INF Estas azenhas [vocalização] era o meu falecido pai que [vocalização] explorava.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Eu não era nunca fui moleira. Só unicamente fui ajudante do meu pai – não é? –, na altura própria, e [vocalização] depois fui servir. E casei. E de casar é que depois viemos morar para aqui para uma [vocalização] casa. E o meu pai [vocalização] entretanto faleceu num esbarramento e [vocalização] e eu tomei conta. Tomei conta aqui das azenhas e assim me habituei. E já estou aqui há quinze anos.
INQ1 Rhum… Mas quantas são que a senhora tem?
INF São… Ora bem, em princípio eram duas azenhas: era esta e [vocalização] e aquela de cima. Mas só que aquela já está avariada há sete anos. [vocalização] O patrão não quis arranjar, fiquei só com esta. Como agora também há…
INQ1 Ah, porque o, o moinho não era do seu pai, era do patrão.
INF Não, não. Eu Isto é arrendado. É do patrão. Isto depois foi um…
INQ2 Mas a senhora andou a servir aonde, se não é indiscrição? Aqui perto?
INF Ai eu [vocalização] andei a servir, fui para o Porto – tinha dez anos –, fui para o Porto e depois do Porto vim para Braga. E de Braga, casei.
INQ2 Isso já foi há quanto tempo?
INF Em Braga casei e agora já resido aqui. Não. Resido aqui há vinte anos. Só que ao fim de cinco anos que já morava cá, o meu falecido pai morreu – não é? –, e eu então vim tomar conta aqui destas azenhas, que eu morava n- nas outras azenhas lá em cima na ali na ponte.
INQ1 Rhum-rhum.
INF E a minha mãe morava cá – não é? –, com o meu pai e depois ela disse-me: "Olha, eu não [vocalização] estou interessada em ficar com a [vocalização] com as azenhas. Se quiseres vir cá para baixo, era-te melhor, porque a casa é melhor do que a de lá de cima", e tal. E sempre me animaram e eu aqui fiquei, não é?
INQ1 Rhum-rhum.
INF Tínhamos duas então a trabalhar, mas [vocalização] no princípio havia muito, muito que moer. Até tínhamos dois burritos – não é? –, chamávamos-lhe nós os begueiros…
INQ1 Os?…
INF Begueiros.
INQ1 Eram os burros…
INF Que é aqueles jumentos. Jumentos. Havia machos e havia jumentos. Só que no tempo já que o meu pai aqui estava, utilizava-se só os os jumentos. Os machos, já tinha [vocalização] já não usava, não é? E [vocalização] E eu saía sempre duas vezes por dia e sempre com eles carregados. Sempre! [vocalização] E eu levava as moídas, trazia outras para baixo. Agora, ultimamente o [vocalização] o povo não coze. É. Coze pouquinho. E agora cozem só nos fogões de lenha, umas broinhas muito pequeninas e tal, e vão assim arremediando. E não se trabalha como se trabalhava – não era? –, antigamente. No meu tempo que eu comecei aqui, que eu morava então lá em cima, e vinha às seis horas da manhã, logo muito cedo pôr isto a moer; quando fosse dez horas, já saía com dois burros carregados. [vocalização] Uma vida difícil – não é? –, no princípio. Agora não. Agora [vocalização] mói-se pouquinho e. Ou como agora, está parado, não é? Mas
INQ2 Mas ainda mói?
INF Mas ainda môo, sim. Agora está parada porque, como o rio cresceu bastante, depois é um bocadinho difícil para a pejar e tal. E eu disse ao meu marido que deixasse estar assim a a azenha parada.
INQ1 O que é pejar?
INF É ali fora. Ali fora, eu vou já explicar. É uma É: a roda que faz tanger esta é a roda de fora d- da água, não é? Tem um pejeiro e a gente [vocalização] levanta para cima a água, mo- faz moer esta e [vocalização] , para pejar, quer dizer, para aparar, a gente é – chamamos-lhe nós – pejamos com aquele tal pejeiro. E prontos. E hoje então não está não está a trabalhar, mas, se a quiser ver aí a trabalhar, também não é o caso de de ver.
INQ1 Não, não é preciso. O que era moída que a senhora chamou? Que havia, ia buscar moídas ou?…
INF Ah! Levávamos a farinha moída – não é? –, para cima, lá para o para os fregueses e já trazíamos outras para baixo, outro grão para baixo – não é? –, para moer. E era assim isto, era todos os dias. Era os burros sempre carregados.
