INF Princípio Por exemplo, no fim de Fevereiro, princípio de Março, até tantos de Maio, não comíamos mais nada. Era só as túbaras, túbaras, túbaras. Eh pá! Aquelas túbaras… Gosto muito de as achar mas lá…
INQ1 Mas não gosta de as comer?
INF De as comer, não, não, não, não.
INQ1 Pois.
INF Não senhora. De comer, não.
INQ1 Ai eu gosto tanto de túbaras!
INF Como, uma vez – a mulher gosta e eu como uma vez por outra.
INQ1 E eu gosto tanto de túbaras.
INF Mas, lá dizermos assim: "Vou às túbaras"! Vou e depois de aí a bocado dou-as. De resto não há quem me bate os onze quilos.
INQ2 Qual é o tempo de apanhar as túbaras?
INF Hã?
INQ2 O tempo? Em que tempo é que se apanha?
INF É agora do princípio do… Meado de Março! Meado de Março até [vocalização] tantos de Maio. Depois em chegando de Maio para diante já não…
INQ1 Mas é…
INQ2 Estava, já estava a ver a ver se havia agora?
INQ1 Como é que o senhor, como é que o senhor encontra?
INF Ah, encontra-se bem. A gente arranja… Eu até tenho aí umas cacheirazinhas preparadas para isso. E a gente vai com a cacheirazinha com um bico dum lado e tem uma cacheirazinha do outro lado.
INQ1 Uma cacheira? O que é uma cacheira?
INF Uma cacheira? Pode ver uma. É aquilo que está além naquela, naquela… Aqueles paus que estão além no coiso.
INQ1 Ali?
INF Pois. Mas aquelas são preparadas logo para isso. Depois a gente bate assim, onde está a túbara, toca a oco.
INQ1 Então mas o senhor bate no campo todo?
INF Todo. Vou sempre batendo.
INQ1 Ou só bate nalguns sítios?
INF Troz-troz-troz-troz-troz! Troz-troz-troz-troz-troz! Ele acha-se. Mas eu agora já não uso isso assim. Sabe porquê? Porque eu não oiço.
INQ2 Ah!
INF Já não oiço. Oiço muito…
INQ1 Pois, pois.
INF Ma- Agora já eu usei outra técnica: é com um pau com um biquinho, [pausa] onde a gente vê aqueles altozinhos: "Oh, uma túbara"! Ali está um outro altozinho, [vocalização] uma túbara. Porque donde está a túbara, a terra está macia, vai abaixo.
INQ1 Ah!
INQ2 Ah!
INF E a outra não vai.
INQ2 Pois.
INF1 E a gente anda aqui, vê isso ali…
INQ1 Mas tem que ser uma terra especial ou não? Pode ser barro?
INF Areia. Umas terras de areias.
INQ1 Ah, areia!
INF Terras de areias. Pois. Porque daqui para este lado não há túbaras. E aqui para este lado, para o lado dos chaparrais já há túbaras – ouviu? Hoje está… É Veja lá o que as coisas são. De manhã falámos a esse respeito, nos chaparrais. Há aqui uma uma herdade que é logo aqui pegada – que é a herdade das Antas e os Cimarros – [vocalização], e e há ali uma uma área, um nome, que é a Chã Bonita. Chamam-lhe a Chã Bonita – não tinha um chaparro! Tinha um chaparro aqui, outro além, longe. O resto era arneiros, que a minha mãe ia para lá achar as túbaras [vocalização]. Íamos para lá to- toda a época, todos os dias se para lá ia achar túbara. [pausa] Hoje, não há lá túbaras. Porquê? Os chaparros estão todos pegados uns aos outros – um chaparral pegado!
INQ2 Ah, pois.
INF Chaparral, pronto, está dito! Pronto, acabou-se!
INQ1 Portanto, já não tem túbaras?
INF Os arneiros, acabou-se.
INQ2 Pois, pois, pois.
INQ1 Pois.
INF E então E então tenho uma história muito boa. Tem uma Aquilo a túbara, em chegando a uma certa a uma certa [vocalização] idade, começa a crescer, a crescer, e começa a arrugar a terra – como os cogumelos, numa hipótese!
INQ1 Pois, pois, pois.
INF Quando começam a aparecer começam a arrugar a terra. E então a minha mãe, quando era já no mui tarde, and- eu andava mais ela, e dizia-me assim: "Olha, Aramis, arranca esta túbara"! Eu ia, arrancava. "Olha ali aquela! Arranca"! E ela E ela ia batendo àquelas que estavam mais fundas.
INQ1 Pois.
INF Que ela conhecia muito bem aquilo. E eu ia arrancando. [vocalização] E eu, mau, travesso, o que é que eu me havia de alembrar? Arranjei um pau, [pausa] um biquinho, por trás assim da minha mãe – ia quase sempre por aquele lado, depois vinha para cá pelo outro lado –, e eu ia, espetava assim e arrugava a terra…
INQ1 Ah!
INF Deitava. A minha mãe vinha de lá: "Deixa estar! Deixa-a estar! Está guardada"! E noutra: "Ah! Que raio! Então"!? Era eu que tinha arrugado aquilo. Mas ela que me apanhou a fazer esse trabalho!
