se à que é a andadeira. Que é a andadeira porque tem debaixo para cima faz de conta que é isto, este pau E depois aqui tem uma Chamam aquilo uma segurelha, que é um ferro aqui assim Olhe, do feitio deste dedo. E ele está metido na de cima aqui e aqui. E a a debaixo está aqui firme e depois este, este esta aqui é que anda com a de cima. Porque anda o rodízio e o rodízio toca a de cima.

INQ1 Portanto, a de cima chama-se a andadeira?

INF A andadeira. E a debaixo é a o pouso.

INQ1 O pouso.

INF O pouso que ela é a que está pousada.

INQ1 Que está parada ali em cima.

INF Está parada. Aquilo, aquilo não se mexe.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Também se ela se mexer, perde a farinha.

INQ1 Pois.

INF Que depois a mexer Não, aquela é que tem que estar firme.

INQ1 E a farinha sai para onde?

INF E esse é A farinha sai para baixo. Chama-se aquilo o tremonhado.

INQ1 O sítio para onde sai a farinha?

INF É. Chama-se aquilo o tremonhado, que é o tremonhado da farinha. Aquilo é assim, suponhamos, as mós são aquilo e ele chega até aquilo, e depois enche-se de farinha, e depois ali chama-se aquilo o tremonhado. O tremonhado bom.

INQ1 Sim senhor.

INQ2 Rhum-rhum. E onde é que se põe o grão?

INF Põe-se em cima. Tem em cima [vocalização] O grão, têm ele em ci-. Chamam aquilo a moega. E tem tem uma quelha, assim como a como a mão e tem aqui um Chamam aquilo o tramelo. E depois aquilo bate na e treme com aquilo e aquilo vai para baixo. Vai à [vocalização]

INQ1 Vai caindo. O grão.

INF Se ele vai caindo? O grão vai caindo.

INQ1 Rhum-rhum.

INF E cai para dentro do do olho da e depois a é que mói o outro aquele que cai.

INQ1 E de vez em quando é preciso picar a , não é?

INF Ah, de vez em quando é! É. De vez em quando é preci-

INQ1 Como é que levantam a ?

INF Levantam. Olhe, com uma com uma Chamam aquilo u- [vocalização] uma apertadeira. Uma apertadeira é um ferro, assim espalmado.

INQ1 Sim.

INF E mete-se assim uma, no meio, entre as duas, e depois carrega-se e carrega-se um bocado! , chegou ao [nome]

INQ1 Chama uma apertadeira?

INF É. Uma apertadeira. Bate-se-lhe assim e depois ela levanta. E ela ao tempo que ela alevanta A gente chama-se aquilo um pau, mais ou menos, assim, grosso, e chama-se aquilo o rolo. E mete-se debaixo da

INQ1 Também andei.

INF e depois puxa-se no olho da para e o pau está para aquilo, para vir para o tremonhado para depois picar.

INQ1 Para depois picar.

INQ2 Pois.

INF É, é.

INQ1 E têm umas coisas mesmo para picar?

INF Têm. Têm um picão. Chamam aquilo um picão. Um picão é um um coiso um mais ou menos assim, ou mais pequeno como quiser e tem aqui o cabo e é e é apontado n- duma banda e da outra e depois é o que soa depois: tumba, tumba, tumba. E outros picam aquilo com a com a tal ei-, a apertadeira ou co-, co com uma maceta. Chamam aquilo uma maceta, é uma coisita redonda. E taque-taque-taque.

INQ2 De madeira?

INF Não! De ferro!

INQ1 Não. De ferro.

INF Taque-taque-taque, e a gente dá-lhe assim com a mão e aquilo pica certinho, certinho, certinho, que se fica fica aquilo É o É o como se pica o os moinhos para moer o, o o trigo.

INQ2 Rhum-rhum.

INQ1 Pois, pois. Eu isso vi.

INF O tri- viu?

INQ1 Esses do trigo vi.

INF Pois. E o trigo e o centeio e o milho é tudo a mesma coisa. Quer dizer, o [vocalização] são mais aperfeiçoados os do [vocalização]

INQ1 Centeio?

INF não os da os do trigo do que são os outros. Porque são Os do trigo têm uma coisa por riba para não sair aquele . Porque a gente, m-, mesmo mesmo os lavradores perdem muito porque depois, se está vento, aquele de, de do milho e do centeio [pausa] foge.

INQ1 Pois.

INQ2 Ah, pois.

INQ1 Então mas aquilo não tem uma coisa à volta das mós?

INF Pois tem.

INQ1 Que é o quê?

INF Cha- Chamam aquilo a a . A Diabo, chamam aquilo é a [pausa] Ai, como hei-de dizer?

INQ1 Cambado ou cambeiro?

INF Ai, é o cambal. É o cambal. O cambal da farinha, que é: aquilo a anda aqui assim e aquilo é alto tudo para cima.

INQ1 Pois.

INF Ora bem, mas mesmo nesse meio, ela a cair para baixo para o tremonhado, às vezes, se vento [vocalização] quantas vezes , e depois o vento faz o psu e sai o para cima E quem use eu ainda não tenho; ainda não tenho e vai-se ver e nem quero , use por cima um panal um panal, um pano!

INQ1 Sim, sim, sim. Um pano branco para, para não voar.

INF É, para não voar. E ela voa acima mas depois

INQ1 Cai, cai.

INF cai para baixo. E quem fa- tenha isso; eu não tenho. E o meu irmão também não tem.

INQ2 Olhe, e o tremonhado é em madeira

INF Ah, é em pedra. É pedra. É pedra. Também se pode fazer em madeira, mas não.

INQ1 Mas é o chão?

INF É o chão.

INQ1 É o próprio chão?

INQ2 É o próprio chão do moinho?

INF É, é. O chão. O chão. E é acimentado, fica tudo lisinho

INQ2 Pois.

INF e depois ali, que é por causa de não perder a farinha.

INQ1 E depois como é que tiram a farinha dali? É com pás ou?

INF É. Chamam aquilo uma ; uma , mas é de madeira. É uma e faz-se assim uma cova, e depois a gente tem um rabo , a gente bota aqui essa mão, enche assim e bota para o saco ou para aquilo que quiser.

INQ1 E mete-se em sacos, é?

INF Pode ser em sacos. A farinha mete-se

INQ1 Por exemplo o, mas aqui assim o, assim as pessoas de têm um moinho cada uma, é?

INF Não, não. Ou

INQ1 Ou o mesmo Ou têm um moinho para várias pessoas?

INF Não. Têm Bem, suponhamos, eu tenho os meus, às vezes os meus vizinhos pedem Às vezes, é sempre!

INQ1 Ai, para ir moer. E o senhor deixa ir moer.

INF E eu deixo deixo moer. Nunca os estorvei.

INQ1 Pois.


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