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MIN07

São Lourenço da Montaria, excerto 7

LocationSão Lourenço da Montaria (Viana do Castelo, Viana do Castelo)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Anselmina
SurveyALEPG
Survey year1981
Interviewer(s)Gabriela Vitorino João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo, Ana Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INF Não fiquei cansada nada! De quê? De estar sentada? [vocalização] Ou de falar? Isso falar foi sempre o costume de falar, [pausa] não ? Eu tenho ali o o meu irmão, que está numa casa também ali à frente, e hoje a cunhada viu a a minha rapariga, disse: "Ó Antónia! O [vocalização] padrinho viu aquela carrinha [vocalização] ali, que gente era"? a carrinha ali. [vocalização] Ele a Antónia contou-lhe, a minha filha contou-lhe. "Ai Jesus"! Ela é assim muito "Olha se é gente se são ladrões [vocalização] que andam a ver" Diz-lhe a Antónia: "Ó [vocalização] madrinha Antonieta, não diga uma coisa dessas. Você se os visse falar" Mas é. É porque ela é muito desconfiada, sabe? Eu [pausa] nunca desconfio de nada. Nem, nem E bondava olhar para vocês. [vocalização] As Conhece-se bem Conhece-se bem a gente! [vocalização] Porque ela é um bocadinho

INQ O seu filho mora ali senhora Anselmina?

INF ?

INQ O filho da senhora mora ali?

INF Mora ali à frente.

INQ E trabalha aqui também?

INF Não, não. O meu filho não trabalha. O meu filho é o tais que tem ali a casa nova Tenho um irmão que tem a casa dele ali adiante, também, e a cunhada. E o meu filho inté ainda não tem o lugar fechado. Esse é que é o sargento. Está na Madeira agora. É sargento de do exército.

INQ2 Do exército?

INF É, é esse. Esse também está com um bom ordenado: está com [pausa] vinte contos, ou vinte e tal. Agora tira mais porque foi [vocalização] Mudou-se para a Foi para a Madeira uns meses [pausa] porque senão tinha de se mudar Ele tinha de sair do Porto uns di- uns meses, não era? Se não fosse para a Madeira Porque ele viveu muito tempo na Madeira. Foi acabar a tropa à Madeira,quando serviu a tropa. E depois ficou a trabalhar também trabalha de de carpinteiro , ficou a trabalhar. Bom, namorou uma rapariga, casou , não é? Casou, inté nem me mandou dizer nada nem Eu, às vezes, escrevia-lhe , e nem nem mandava dizer Às vezes, eu digo: "Eu queria ter uma pessoa de de conhecimento na Madeira para saber a tua vida", não é? Porque, claro, estava, não me ajudava nada porque acabou a tropa e não ajudava nadinha E eu sabe Deus aqui! É que tive a minha falecida mãe ainda na cama cinco meses, quase os seis E [vocalização] sabe Deus como se a gente via, não é? E ele nada. Não Não me contava nadinha. Escrevia era tr-r-r. passado tempo é que soube, então. ele tinha três filhos: duas rapariguinhas gé- gémeas são as mais velhas, essas têm quinze anos, são umas moças e um rapazito [pausa] que agora tem-no também no seminário, em [vocalização] Braga, a estudar. E logo teve outra rapariguinha mais nova que essa tem-na no Porto, no colégio no Porto. Pô-los todos assim, coitadinhos, [vocalização] estão. Ele logo veio para . A vida é assim. Veio para tocou-lhe a vir para o Porto. Ele no Porto, a mulher ficou com os filhos Adiante teve de ir para Angola que foi no tempo que Angola estava que teve de ir para alá também , foi promovido para , pediu-me se aceitava aqui a mulher e os filhos. Eu disse-lhe que sim. Tinha de desocupar a [vocalização] a casa na Madeira, que era do do exército. Adiante veio-me a mulher trazer as três meninas e o menino deixou-o . Eh, que tinha de ir outra vez que o menino tinha de ser operado à garganta, as anginas, não sei o quê. Digo eu ela chamava-se Antonina , digo: "Ó Antonina, você escreva-me que eu quero saber como o menino está". "Eh, não tenha medo, é ao chegar ". Escreveram-me os senhores? Assim me ela escreveu. "Mas você quando quando escrever ao Antero" que ele o [vocalização] o apelido do meu filho é, [pausa] é é Cirano Antero "quando escrever ao Antero não não lhe diga que eu que tornei para a Madeira". Eu, ele escreveu, eu escrevi-lhe e mandei-lhe dizer que tinha chegado a Antonina com os meninos; não lhe expliquei mais nada. [vocalização] Adiante me ele responde à carta. Diz: "Minha mãe, mandou-me dizer que a Antonina tinha chegado com os meninos. Mas eu tive carta da Madeira donde me disseram que ela que andava a passear. Mande-me dizer se levou os filhos, se deixou, se levou os míudos ou deixou-os consigo. Conte-me a verdade"! Diz: "Porque eu" Ele tinha estado no Porto [vocalização] meio ano que estava aqui no Porto e ela estava . Diz: "Porque eu estou [pausa] Ela abandonou a casa da minha mãe, deixou de ser minha mulher. Qui-la tirar da lama e ela não quis". Pelos jeitos a mulherzinha [pausa] perdeu a cabeça, não se sabe, não é? Aquilo passou, [pausa] ela nunca mais se importou de escrever. Adiante diz: "Que eu hei-de buscar-lhe o [vocalização] o menino [pausa] ainda que tenha que a matar"! Ele tinha ido em Novembro, adiante em Fevereiro veio , de Angola, pediu férias e veio . Foi à Madeira, foi buscar o filho. Denunciou-a num jornal, pôs-lhe a fotografia dela num jornal. Pronto, abandonou-a, [pausa] não é? Veio para acá, aqui andou. [pausa] E ela, coitada, logo chegou a pontos Porque logo a vida é assim: se viu, [pausa] sem ver a família, sem ver marido, sem ver os filhos, [pausa] tomou veneno e matou-se. Veja [pausa] o desespero dela [pausa] depois.