INQ2 Ah, ah!
INF Ó rapaz, levei cá uma data de estaladas das grandes, muito bem aplicadas!
INQ1 Coitadinho!
INF Ainda hoje, está lá esse arneiro. Ainda o ano passado lá fui às túbaras, achei lá túbaras, e eu lembro-me… Eu, eu Chama-lhe a gente o artur- o arneiro do medronheiro. É [vocalização] aqui um bocado desviado, mas em cada vez que lá caço, lembro-me de ter levado uma estalada . Andar a enganar a velhota!
INQ1 Pois.
INF Então, ao mesmo tempo os gaiatos… Pronto!
INQ2 São assim.
INQ1 Só se lembram de fazer essas coisas… É mesmo assim.
INQ2 É a brincadeira.
INF Brincadeiras e coiso! Ideias dos gaiatos! Eu via-a a andar a esgravatar aquelas coisas ali, arrugadas, com um pau, arrugava-as eu arrugava aquilo.
INQ1 Arrugava o senhor.
INF Arrugava a terra só para para a fazer a velhota esgravatar.
INQ1 Pois, pois, pois.
INF Ela começou a andar duvidosa, vai assim – olhou-me, viu-me eu andar a fazer –: "Ah, é?! Então deixa. Toma". Vá um par de estaladas.
INQ1 Pois é. Os miúdos só se lembram de fazer coisas…
INF Pois. Coisas… E vê?, gosto muito de ir às túbaras! Gosto mesmo de ir às túbaras! Mas então comê-las, comendo uma vez: "Uhm, uhm, não, não quero mais. Não, não quero".
INQ1 Pois.
INF Dou-as aí às velhotas. Eu – vocês não precisam de saber, os senhores não precisam de saber nem nada disso – mas eu sou assim.
INQ1 Pois.
INF Eu sou um bocadinho traquina, às vezes, teimoso, sou assim nessas coisas, mas [pausa] tenho um coração muito muito bondoso.
INQ1 Pois.
INF Porque eu… Aí essas velhotas todas, eu tudo… Olhe, em chegando o tempo das pinhas, vou às pinhas, dou um saco ou dois de pinhas às mulheres para elas acenderem o lume em todo o ano. Por exemplos, quando eu tenho… Tenho ali uma horta, há marés que eu tenho couve, batatas… Quando chegando o tempo das batatas, arranjo um taleiguinho de batata – um saco de batatas –, vou dar aí a todas essas velhas que aí estão…
INQ1 Pois, pois.
INF Essas que são velhotas que precisam, dou.
INQ2 Pois.
INF E hortaliças. Chegando o tempo do feijão-verde – tenho sempre, semeio; a horta é grande e eu semeio [pausa] cá pelas minhas mãos, faço o trabalho pelas minhas mãos –, depois vou. Em estando no tempo do feijão, apanho uma porção de feijão, por exemplo, logo ali dois quilos, um quilo e tal a cada uma – Vá!, a esta, àquela, àquela, à outra – para mos comerem.
INQ1 Pois. Claro.
INQ2 Pois com certeza.
INF Então e eu deixo-o estragar?
INQ1 Claro, claro.
INQ2 Pois claro, pois claro.
INF Tenho alguma necessidade disso? Vender, também não engordo!
INQ1 Pois.
INQ2 Vender!
INF Não é de engordar!
INQ1 Pois.
INF Eu sou assim. Eu sonho estas coisas assim.
INQ1 Claro, tem essa…
INF E podem perguntar aí a essas pessoas todas se eu sou assim ou se eu não sou.
INQ1 Pois, pois.
INF Tenho um Sou teimoso, isso é verdade! Sempre em a coisa sendo cá para o lado do torto, não vai. Mas isso de maneira nenhuma! Mas, por bem, sou uma delícia. Pronto, está tudo dito. Está a andar. Que eu sou uma pessoa… Aqui está este homem… Está aqui este homem meu vizinho, esteve aí uma data de meses – tinha ali uma horta – doente, não tinha filhos, não tem ninguém que coiso. Deixar estragar a horta?! Eu fui lá – eu! – agarrei ali todos os dias, todos os dias ia à horta regar, apanhava feijão, apanhava tudo, e trazia, até que coitadito ele morreu. [pausa] Pronto! E a mulher ainda hoje [vocalização] estima-me aí que é uma maravilha!
INQ2 Pois claro.
INQ1 Pois.
INQ2 Pois.
INF E eu estimo-a também.
INQ1 Pois, pois.
INF E ainda é cá uma minha parenta.
INQ2 Gabriela, eu acho que é bom a gente parar.
INF1 A mãe dela era prima direita da minha mãe.
INQ2 Pois.
INQ1 Pois.
INF Ainda hoje somos parentes. Tratamos por parentes. Mas eu aqui… Muitas coisas mais que eu tenho feito! [vocalização] Pessoas que estão atrapalhadas e eu ajudo aquilo que eu puder. Pronto!
INQ2 Pois.
INQ1 Pois.
INQ2 Pois. Pois claro.
INF Ajudo aquilo que eu puder. Pronto! O que é que quer que eu faça? Sou assim.