INQ2 Portanto, as moídas era aquela porção de farinha que dava ao freguês?
INF Esta farinha, por exemplo, chamamos nós aqui uma fornada – não é? –, esta fornada moída. A gente vai buscar o grão ao [vocalização] ao freguês, chegamos a casa, aqui à azenha – não é? –, moemos e torna-se outra vez a levar, torna-se outra vez a trazer outras…
INQ1 Dava-se algum nome a esses sacos que iam com o grão?
INF Estes sacos, chamamos-lhe nós fornadas. É fornadas. Fornadas de grão e fornadas de farinha, não é?
INQ1 Rhum-rhum.
INF E [vocalização] Ou taleiga. Também há pessoas que lhe chamam os a taleiga.
INQ1 Era a mesma coisa?
INF É tudo a mesma coisa, não é?
INQ1 Mas aqui era mais fornada do que taleiga?
INF Sim, em geral eu. Aqui nós utilizamos o termo de fornadas. Era fornadas abaixo…
INQ2 E, e esse, e esta fornada ou taleiga tinha uma certa medida?
INF Sim. Por exemplo, [vocalização] a pessoa pede mede duas rasas. Antigamente, era por rasa; agora é a [vocalização] arroba – não é? –, é a arroba. Mas, em geral, era duas rasas, três rasas, conforme – não é? – o, o, a, a o freguês quisesse ou o, ou o ou a, as pe- as pessoas…
INQ2 Ah, não era medida certa?
INF Não. Por exemplo, se era uma casa de de dez ou ou cinco ou oito pessoas, já eram duas ou três rasas, porque antigamente cozia-se muito pão; agora uma casa que só tivesse três ou quatro pessoas, já era só uma rasa, não é? que é [vocalização]…
INQ2 Pois claro. A fornada já era mais pequenina.
INF Já era uma fornada mais pequenina, não é? E depois o centeio: havia quartos, havia meio quartos. Que é um meio quarto, que chamávamos-lhe a gente, eram dois quilos, agora; e um quarto eram quatro quilos; depois tem a meia rasa e tem a rasa. Ainda tenho a rasa e tenho a meia rasa. E maquieiros. Usava-se muito os maquieiros e os meios maquieiros, que era uma medidazinha quadrada e, e. Claro, o meu o meu pai… Eu, já não é do meu tempo, os maquieiros. Quer dizer, ainda os tenho, mas nunca vendi farinha a maquieiro nem a meio maquieiro. Mas o meu… "Ai, quero meio qui- meio maquieiro de farinha para a sopa" – não é? –, para o caldo. Então o meu pai enchia aquele meio maquieiro e custava um xis de dinheiro, não é?
INQ2 Mas um maquieiro era quanto? Era o quarto da rasa ou era mais?
INF [vocalização] Não, não. É pequenino.
INQ2 Mais pequenino que as quartas?
INF É muito pequenino!
INQ1 Mas como é que chama?
INF São as m-, as mi– as medidas mínimas.
INQ1 Pronto.
INQ2 Ai é?
INF Mínimas.
INQ1 Mas como é que se chamava aquela quan-, quantidade de grão ou de farinha que a senhora tirava para si como paga?
INF Ah! Por exemplo, depende de da fornada então que fosse. Por exemplo, agora [vocalização]… Eu, no no meu tempo já comecei a pesar, não é? [vocalização] Em vinte quilos de milho, eu tiro cinco quilos de maquia [pausa] de de milho para mim, não é?
INQ1 Muito bem.
INF E lá levo outra vez ao cliente. [vocalização] Se for dez quilos, tiro dois quilos e meio. E depende – não é? –, da quantidade. Cinco quilos, tiro um quilo e um quarto ou um quilo.
INQ1 Pois.
INF Depende, não é?
INQ1 Portanto, o maquieiro não tem nada a ver com a maquia?
INF Não. O maquieiro…
INQ1 Era outra medida?
INF É. Eram São medidas, é. Porque
INQ1 Era mais pequeno do que o meio quarto?
INF Pois. Porque antigamente [vocalização] o meu pai fazia assim: tirava [vocalização] a maquia pelos maquieiros,
INQ2 Pois.
INF e pelo meio maquieiro – depende da fornada que fosse.
INQ2 Claro.
INF Mas [pausa] já agora assim já há bastante tempo,
INQ1 Mais para a frente.
INF mas já mais para a para a frente – não é? –, do tempo, da antiguidade, começou-se a pesar e a tirar por quilo [vocalização] na, na na própria fornada [vocalização] – não é? –, que que vinham.