INQ1 Coitada!

INF Ao fim de um ano! [pausa] Ele, que veio, casou segunda vez com uma rapariguinha. Fez agora vinte e cinco anos, a rapariga. Ele tem trinta e nove. [pausa] E ela tinha um [pausa] Quando casou, ela ainda não tinha inté vinte e um ano, mas ela tinha uma rapariguinha. Que a rapariguinha tem Ela teve a rapariga tinha dezasseis a- dezassete anos. Casou com essa rapariga [pausa] coitada. Enfim, uma rapariga nova. [vocalização] Trabalha no no tais quartel amais a mãe. Mas, [pausa] que, que está, miúda Agora parece que que vai ter bebé. E os filhos dele tive de os pôr cada um para o seu lado. Eu dá-me muita pena, que isto é que é verdade. É os senhores, o senhor é [vocalização] e assim, mas um

INQ1 Pois.

INF Um pai faz muita falta a uns filhos, mas uma mãe!

INQ2 Também faz!

INF Olhe que eu criei-lhe aqui as fi- os fi-. Estiveram aqui comigo os meninos todos. Estiveram cinco anos e eu dava-me lembrava-me tanto, digo: "Ora estas meninas, se tivessem a mãe" Agora mesmo, se tivessem a mãe delas Eu bem sei que as duas são umas moçotas [vocalização] Uma está na Espanha, é, na Espanha com uma minha prima; e [vocalização] outra [pausa] está [vocalização] Foi [vocalização] aprender um bocadinho, a ver se aprende um bocado de costura, mas ajudar a trabalhar, primeiro, a fazer as limpezas de casa, para umas senhoras que têm ali ao lado de Viana, também ali em Outeiro do Chão, acima de Perrocos vocês [vocalização]

INQ2 Na serra

INF Pois foi para onde ela foi. Para foi.

INQ2 Tem que ser.

INF E o rapazinho está em Braga. A outra está no Porto [pausa] a mais novinha Tem do- Ainda não tem doze anos E a vida é assim, sabe.

INQ1 É assim.

INF Que havemos de fazer, não é?

INQ2 Tem que ser.

INQ1 Pois.

INF Cresceu-lhes os filhos, cada um está por si. E o outro está casado, tem a mulher na França, está na França. Também [vocalização] está a fazer casa à frente. Tem casa nova também à frente, para . E eu, a casa, esta é para mim, para enquanto vivo, e logo para as filhas.

INQ1 Claro.

INF A vida é assim! Tem que ser!


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